(Toxi)Cidade do Aço: Infraestrutura Siderúrgica e Contestação Social em um Caso de Contaminação por Resíduos Industriais
DOI:
https://doi.org/10.51359/2525-5223.2020.247373Palavras-chave:
Justiça ambiental, Resíduos tóxicos, Siderurgia, Infraestrutura, TempoResumo
O artigo analisa o caso de contaminação do “condomínio Volta Grande IV” por resíduos industriais da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda no Sul Fluminense (RJ). A noção de “infraestrutura siderúrgica” é desenvolvida como chave de análise capaz de restituir conceitual e etnograficamente a dimensão invisível da produção siderúrgica, ao enfocar o lado residual da infraestrutura, caracterizado pela toxicidade. O objetivo do artigo é compreender as relações de poder e dinâmicas políticas engendradas pelas substâncias tóxicas na configuração de arenas de disputa em torno de seus potenciais usos e efeitos. A partir da apresentação de quatro cenários a contaminação, a controvérsia científica, o processo judicial e a arena ambiental a narrativa etnográfica adota o tempo como objeto privilegiado, discutindo as formas como temporalidades divergentes atravessam diferencialmente a infraestrutura e seus efeitos políticos na construção de estratégias corporativas e processos de contestação social, que terminam por conformar uma “política resiliente”.
Referências
ANAND, N., GUPTA, A. & APPEL, H. (eds.). 2018. The promise of infrastructure. Durham: Duke University Press.
AUYERO, J. & SWISTUN, D. 2008. “The Social Production of Toxic Uncertainty”. American Sociological Review, 73(3):357-379.
BECK, U. 2010. Sociedade de Risco: rumo a uma outra modernidade. São Paulo: Ed. 34.
BOUDIA, S. & JAS, N. (eds).2014. Powerless Science?: Science and Politics in a Toxic World. New York: Berghahn Books.
BOWKER, G. 1994. Science on the run: Information management and industrial geophysics at Schlumberger. Cambridge, MA: MIT Press.
BRÍGIDA, I. 2015. Conflitos socioambientais em Volta Redonda: o caso Volta Grande IV. Dissertação de Mestrado. Niterói: Universidade Federal Fluminense.
BRONZ, D. 2016. Nos Bastidores do Licenciamento Ambiental. Uma etnografia das práticas empresariais em grandes empreendimentos. Rio de Janeiro: Contra Capa.
COSTA, C. M. L., PANDOLFI, D. & SERBIN, K. (eds.). 2001. O bispo de Volta Redonda: memórias de Dom Waldyr Calheiros. Rio de Janeiro: Ed. FGV.
DAVIES, T. 2018. “Toxic Space and Time: Slow Violence, Necropolitics, and Petrochemical Pollution”. Annals of the American Association of Geographers, 108(6):1537-1553.
DE ANGELIS, M. 2014. “Marx and primitive accumulation: The continuous character of capital’s ‘enclosures’”. The Commoner, 2:1-22.
DICKEN, P. 2001. Destroying value: environmental impacts of global production networks. Global Shift. New York: the Guilford Press.
GILLE, Z. 2010. “Actor networks, modes of production, and waste regimes: reassembling the macro-social”. Environment and Planning A, 42(5):1049-1064.
GOLDSTEIN, D. M. 2017. “Invisible harm: science, subjectivity and the things we cannot see”. Culture, Theory and Critique, 58(4):321-329.
GRAHAM, S. & MCFARLANE, C. 2015. (eds.). Infrastructural lives: urban infrastructure in context. London/ New York: Routledge/ Taylor & Francis Group.
HECHT, G. 2018. Residue. (http://somatosphere.net/2018/residue.html/; acesso 20/03/2020).
HEROD, A. et al. 2014. “Global destruction networks, labour and waste”. Journal of Economic Geography, 14(2):421–441.
HETHERINGTON, K. (ed.). 2019. Infrastructure, environment, and life in the Anthropocene. Durham: Duke University Press.
INGOLD, T. 2000. The Perception of the Environment. Essays in Livelihood, Dwelling and Skill. London/New York: Routledge.
JANEJA, M. K.; BANDAK, A. 2018. (eds.). Ethnographies of waiting: doubt, hope and uncertainty. London, UK; New York, NY, USA: Bloomsbury Academic, an imprint of Bloomsbury Publishing, Plc.
LARKIN, B. 2013. “The Politics and Poetics of Infrastructure”. Annual Review of Anthropology, 42:327-343.
LERNER, S. 2010. Sacrifice zones: the frontlines of toxic chemical exposure in the United States. Cambridge/Massachusetts: The MIT Press.
LIBOIRON, M., TIRONI, M. & CALVILLO, N. 2018. “Toxic politics: Acting in a permanently polluted world”. Social Studies of Science, 48(3):331-349.
LIMA, R. J. 2010. A Reinvenção de cidade industrial: Volta Redonda e o pós privatização da Companhia Siderúrgica Nacional. Tese de Doutorado. Rio Janeiro: UFRJ.
LIMA, R. J. 2013. “CSN e Volta Redonda: uma relação histórica de dependência e controle”. Política & Sociedade. 12(25):41-64.
LIMA, R. J. 2012. “Articulação e reorganização sociopolítica em Volta Redonda no pós-privatização da CSN”. In RAMALHO, J. R. & FORTES, A. (eds.). Desenvolvimento, trabalho e cidadania: Baixada e Sul fluminense, pp. 203-224. Rio de Janeiro: 7 Letras.
MARTINEZ, F. 2019. “Waiting Cultures, Temporal Marginality, and the Politics of Stillness”. Anthropological Journal of European Cultures, 28(2):108-127.
MCGRATH-CHAMP, S. et al. 2015. “Global destruction networks, the labour process and employment relations”. Journal of Industrial Relations, 57(4):624-640.
MILANEZ, B. & PORTO, M. 2008. “A ferro e fogo: impactos da siderurgia para o ambiente e a sociedade após a reestruturação dos anos 1990”. In Encontro Nacional da Annpas, 4. Anais eletrônicos. Brasília: Distrito Federal. (www.anppas.org.br/encontro4/cd/gt6.html>; acesso em 15/02/2020).
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL; PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO DE VOLTA REDONDA. 2012. Ação Civil Pública. Volta Redonda.
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL; PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO DE VOLTA REDONDA. 2018. Inquéritos Civis Públicos n. 08120.001452/97-04 e 1.30.010.000159/2000-29. Volta Redonda.
MURPHY, M. 2013. “Chemical Infrastructures of the St Clair River”. In JAS, N. & BOUDIA, S. (eds.): Toxicants, Health and Regulation since 1945, pp. 103-116. New York: Pickering & Chatto.
NIXON, R. 2013. Slow violence and the environmentalism of the poor. Cambridge, Mass.: Harvard Univ. Press.
OFRIAS, L. 2017. “Invisible harms, invisible profits: a theory of the incentive to contaminate”. Culture, Theory and Critique, 58(4):435-456.
OZOLINA, L. 2019. Politics of Waiting: Workfare, Post-Soviet Austerity and the Ethics of Freedom. Manchester: Manchester University Press.
PIQUET, R. 2012. “O papel da cidade-empresa na formação urbana brasileira”. Anais: Seminário de História da Cidade e do Urbanismo, 4(3):688-695.
RAMALHO, J. R. & FORTES, A. 2012. Desenvolvimento, trabalho e cidadania: Baixada e Sul Fluminense. Rio de Janeiro: 7 Letras.
RAMALHO, J. R., SANTOS, R. & LIMA, R. 2013. “Estratégias de desenvolvimento industrial e dinâmicas territoriais de contestação social e confronto político”. Sociologia e Antropologia. 3(5):175-200.
RAMALHO, J. R. 2012. “Fórum Demissão Zero: crise ação coletiva no Sul Fluminense”. In RAMALHO, J. R. & FORTES, A. (eds.). Desenvolvimento, trabalho e cidadania: Baixada e Sul fluminense, pp. 225-246. Rio de Janeiro: 7 Letras.
SANTOS, R. 2015. “Da estratégia corporativa à ação economicamente relevante: a CSN e a contestação social na mineração de ferro”. Revista Pós Ciências Sociais, 12(24):143-166.
SILVA, G. 2019. As relações entre a saúde e a exposição aos resíduos siderúrgicos: o conflito socioambiental no Volta Grande IV a partir dos seus moradores. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: FIOCRUZ/ENSP.
STAR, S. L. 1999. “The Ethnography of Infrastructure”. American Behavioral Scientist, 43(3):377-391.
STEWART, H. 2017. “Toxic landscape: Excavating a polluted world”. Archaeological Review from Cambridge, 32(2):25-37.
VEIGA, S. M. & FONSECA, I. 1990. Volta Redonda, entre o aço e as armas. Petrópolis: Vozes.
VENKATESAN, S. et al. 2018. “Attention to infrastructure offers a welcome reconfiguration of anthropological approaches to the political”. Critique of Anthropology, 38(1):3-52.
ZHOURI, A. et al. (2018). “O desastre do Rio Doce: entre as políticas de reparação e a gestão das afetações”. In ZHOURI, A. et al (eds.): Mineração: violências e resistências: um campo aberto à produção de conhecimento no Brasil, pp. 28-64. Marabá: Editorial iGuana/ ABA.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Direitos Autorais para textos publicados na Revista ANTHROPOLÓGICAS são do autor, com direitos de primeira publicação para a revista.
Authors retain the copyright and full publishing rights without restrictions.