Roteiro de Paris, Texas, de Sam Shepard: da narrativa clássica ao drama moderno
Palavras-chave:
Narrativa, Roteiro, Comédia, Tragédia, Romance.Resumo
A pesquisa focaliza a relação fundamental entre cinema e literatura. Entendendo que as formas miméticas organizam a realidade, percebemos que a narrativa clássica, forma primordial da narrativa cinematográfica e que perdura até hoje no cinema representativo-industrial, não é alheia à tradição literária, tampouco nasce com a invenção do cinema, mas é uma herança da comédia aristotélica, cujo herói é o modelo da epopeia grega, o qual sobreviveu na literatura popular e teve, no cinema, o retorno à sua consagração. Tal configuração, fruto de uma visão cômica do mundo, diz respeito à integração total entre herói e sociedade, reconciliando a antítese, em um mundo no qual desejo interior e circunstância externa coincidem, pois, o herói, signo de uma coletividade, é a medida de todas as coisas e corresponde à satisfação do espectador. A narrativa moderna, por sua vez, herda uma visão trágica do mundo, cujo herói é o demoníaco, o anti-herói romanesco, a margem de seu tempo, pois a alma não corresponde mais ao tamanho da jornada. Como objeto de análise, elencamos Paris, Texas (de Sam Shepard), no qual notamos traços latentes dessa estrutura de narrativa e herói, sob a égide da separação entre sujeito e objeto. Assim, como resultado, percebemos que a relação entre literatura e cinema vai além da adaptação, mas um gênero mimético possibilitou as formas narrativas do outro, uma vez que as estruturas do drama moderno, no cinema, avizinham-se com a forma do romance e do drama, e nisso jaz a intersecção fundamental entre ambas as artes.
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