"O que adianta conhecer muita gente e no fim das contas estar sempre só?" O desafio da maternidade em tempos de Síndrome Congênita do Zika Vírus.

Autores

  • Raquel Lustosa da Costa Alves UFPE/ PPPGA
  • Soraya Resende Fleischer Universidade de Brasília

DOI:

https://doi.org/10.51359/2525-5223.2018.239316

Resumo

Três anos após o surto do Zika Vírus no Brasil diferentes impactos na população brasileira podem ser evidenciados, em especial na vida das mulheres que tiveram filhos nestas circunstâncias. Pernambuco, onde a pesquisa de campo tem sido realizada, foi o estado com mais casos de nascimentos de bebês com a Síndrome Congênita do Zika Vírus -  confirmados pelo Ministério da Saúde. Diante disso, tem-se um cenário de muitos desafios tanto por parte das instituições públicas, dos profissionais de saúde, das crianças atingidas como, e principalmente, da parte de suas cuidadoras. A existência de redes de apoio à essas famílias, composta majoritariamente por mulheres que enfrentam uma situação de vulnerabilidade social anterior à epidemia, contribui tanto para a esfera econômica quanto afetiva das “mães de micro” - como se intitulam essas mulheres em decorrência à microcefalia de seus filhos. Mas, ainda assim, a carga de tarefas direcionadas à essa mulher, seja ela mãe, avó ou tia, é instransponível. É ela a responsável pelos cuidados diários desse bebê, é ela quem enfrenta árduos trajetos nos itinerários terapêuticos e, é ela quem vivencia, juntamente a sua filha ou a seu filho, a discriminação de uma sociedade tão pouco preparada a lidar com as especificidades de um indivíduo deficiente (DINIZ, 2010). A partir da etnografia realizada com as “mães de micro” o presente trabalho busca refletir as relações de ambiguidade produzidas neste cenário; por um lado existe um sujeito se empoderando com as relações construídas através das redes de apoio, por outro lado tem se uma mãe viajante e cansada que vivencia itinerários solitários e cumpre uma agenda de tarefas dedicadas exclusivamente a um filho com demandas especificas, como nos conta uma de nossas anfitriãs: “O que adianta conhecer muita gente e no fim das contas estar sempre só?”. Neste sentido, o olhar antropológico nos ajuda a compreender como essas mulheres tem ressignificado a maternidade e, sobretudo, como a solidão tem se repercutido em suas trajetórias, tencionando a intersecsionalidade de gênero, classe, raça e deficiência.

Biografia do Autor

Raquel Lustosa da Costa Alves, UFPE/ PPPGA

Estudante, pesquisadora. Bacharel em Ciências Sociais com habilitação em Antropologia na UNB.Mestranda de Antropologia da UFPE. Atuação na linha de pesquisa Família, Gênero e Sexualidade. Interesse na área de saúde coletiva e antropologia do trabalho.

Soraya Resende Fleischer, Universidade de Brasília

Mãe, pesquisadora, professora associada do Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília. Bacharel em Ciências Sociais (UnB, 1997), Mestre em Antropologia Social (UnB, 2000), Doutora em Antropologia Social (UFRGS, 2007) e Pós-doutora em Antropologia (Universidade de Johns Hopkins, 2016). Editora executiva do Anuário Antropológico (A2), membro do Laboratório LAVIVER. Tem interesse pelos temas de saúde, adoecimento, cronicidade, sempre atenta à saúde pública, atenção primária e o SUS.

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Publicado

2019-04-29

Edição

Seção

Dossiê