Sinopse:

A formação do bairro da Liberdade (São Luís/Maranhão) se deu, como é comum dos subúrbios da cidade, a partir do êxodo rural, pela ocupação dos espaços em torno de fábricas e pelo fluxo de embarque e desembarque de pessoas e matéria-prima vindos do interior, através dos pequenos portos nas margens do rio Anil (Assunção, 2017, p. 25-26). Grande parte dos moradores deste bairro é descendente de africanos vindos da Baixada Maranhense. Com a construção do Centro de Lançamento de Alcântara, muitos moradores da região, oriundos de comunidades quilombolas, foram expulsos de suas terras, acabando por migrar também para o bairro da Liberdade, que completou em 2018, um século de fundação (a partir da lei Municipal nº 1.749, de 17 de maio de 1967).

Esses fatores contribuíram para que o bairro se tornasse o maior conglomerado urbano de população negra na cidade (Santos, 2003). Por essa razão e a partir de lutas de movimentos sociais, torna-se, juntamente com outros dois bairros do entorno, o primeiro Quilombo Urbano do estado do Maranhão e o maior quilombo urbano do Brasil.

As diferenças relacionadas a fatores de classe e raciais, as desigualdades e formas de exclusão também são observadas em espaços e equipamentos públicos lúdicos dedicados às infâncias na cidade de São Luís. No quilombo da Liberdade, esses ambientes refletem o descaso do poder público: são centralizados, não sendo facilmente acessados ao conjunto da população do Bairro, encontram-se em péssimas condições de manutenção e diferem-se estética e formalmente dos espaços lúdicos das áreas com metros quadrado mais caros da cidade. São equipamentos padronizados, pouco desafiadores, “formatados e estruturados”, “domesticados e normalizados” em que “rapidamente as crianças esgotam a sua capacidade de exploração” (NETO, 2020, p. 186).

Este ensaio fotoetnográfico é oriundo de um experimento social realizado com crianças no bairro da Liberdade, por meio de oficina de fotografia, visita de campo guiada pelas crianças, jogos de imaginação de cenários futuros, expressão por meio do desenho e desenvolvimento de maquetes. Com o olhar voltado para o brincar, o experimento objetivou fomentar a participação ativa das crianças no planejamento de espaços e equipamentos de caráter lúdico, além de trabalhar os conceitos de participação cidadã, protagonismo infantil, democracia, sustentabilidade, direito à cidade e direto de brincar na cidade. O ensaio retratou a situação do bairro e a percepção das crianças sobre seu lugar de brincadeira, durante o experimento.

Sinopsis:

La formación del barrio Liberdade (São Luís/Maranhão) ocurrió, como es común en los suburbios de la ciudad, a partir del éxodo rural, por la ocupación de espacios alrededor de las fábricas y el flujo de embarque y desembarque de personas y materias primas del interior, a través de los pequeños puertos en las márgenes del río Anil (Assunção, 2017, p. 25-26). La mayoría de los residentes de este barrio son descendientes de africanos procedentes de la Baixada Maranhense. Con la construcción del Centro de Lanzamiento de Alcântara, muchos residentes de la región, de comunidades quilombolas, fueron expulsados de sus tierras, eventualmente migrando también al barrio de Liberdade, que completó en 2018, un siglo de fundación (a partir de la ley Municipal N º 1749 del 17 de mayo de 1967).

Estos factores contribuyeron a que el barrio se convirtiera en el mayor conglomerado urbano de población negra de la ciudad (Santos, 2003). Por este motivo y a partir de las luchas de los movimientos sociales, se convirtió, junto con otros dos barrios de los alrededores, en el primer quilombo urbano del estado de Maranhão y en el mayor quilombo urbano de Brasil.

Las diferencias relacionadas con factores de clase y raza, desigualdades y formas de exclusión también se observan en los espacios públicos de juego y en las instalaciones dedicadas a la infancia en la ciudad de São Luís. En el Quilombo da Liberdade, estos entornos reflejan el abandono por parte de los poderes públicos: están centralizados, no siendo de fácil acceso para toda la población del barrio, se encuentran en pésimas condiciones de mantenimiento y difieren estética y formalmente de los espacios de juego de las zonas más caras de la ciudad. Son equipamientos estandarizados, poco desafiantes, "formateados y estructurados", "domesticados y normalizados" en los que "los niños agotan rápidamente su capacidad de exploración" (NETO, 2020, p. 186).

Este ensayo foto-etnográfico surge de un experimento social realizado con niños del barrio de Liberdade, a través de un taller de fotografía, una visita de campo guiada por los niños, juegos de imaginación de escenarios futuros, expresión a través del dibujo y elaboración de maquetas. Con la mirada puesta en el juego, el experimento pretendía fomentar la participación activa de los niños en la planificación de espacios y equipamientos de carácter lúdico, además de trabajar los conceptos de participación ciudadana, protagonismo infantil, democracia, sostenibilidad, derecho a la ciudad y derecho a jugar en la ciudad. El ensayo retrata la situación del barrio y la percepción de los niños de su lugar de recreo durante el experimento.

LEGENDAS:

Primeira foto: O bairro da liberdade é um dos bairros mais antigos da cidade de São Luís. É composto majoritariamente por pessoas negras mais próximas da linha da pobreza. Mesmo sendo uma localidade de reconhecida riqueza histórica e cultural, apreciada por intelectuais, artistas e pessoas de classe média da cidade, carrega o estigma de lugar perigoso. Outros estigmas, resultantes dos processos e dinâmicas de crescimento da cidade, da urbanização e de outros fenômenos econômicos e sociais, também se abatem sobre esta região.

Segunda: O bairro é também conhecido por suas organizações sociais e seu ativismo. Em todo o território estão presentes manifestações de arte urbana, que são, majoritariamente, mensagens que refletem o contexto sociocultural e histórico do lugar.

Terceira: Sede da Associação dos Quilombolas Urbanos da Liberdade. Em 2009, o bairro da Liberdade, juntamente com dois outros bairros da região (Camboa e Fé em Deus), foi reconhecido pela Fundação Palmares como Quilombo Urbano da Liberdade, sendo o primeiro quilombo urbano do Maranhão e o Maior quilombo urbano do Brasil.

Quarta: O painel homenageia figuras importantes do esporte brasileiros que nasceram na liberdade, dentre elas a atleta olímpica Iziane Castro. Iziane fundou no bairro o Instituto Isiane castro, que, por meio do Projeto Liberdade com Basquete, oferece aulas do esporte para crianças em situação de vulnerabilidade social.

Quinta: Registro da visita guiada pelas crianças no contexto da pesquisa. As crianças guiaram os pesquisadores por seu bairro, apresentando-lhes os espaços dos quais se apropriam para o brincar, sendo a rua o principal ambiente, referido por elas, como lugar de brincadeira.

Sexta: Criança registrando lugares que usa para o brincar, por meio do método do photovoice. Embora sejam equipamentos de ginástica instalados para o público adulto, as crianças fazem uso destes artefatos como brinquedo. Apesar de ter havido uma preocupação, pelo poder público, com os adultos, nas proximidades destes aparelhos de ginástica não há qualquer parque infantil.

Sétima: Onde tem parquinho, a gente tá. A. G. (10 anos), criança moradora do Bairro da Liberdade/São Luís/Ma – Brasil. É possível perceber que os espaços e equipamentos lúdicos do bairro têm características estético-formais simples face as ofertas atuais de equipamentos para este fim. Esse tipo de ambiente é pouco projetado, uma vez que a aquisição se dá por meio de modelos pré-prontos disponíveis por catálogo. Resultam em artefatos pouco desafiadores, cuja ação do brincar é pré-formatada.

Oitava: O balanço apresenta-se sem condições de uso, uma vez que a estrutura encontra-se danificada pela ação do tempo. O mobiliário lúdico foi enferrujado pelo salitre que, uma vez quebrado, perdeu a função para a qual foi projetado.

Nona: A imagem do brinquedo quebrado reflete a falta de planejamento e manutenção desses espaços, que fica clara no depoimento de uma das crianças: Brinquedo de ferro perto da maré, salitre come. A. C. (10 anos), criança moradora do Bairro da Liberdade/São Luís/Ma – Brasil.

Décima: A rampa de skate construída pelo poder público no bairro serve, alternativamente, como espaço de experimentações. A gente não tem skate! Eles constroem a pista, mas não dão skate. Aqui nunca ninguém anda de skate.

Décima primeira: Na ausência de espaços lúdicos adequados de lazer e brincadeira, a comunidade apropripia-se do território, qualificando-o, construindo seus lugares segunda as suas necessidades, tal como este campo de futebol.

Décima segunda: Durante a oficina de imaginação de futuros, as crianças expressaram, por meio do desenho, seus anseios e necessidades para o fomento da brincadeira em seu bairro. É perceptível o desejo por espaço que de fato funcione, como um balanço que não esteja danificado, como mostra o desenho de uma das crianças.

Palavras-chave:

Infâncias; experimento social; brincar; margens urbanas; quilombo urbano; direito à cidade.

Palabras clave:

Infâncias; experimento social; brincar; margens urbanas; quilombo urbano; direito à cidade.

Ficha técnica:

Autora: Camila Andrade dos Santos.

Direção, pesquisa e edição: Camila Andrade dos Santos.

Ficha técnica:

Autora:Camila Andrade dos Santos.

dirección, investigación y edición: Camila Andrade dos Santos.