Chamada para o dossiê "Gênero, Sexualidades e Raça: Práticas nas cidades, interioridades e tensionamentos regionais no Norte e Nordeste"

2023-11-06

Anunciamos a chamada para o dossiê "Gênero, Sexualidades e Raça: Práticas nas cidades, interioridades e tensionamentos regionais no Norte e Nordeste", organizado por Victor Lean do Rosário (PPGSA/UFPA), Gleidson Gomes (Flacso-Brasil) e Victoria Costa (PPGSA/UFPA) com todas as modalidades de artigo sendo aceitas até o dia 10 de Janeiro de 2024. Segue abaixo um resumo da proposta:

Resumo do dossiê "Gênero, Sexualidades e Raça: Práticas nas cidades, interioridades e tensionamentos regionais no Norte e Nordeste"

A consolidação da antropologia no Brasil evocou uma série de pesquisas que tinham influência ora francesa, inglesa e estadunidense, o que corroborou para a diversidade de análises antropológicas na segunda metade do século XX, sob o esteio da categoria cultura (Cuche, 1999). Com os estudos sobre diversidade sexual e gênero não foi diferente, uma vez que se consolidaram, a partir da formação dos programas de pós-graduação, em universidades e centros de pesquisa no eixo sul-sudeste. E, alinhada aos estudos sobre sexualidades, a antropologia urbana também surge na seara dos grandes centros urbanos (Velho, 1989; Bemerguy, 2019). O tema racial constitui o "pensamento social brasileiro" (Almeida, 2020), ora corroborando teorias racistas, ora criticando noções como a "democracia racial", impactando nas produções antropológicas quando pesquisam as/os

"outras/outros" negras/negros em território nacional (Damásio, 2021). Questionam-se, por exemplo, categorias como "morena/o" e a construção de feminilidades e masculinidades negras pautadas em visões racistas. Tal mudança de perspectiva ocorreu também por influência de organizações negras criadas em diversos âmbitos, sendo os centros urbanos um local onde essas vozes encontraram amplitude, como o Movimento Negro Unificado (MNU), criado em São Paulo na década de 1970, e o Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará - CEDENPA, fundado em Belém em 1980. Esses grupos são alguns dos agregadores de militantes e pensadores/as da negritude, com nomes que reverberam até hoje em pesquisas que versam sobre raça e sociabilidades urbanas.

O avanço antropológico que, de um lado, enfatizava os estudos no urbano e, do outro, as relações de gênero, tiveram o eixo sul-sudeste como um nacionalismo metodológico (Roy, 2007), ou seja, transformaram as análises feitas naquele contexto como um espectro que equivalesse todo o contexto brasileiro, o que secundariza regiões como o norte e nordeste na produção antropológica. Em um trabalho contemporâneo, Paulo Ferreira (2006) destaca como os corpos camponeses são tratados pela literatura científica como mecânicos, sem vida e sem prazer. O corpo camponês, casto, castrado, imaginado pela comunidade científica é tensionado pelas suas análises, onde o desejo entre os homens que se relacionam com homens tornam o cenário do desejo muito mais dinâmico. Na mesma esteira, Fabiano Gontijo e Igor Erick (2015) também apontaram as poucas análises sobre diversidade sexual e gênero fora dos grandes centros urbanos, o que desencadeou inúmeras pesquisas sobre a temática, tendo como foco a perspectiva antropológica e etnográfica (Nascimento, 2008; Souza, 2013; Erick, 2021; Rosário, 2023).

O objetivo do dossiê é debater as relações de gênero, sexualidades e questões raciais com enfoque nas regiões norte e nordeste, cujas especificidades e particularidades tornam-se instrumentos de análises e reflexões sobre as regiões. A proposta tensiona os imaginários que recaem sobre estas regiões, vistas como espaços de laboratórios de pesquisa, e não como agentes produtoras/es do conhecimento. Assim, acionamos mecanismos de análises - a partir de investigações que visem a etnografia, mas não exclusivamente - que evidenciam as regiões "de cima" como produtoras e potencializadoras de suas próprias reflexões, bem como as cidades que compõem estas redes, onde circulam diversidade sexual, expressões de gênero e diversidade racial.

Nesse sentido, incentivamos a submissão de pesquisas de pessoas localizadas nesses territórios, bem como a autoria de pesquisadoras e pesquisadores negras e negros, e a comunidade LGBTQIAPN+, que abordem em suas pesquisas temas relacionados às categorias de gênero, sexualidades, raça e as práticas nos espaços (Certeau, 2014) sejam citadinos, sejam interiorioranos.

Submeter dossiê no site da REIA, conforme as diretrizes de submissão.

PERÍODO DE SUBMISSÃO: 06/11/23 ATÉ 10/01/24