A mulher e o espelho: uma proposta intersemiótica de análise dos poemas de Cecília Meireles
Mots-clés :
Intersemiose, Poesia, Pintura, Fotografa, Cecília Meireles.Résumé
O presente trabalho tematiza a relação entre a mulher e o espelho, a partir de um contraponto entre as manifestações artísticas: poesia, pintura e fotografa. Partindo do fato de que existem distintos modos de apreender um texto plurissignificativo, se estabeleceu um contraponto intersemiótico entre os poemas Retrato (1937) e Quando meu roso contemplo (1956), escritos por Cecília Meireles, e as artes visuais, especialmente, a pintura e a fotografa. O quadro poso em análise, foi Portrait of Irene Hamoir (1936) de René Magritte; com relação à fotografa, selecionamos a obra de Barbara Kruger, You are not yourself (1981). Considerando que o espelho se destaca como elemento comum nas composições artísticas analisadas, foram adotados os estudos sobre a reflexividade especular de Anker e Dällenbach (1975); Jonssón (1995); Lacan (1996) e Bernardo (2010), associando-os às perspectivas sobre o aparecer e o parecer das imagens (BOSI, 2000) e o princípio da identidade dos contrários nas imagens poéticas (PAZ, 1976). Além disso, os pensamentos de Berger (1980) sobre a pintura e as considerações de Barthes (1984) e Benjamin (1994; 2013) sobre as particularidades do registro fotográfico também compõem o aporte teórico. Como resultado, temos a indicação de que o relacionamento entre o universo feminino e os espelhos é motivado por aspectos socioculturais que convertem a mulher em objeto de contemplação.
Références
ANKER, V.; DÄLLENBACH, L. A reflexão especular na pintura e literatura recentes. Tradução: Maria do Carmo Nino. Art Internacional vol. XIX/2, fevereiro, 1975.
ARISTÓTELES. HORÁCIO. LONGINO. A poética clássica. Tradução de Jaime Bruna. 17° reimpressão. São Paulo: Cultrix, 2014.
BARTHES, R. A câmara clara. Nota sobre a fotografa. Tradução de Júlio Castañon Guimarães. 9° impressão. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
_____. Arcimboldo ou Retórico e Mágico. In:
BARTHES, R. O óbvio e o obtuso: ensaios críticos III. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1990, p.117-134.
BENJAMIN, W. Magia e Técnica, Arte e Política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994. Obras Escolhidas v. 1.
_____. A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica. Porto Alegre: L&PM, 2013.
BERGER, J. Modos de veR. Lisboa: Edições 70, 1980.
BERNARDO, G. O livro da metaficção. Rio de Janeiro: Tinta Negra, 2010.
BLIKSTEIN, I. Kaspar Hauser ou a fabricação da realidade. São Paulo: Cultrix, 2003.
BOSI, A. O ser e o tempo da poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
BRADLEY, Sister Ritamary. Backgrounds of the Title Speculum in Mediaeval Literature. In: Speculum: a journal of mediaeval studies. Massachusetts: Cambridge, 1954.
CANDIDO, A. Vários escritos. São Paulo: Duas Cidades, 1995.
COSSON, R. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2016.
DIDI-HUBERMAN. Quando as imagens tocam o real. In: Pós Belo Horizonte.V. 2, n. 4, p.204-219, nov. 2012.
HORÁCIO. Arte poética. Intr., trad. e notas de R. M. Rosado Fernandes. Lisboa: Calouse Gulbenkian, 2012.
JÓNSSON, Einar Már. Le Miroir: naissance d’un genre littéraire. Paris: Les Belles Lettres, 1995.
KRUGER, Barbara. Untitle (You are not yourself). Montagem fotográfica, p&b., Altura: 842 pixels. Largura: 634 pixels. 288 Kb. Formato JPEG. Disponível em: <https://theartsack.com/artist/barbara-kruger/unknown-51057>. Acesso em: 19 set. 2018.
LACAN, J. Le stade du miroir comme formateur da la foncion du Je. In: Écrits. Paris: Seuil, 1966d.
MAGRITTE, R. Portrait d’ Irène Hamoir. 1936, óleo sobre tela, 55x70, col. Louis Scutenaire, Bruxelas.
MEIRELES, Cecília. Antologia Poética. São Paulo: Global, 2013.
PAZ, O. Signos em rotação. São Paulo: Perspectiva, 1976.
SALES, L.S. Posição do estágio do espelho na teoria lacaniana do imaginário, in: Revisa do Departamento de Psicologia - UFF, v. 17 - no 1, p. 113-127, Jan./Jun. 2005.