Sinopse:

Este ensaio se propõe a tecer reflexões sobre o cuidado para além das dicotomias trabalho x afeto, mergulhando nas complexidades do cotidiano através de seu caráter disruptivo (Bellacasa, 2023). Aqui, apresentamos os distintos modos de cuidar das benzedeiras do Território da Serra dos Paus Dóias, fruto de um trabalho de campo de cunho etnográfico realizado entre os meses de julho e dezembro de 2023, no Município de Exu, Pernambuco.

A partir do conceito de cuidado (Bellacasa, 2023), as imagens capturadas durante o campo revelam um território entrelaçado por práticas de cuidado humano e outros que humanos (De la Cadena, 2018). O benzimento é apenas um dentre os diversos modos de cuidar das benzedeiras. Além do esforço físico para realizar um “trabalho de cuidado” cotidiano que está por trás das práticas de cura como levar sol quente na cabeça enquanto trabalha a terra e cultiva seus “remédios do mato” no quintal.

No interior do Estado de Pernambuco, região do semiárido nordestino, fica o Território da Serra dos Paus Dóias, zona rural do município de Exu. Lá vivem cerca de 100 famílias. O bioma predominante na região é a Caatinga com algumas características do Cerrado e da Mata Atlântica, o que faz com que tenha uma enorme diversidade de espécies de plantas.

O mundo das benzedeiras é prenhe de materialidades, energias e manifestações sobrenaturais, que exigem cuidado. Seus modos de cuidar vão além do ato de benzimento; incluem chás, lambedores, remédios do mato, trocas de energia e afeto. Entretanto, como destaca Bellacasa (2023), o cuidado não é algo apenas harmônico, ele pode ser atingido por interferências negativas, seria o caráter disruptivo do cuidado (Bellacasa, 2023). O cuidado pode envolver situações nem sempre agradáveis como ter que lidar com “reclamações” de entidades supranaturais, por exemplo, e absorver as dores físicas e emocionais do outro.

É no quintal onde acontecem as experimentações de cura, as práticas de cuidado cotidianas, é onde as benzedeiras praticam o seu saber fazer, onde as crianças aprendem a fazer tudo (Santos, 2023). Para Bispo (2023) o quintal é a parte mais importante de uma casa. É onde elas buscam lenha para cozinhar a comida da família, plantam o feijão, a macaxeira, o milho, trocam mudas e experiências. O cuidado das benzedeiras se estende para o período após o benzo, é presente e futuro, é quintal e cozinha.

Cuidado coletivo e o autocuidado são dimensões importantes dos modos de cuidar das benzedeiras. Coletivo aqui quer dizer que o cuidado do outro é também o cuidado de si, e que a teia de relacionalidade possibilita um cuidado coletivo onde todos cuidam de todos.

Os modos de cuidar das benzedeiras também envolvem preparar a terra, adubar o solo para plantar algumas ervas no quintal como arruda e alecrim. Envolvem carregar um carinho de mão cheio de esterco de um lado para o outro embaixo de sol quente; trabalhar na roça, especialmente no semiárido é lidar com espécies espinhosas. No meio desse processo ainda param para benzer quem precisa e brincar com as crianças.

A resistência desses ritos e modos de cuidar falam de uma contracolonialidade (Santos, 2015) que não se deixa “domesticar” e que não se afasta do mundo sensível. E falam de modos de se relacionar que envolvem não apenas um “trabalho de cuidado”, mas também afetos e tensões.

Sinopsis:

Este ensayo se propone tejer reflexiones sobre el cuidado más allá de las dicotomías trabajo/afecto, sumergiéndose en las complejidades de la cotidianidad a través de su carácter disruptivo (Bellacasa, 2023). Aquí, presentamos los distintos modos de cuidar de las curanderas del Territorio de la Serra dos Paus Dóias, resultado de un trabajo de campo de carácter etnográfico realizado entre los meses de julio y diciembre de 2023, en el municipio de Exu, Pernambuco.

A partir del concepto de cuidado (Bellacasa, 2023), las imágenes capturadas durante el campo revelan un territorio entrelazado por prácticas de cuidado humano y otros que humanos (De la Cadena, 2018). Santiguar es apenas una acción dentro de los modos de cuidar de las curanderas. Además del esfuerzo físico para realizar un “trabajo de cuidado” cotidiano que está por detrás de las prácticas de cura, como llevar el sol caliente en la cabeza mientras se trabaja la tierra y se cultivan los “remedios del bosque” en el jardín.

En el interior del Estado de Pernambuco, en la región semiárida del nordeste, se encuentra el Territorio de la Serra dos Paus Dóias, zona rural del municipio de Exu. Allí viven alrededor de 100 familias. El bioma predominante en la región es la Caatinga, con algunas características del Cerrado y de la Mata Atlántica, lo que hace que tenga una enorme diversidad de especies de plantas.

El mundo de las curanderas está lleno de materialidades, energías y manifestaciones sobrenaturales que exigen cuidado. Sus modos de cuidar van más allá del de santiguar; incluyen tés, jarabes, remedios en base a hierbas, manejo de energías y afectos. Sin embargo, como destaca Bellacasa (2023), el cuidado no es algo únicamente armónico; puede verse afectado por interferencias negativas, lo que se conoce como el carácter disruptivo del cuidado (Bellacasa, 2023). El cuidado puede implicar situaciones que no siempre son agradables, como tener que lidiar con "quejas" de entidades sobrenaturales, por ejemplo, y absorber el dolor físico y emocional del otro.

Es en el jardín donde ocurren las experimentaciones de cura, las prácticas cotidianas de cuidado, donde las curanderas ejercen su saber hacer y donde los niños/niñas aprenden a hacer todo (Santos, 2023). Para Bispo (2023), el jardín es la parte más importante de una casa. Es donde buscan leña para cocinar la comida de la familia, plantan frijoles, yuca y maíz, intercambian plántulas y experiencias. El cuidado de las curanderas se extiende más allá del momento del santiguar; abarca el presente y el futuro, el jardín y la cocina.

El cuidado colectivo y el autocuidado son dimensiones importantes de los modos de cuidar de las curanderas. Colectivo aquí significa que el cuidado del otro es también el cuidado de uno mismo, y que la red de relacionalidad permite un cuidado colectivo donde todos cuidan de todos.

Los modos de cuidar de las curanderas también involucran preparar la tierra, abonar el suelo para plantar algunas hierbas en el jardín, como ruda y romero. Envuelven cargar un cariño con las manos llenas de estiércol por un lado y el sol caliente en la cabeza por el otro; trabajar en el campo, especialmente en el semiárido es lidiar con especies espinosas. En el medio del proceso aun paran para santiguar a quien necesita y jugar con las niñeces.

La resistencia de estos ritos y modos de cuidar habla de una contracolonialidad (Santos, 2015) que no se deja "domesticar" y que no se aleja del mundo sensible. Habla de formas de relacionarse que implican no solo un "trabajo de cuidado", sino también afectos y tensiones.

Palavras-chave:

Cuidado; curanderas; etnografía; fotografía; antropología visual.

Palabras clave:

Cuidado; curanderas; etnografía; fotografía; antropología visual.

DE LA CADENA, Marisol. Natureza incomum: histórias do antropo-cego. Revista Do Instituto De Estudos Brasileiros,(69), 95-117, 2018.

PUIG DE LA BELLACASA, Maria; BÖSCHEMEIER, Ana Gretel Echazú; ENGEL,Cíntia; GRECO, Lucrecia; FIETZ, Helena, «O pensamento disruptivo do cuidado», Anuário Antropológico [Online], v.48 n.1 | 2023, posto online no dia 28 abril 2023, consultado o 15 outubro 2023.

URL: http://journals.openedition.org/aa/ 10539; DOI: https://doi.org/10.4000/aa.10539.

SANTOS, Antônio Bispo dos. Colonização, quilombos modos e significados. Brasília, 2015.

SANTOS, Antônio Bispo dos. A terra dá, a terra quer. Ubu editora, São Paulo, 2023.

Ficha técnica:

Autora: Camila Correia de Almeida é mestre em Ciências Sociais (CPDA/UFRRJ), doutoranda em Antropologia (UFPE), membro do Grupo de Pesquisa Gênero e Ruralidades (CPDA/UFRRJ) e do Ayé - Laboratório Interdisciplinar Natureza, Cultura e Técnica (PPGA/UFPE).

Direção, pesquisa e edição: Camila Correia de Almeida.

Local: Território da Serra dos Paus Dóias, Município de Exu- PE. Registros realizados entre os meses de julho e dezembro de 2023.

O presente trabalho foi realizado com o apoio da Coordenação de aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES).

Traducción: Paula Beatriz Becker Klavin (ps.paula.becker@gmail.com).

Ficha técnica:

Autora: Camila Correia de Almeida é mestre em Ciências Sociais (CPDA/UFRRJ), doutoranda em Antropologia (UFPE), membro do Grupo de Pesquisa Gênero e Ruralidades (CPDA/UFRRJ) e do Ayé - Laboratório Interdisciplinar Natureza, Cultura e Técnica (PPGA/UFPE).

dirección, investigación y edición: Camila Correia de Almeida.

Local/ano: Território da Serra dos Paus Dóias, Município de Exu- PE. Registros realizados entre os meses de julho e dezembro de 2023.

Financiamento: O presente trabalho foi realizado com o apoio da Coordenação de aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES).