Matérias-primas argilosas da cerâmica tipo Vitalino: caracterização e origem das reservas

Resumo

A cidade de Caruaru – PE tornou-se mundialmente conhecida através da arte cerâmica “tipo Vitalino”, cujos seguidores sustentam seu legado artístico há várias décadas. Atualmente, a matéria-prima utilizada provém de depósitos aluvionares do rio Ipojuca que passa na localidade Alto do Moura, na vizinhança de Caruaru. Inspeções geológicas nos sítios de explotação e análises granulométricas indicam que os depósitos são aluvionares, síltico-argilosos, sedimentados durante enchentes circunstanciais, por transbordamento da calha fluvial sobre estreitas áreas de floodplain marginais. A matéria-prima, originalmente pedogênica, provém de influxos pluviais na bacia hidrográfica, implantada em domínios proterozóicos. Análises químicas sobre produtos beneficiados e análises mineralógicas (DRX de frações ≤ 2 μm) demonstraram que, apesar da blendagem com matérias-primas de melhor qualidade, o aproveitamento médio das reservas mineiras para fins cerâmicos é de 70%, e que a presença de argilominerais (essencialmente caulinita/ilita) nos produtos beneficiados variou entre 44,6 - 57,3 %. A concentração de argilominerais durante o beneficiamento para comercialização dos produtos é determinante para assegurar a necessária resposta cerâmica na calcinação final. Entretanto, não se observou perfeita correlação entre produtos com maior participação de argilominerais e as qualificações localmente conhecidas na comercialização, sendo possível que os melhores produtos estejam relacionados a uma maior presença de particulados coloidais neles contidos. Um primeiro cenário envolvendo usuários ceramistas locais, em relação às suas expectativas de consumo médio, e em relação às reservas legalmente comprometidas por concessão provisória do DNPM, indica que estas atividades poderão entrar em séria crise de provimento de matérias-primas argilosas em uma década.