Rever os cantos: uma leitura intersemiótica entre Brígida Baltar e Manoel de Barros
Parole chiave:
Poesia, Artes visuais, Abrigo, Memória, Intersemiose.Abstract
Ao percorrer o espaço vigente em que a arte se aloca, percebemos que os territórios, antes com suas divisas e fronteiras bem delimitadas, sofreram abalo. Tal oscilação culminou em um novo espaço, composto de objetos vindos de outro lugar que, por sua vez, fizeram emergir um terreno híbrido e fértil, cujo artista nunca se viu tão emancipado para criação. É com essa terra que Brígida Baltar constrói seu trajeto, que resvala em obras como estudos com pó de tijolo e umidades. Para além das obras per ser, seu caminho aponta para palavras chaves como abrigo, a ideia de espaço e o lar: regiões intimistas estendem-se para outros lugares. Não tão distante do que propõe Manuel de Barros, com sua poética de memórias inventadas, sob o risco das ressignificações das palavras e contextos, ou ainda quando, de maneira jocosa, alude-nos à infância dessas mesmas palavras, dotadas de inocência e subjetividades que se lançam ao desconhecido. Nesse sentido, aproximar caminhos estéticos a princípio díspares, mas que possuem pontos nodais e stimmungs que se encontram, é o material a priori aqui proposto. Pensar acerca das afinidades poéticas que se cruzam entre artes, sem a necessidade de uma rigidez teórica que force esse encontra, pelo contrário, esse transe entre a imagem de Brígida em sua coleta na neblina, perpassa a atmosfera em que Manuel nos indica em seus versos de um apanhador de desperdícios, aquele cujo quintal é maior que o mundo.
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