Sinopse:

Este trabalho descreve uma experiência coletiva que vivemos em março de 2023 na cidade de Salvador, Bahia. Nos encontramos na cidade de Salvador no contexto do encontro “Comunidades de Pesquisa, Comunidades de Prática. Rumo a uma Transdisciplinaridade Transformadora”. Este foi organizado pelo Grupo de Conhecimento, Tecnologia e Inovação (KTI) da Universidade de Wageningen e pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Estudos Interdisciplinares e Transdisciplinares em Ecologia e Evolução (INCT IN-TREE) da Universidade Federal da Bahia. Diversas comunidades foram convidadas para discutir potencialidades e limitações da pesquisa colaborativa com acadêmicos, incluindo os Mebengokré da Terra Indígena Trincheira-Bacajá.

Esta foi a primeira vez que tivemos a oportunidade de visitar juntos um lugar fora da região da Terra Indígena. Passamos alguns dias em Salvador para o evento na UFBA e outros dias visitando a comunidade pesqueira de Siribinha, no norte do estado. Esta foi a oportunidade para nós, dois Mebengokré e um antropólogo italiano, refletirmos sobre a experiência de conhecer um novo lugar e como nos reportamos às pessoas que ali encontramos. Foi a oportunidade de vivenciar e discutir o funcionamento da antropologia, a “imprevisibilidade” (Strathern, 2005) que esta prática nos permite encontrar, e a “curiosidade” (Bollettin, 2021) que mobilizamos neste esforço de encontro com lugares e pessoas. Nessa ocasião, aprofundamos a importância do “fazer juntos” como atividade epistemológica e política, tal como propõe Primo dos Santos Soares (2022). Muitos novos lugares e pessoas moldaram a experiência, o que nos permite produzir uma reflexão sobre como nossas perspectivas amazônica e italiana afetaram e foram afetadas pelo coletivo e pelos lugares na Bahia.

Relatar essa experiência com imagens tem duplo propósito. Uma delas é apresentar a cidade de Salvador sob o ponto de vista Mebengokré, afetando assim o “fazer etnográfico” (Bollettin, 2023), ao multiplicar as perspectivas sobre a cidade de Salvador. Outra é focar nas imagens como instrumento para evocar (Caiuby Novaes, 2021) experiências coletivas e assim fortalecê-las (Xikrin e Bollettin, 2022). Esta experiência partilhada tem sido vivida através da presença física no local, através da “ocupação” Mebengokré dos espaços da cidade, apropriando-se deles. Nesse sentido, as imagens aqui apresentadas destacam a associação imbricada entre os corpos nos lugares, os saberes que circulam entre eles e como estes produzem e reproduzem saberes-práticas (Correa Xakriabá, 2018).

As imagens foram gravadas com nossos celulares, captando o acontecimento imediato e as impressões sensoriais incorporadas e selecionadas sucessivamente pelos dois primeiros autores. Retratam alguns momentos da semana que passamos na Bahia, na cidade de Salvador, na Universidade e na comunidade Siribinha, nos oferecendo a possibilidade de compartilhar a experiência plural que vivemos.

Sinopsis:

This work describes a collective experience that we lived in March 2023 in the city of Salvador, Bahia. We met in the city of Salvador in the context of the meeting “Communities of Research, Communities of Practice. Towards a Transforming Transdisciplinarity”. This was organized by the Knowledge, Technology and Innovation Group (KTI) of Wageningen University and the National Institute of Science and Technology in Interdisciplinary and Transdisciplinary Studies in Ecology and Evolution (INCT IN-TREE) of the Federal University of Bahia. Several communities were invited to discuss potentialities and limitations of collaborative research with academics, including the Mebengokré of the Trincheira-Bacajá Indigenous Land.

This was the first time we had the opportunity to visit together a place outside the region of the Terra Indígena. We spent a few days in Salvador for the event at UFBA and other days visiting the fishing community of Siribinha, in the north of the state. This was the opportunity for us, two Mebengokré and an Italian anthropologist, to reflect on the experience of getting to know a new place and how we report to the people we meet there. It was the opportunity to experience and discuss the functioning of anthropology, the “unpredictability” (Strathern, 2005) that this practice allows us to encounter, and the “curiosity” (Bollettin, 2021) that we mobilize in this effort to encounter places and people. On that occasion, we deepen the importance of “doing together” as both an epistemological and a political activity, as proposed by Primo dos Santos Soares (2022).

Many new places and people shaped the experience, something that enables us to produce a reflection on how our Amazonian and Italian perspectives affected and were affected by the collective and the places in Bahia.

Reporting this experience with images has a double purpose. One is to present the city of Salvador from the Mebengokré point of view, thus affecting the “ethnographic doing” (Bollettin, 2023), by multiplying the perspectives on the Salvador city. Another is to focus on images as an instrument for evoking (Caiuby Novaes, 2021) collective experiences and thus strengthening them (Xikrin and Bollettin, 2022). This shared experience has been lived through the physical presence in the place, via the Mebengokré “occupation” of the spaces of the city, thus appropriating them. In this sense, the images presented here highlight the intermingled association between bodies in the places, knowledges circulating among them and how these produced and reproduced knowledge-practice (Correa Xakriabá, 2018).

The images have been recorded with our cell phones, catching the immediate event and the embodied sensory impressions and successively selected by the first two authors. They portray some moments of the week we spent in Bahia, in the city of Salvador, at the University and in the Siribinha community, offering us the possibility to share the plural experience we had.

Palavras-chave:

Experiência; MEBENGOKRÉ; Bahia.

KeyWords:

Experiência; MEBENGOKRÉ; Bahia.

Ficha técnica:

Autores: Bepky Xikrin; Katoprore Xikrin e Paride Bollettin.

Direção, pesquisa e edição: Bepky Xikrin; Katoprore Xikrin e Paride Bollettin.

Ficha técnica:

Authors: Bepky Xikrin; Katoprore Xikrin e Paride Bollettin.

Dicection, investigation and edition: Bepky Xikrin; Katoprore Xikrin e Paride Bollettin.

REFEÊNCIAS:

Bollettin Paride. 2021. Multispecies Curiosities and Ethnographies. Anthropologia Integra 12(2): 19-27. DOI: https://doi.org/10.5817/AI2021-2-19.

Bollettin Paride. 2023. El protagonismo indígena en la antropología contemporánea. Universidad Verdad 1(82): 30-43. DOI: https://doi.org/10.33324/uv.v1i82.639.

Caiuby Novaes, Sylvia. 2021. “Por Uma sensibilização Do Olhar – Sobre a importância Da Fotografia Na formação Do antropólogo”. GIS - Gesto, Imagem E Som - Revista De Antropologia 6(1): e-179923. https://doi.org/10.11606/issn.2525-3123.gis.2021.179923.

Correa [Xakriaba], Célia. 2018. O Barro, o Genipapo e o Giz no fazer epistemológico de Autoria Xakriabá: reativação da memória por uma educação territorializada. [Tese de Mestrado, Universidade de Brasília]. Available at: (last access on 09th August 2024): https://repositorio.unb.br/handle/10482/34103.

Primo dos Santos Soares, Ana Manoela. 2022.. A autoria coletiva e a autoetnografia: experiências em antropologia com as parentas Karipuna do Amapá. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 17(2), e20210026. https://doi.org/10.1590/2178-2547-BGOELDI-2021-0026.

Strathern, Marilyn. 2005. Anthropology and Interdisciplinarity. Art and Humanities in Higher Education 4(2): 125-135. https://doi.org/10.1177/1474022205051961.

Xikrin Bepky and Bollettin Paride. 2022. Reappropriating the Trincheira-Bacaja Indigenous Land. Visual Ethnography 11(1): 149-162. DOI: http://dx.doi.org/10.12835/ve2022.1-109.

<