Metamuseu abissal: O Projeto Inocência de Orhan Pamuk
Palabras clave:
Orhan Pamuk, Projeto inocência, Museologia, Memória, Arte contemporâneaResumen
Pouco conhecido no Brasil, o escritor turco Orhan Pamuk (Prêmio Nobel, 2006) é autor de uma obra intersemiótica inusitada, o Projeto Inocência. Trata-se de um romance publicado em 2008, O museu da inocência; uma casa-museu homônima inaugurada em Istambul em 2012, e o catálogo ilustrado de sua exposição permanente, intitulado A inocência dos objetos. Concebidos dialogicamente ao longo de vários anos, constituem três suportes de uma mesma temática: a história de amor de Kemal e Füsun. O museu da inocência é o primeiro e único museu criado a partir da escrita de uma obra literária. O espaço tem caráter ímpar no âmbito dos museus consagrados aos autores e aos temas literários, porque não foi instalado na antiga residência de um escritor, nem tampouco foi concebido a posteriori para capitalizar o sucesso de uma obra clássica. No plano ficcional, o personagem começa a coleção fetichista de lembranças de sua amada, furtando objetos impregnados de sua aura. Colecionados no plano real pelo autor Pamuk, esses objetos são expostos na casa-museu, onde cada vitrine corresponde a um capítulo da obra. Neste artigo, damos uma breve notícia desse projeto, comentando a proposta a partir de comparações com o filme The square: a arte da discórdia (2017), do sueco Ruben Östlund; e com o conto A coleção particular (1994), do francês Georges Perec.
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