Assimetrias e contingências na formulação do Programa Cidade Saneada
expressão local de uma tendência nacional à gestão privada
DOI:
https://doi.org/10.26848/rbgf.v18.2.p1154-1168Palavras-chave:
Esgotamento sanitário, Política pública, IncrementalismoResumo
Este artigo tem como objetivo analisar a formulação do Programa Cidade Saneada (PCS), implementado na cidade do Recife, a partir do modelo de parceria público-privada, buscando identificar como o desenho dessa política impacta a distribuição das infraestruturas de esgotamento sanitário no espaço urbano da cidade. Investiga, sob a abordagem teórica do incrementalismo no campo das políticas públicas, se a adoção de seus princípios teóricos na formulação do PCS, ao interagir com diferentes realidades sociais, econômicas e territoriais, perpassadas por diversos conflitos de interesse, contribuiu para a mitigação, manutenção ou ampliação das desigualdades socioespaciais que caracterizam estrutura urbana da cidade. Os procedimentos operacionais da pesquisa são inspirados no método de Process Tracing, aplicados sobre um conjunto de dados e informações qualitativos disponíveis sobre o caso, extraídos de documentos oficiais, dos estudos de viabilidade técnica do Programa e da produção acadêmica local. O tratamento de dados foi realizado utilizando o software QGIS, que proporcionou uma representação espacial da distribuição de infraestrutura de esgotamento sanitário no recorte analisado. Em seus resultados, o estudo apresenta evidências que demonstram forte conexão entre um histórico de investimentos em áreas privilegiadas da cidade e o desenho da política pública, afirmando os princípios incrementalistas do Programa, que se revela limitado e contraditório, em prejuízo especialmente às áreas pobres do Recife. O artigo finaliza com sugestões para estudos futuros, destacando a necessidade de se explorar em profundidade a dinâmica de causação circular caracterizada a partir do PCS e de expandir a análise para outras políticas distribuídas no território recifense.
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