Reflexões feministas sobre igualdade como uniformização e igualdade relacional
Palavras-chave:
gênero, teorias feministas, dilema igualdade-diferença, desigualdades sociais, justiça e cuidadoResumo
Uma boa parte das teorias feministas contemporâneas procura lidar com problemas clássicos das teorias políticas modernas. A questão da igualdade é, sem dúvida, um desses problemas. O presente artigo tem por intuito apresentar alguns dos elementos presentes nas discussões teóricas feministas sobre a igualdade à luz do dilema igualdade-diferença, considerado um dilema insolúvel para mulheres (e outras categorias sociais). No centro desse dilema está a questão da igualdade como uniformização (atrelada a aspectos descritivos, normativos e especulativos das teorias) e sua relação com um universalismo que exclui e nega diferenças, contribuindo para uma interpretação das identidades dos indivíduos como substâncias-essências (e próprias ao mundo privado) ao invés de processos ou relações (vivenciados tanto no público quanto no privado). A demanda é, pois, pela criação de um modelo de igualdade relacional que atrele o estudo das diferenças e da produção de desigualdades ao da igualdade. Nesse sentido, o sistema de gênero é identificado como um eficaz produtor e mantenedor de desigualdades sociais diversas, responsável pelo dilema da igualdade-diferença e atuante no sentido de tornar inócuas ou insuficientes as políticas afirmativas que visam implementar igualdade. A implementação da igualdade relacional passa, pois, pelo enfrentamento desse sistema nos diversos planos em que atua (simbólico, identitário, e nas instituições sociais, incluindo o mundo da família e das atividades de cuidado).
Referências
AGRAWAL, Anuja. Gendered Bodies: The Case of the 'Third Gender' in India. Contributions to Indian Sociology, New Series, vol. 31, nº 2, 1997, p. 273–297.
BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo (1949). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, volume único, 2009.
BRYSON, Valerie. Feminist Political Theory. An Introduction. Nova Iorque: Palgrave Macmillan, 2a ed. 2003.
EISENSTEIN, Zillah R. The female body and the law. Los Angeles/London: University of Califórnia Press, 1988.
FLAX, Jane. Thinking Fragments: Psychoanalysis, Feminism, and Postmodernism in the Contemporary West. Berkeley: University of California Press, 1990.
FINEMAN, Martha Albertson. The Illusion of Equality. The Rhetoric and Reality of Divorce Reform. Chicaco/Londres: The Chicago University Press, 1991.
FINEMAN, Martha Albertson. The Vulnerable Subject: Anchoring Equality in the Human Condition. Yale Journal of Law & Feminism, vol. 20, nº1, 2008, p. 1-23.
GILMAN, Charlotte Perkins. Our Androcentric Culture, or The Man-Made World, 1911. Disponível em: Acesso: janeiro de 2014.
GILLEY, Brian Joseph. Becoming Two-Spirit: Gay Identity and Social Acceptance in Indian Country, Lincoln: University of Nebraska Press, 2006.
GILLIGAN, Carol. Uma voz diferente. Psicologia da diferença entre homens e mulheres da infância à fase adulta. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1982.
GUBIN, Éliane et coll. (dir.), Le siècle des féminismes, Paris, L’Atelier, 2004.
GROSS, Elizabeth. “Derrida, Irigaray, and Deconstruction”, Left-Wright, Intervention, Sydney, vol. 20, 1986a.
GROSS, Elizabeth. “What is Feminist Theory?” In: PATEMAN, C. e GROSS, E. (org.). Feminist Challenges, Social and Political Theory. Boston: Northeasten University Press, 1986b.
KYMLICKA, Will. Filosofia Política Contemporânea. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
LINDEMANN, Hilde. An Invitation to Feminist Ethics. New York: McGraw Hill, 2006.
MACKINNON, Catharine. Feminism unmodified: discourses on life and law. Cambridge, Massachusetts: Harward University Press, 1987.
MINOW, Martha. Making all the difference: Inclusion, exclusion and American law. Nova Iorque e London: Cornell University Press, 1990.
NANDA, Serena. Neither Man Nor Woman: The Hijras of India, Wadsworth Publishing, 1998. Disponível em: . Acesso: maio de 2011.
OKIN, Susan Moller. Justice, gender, and the family. New York: Basic Books, 1989.
PATEMAN, Carole. O contrato Sexual (1988). Tradução de Marta Avancini. São Paulo: Paz e Terra, 1993.
PHILLIPS, Anne. De uma política de idéias a uma política de presença? Revista Estudos Feministas, Florianópolis, vol. 9, nº 1, p. 268-290, 2001. 6). Disponível em: . Acesso: 12 de abril de 2015.
ROSCOE, Will. The Zuni Man-Woman, Albuquerque: University of New Mexico Press, 1991.
RUBIN, Gayle. The Traffic in Women: Notes on the 'Political Economy' of Sex. In: REITER, Rayna R. (ed.). Toward an anthropology of women, New York: Monthly Review Press, 1975.
SCOTT, Joan Wallach. “Deconstructing Equality-Versus-Difference: Or, the Uses of Post-structuralist Theory for Feminism”, Feminist Studies, vol. 14, n. 1, 1988.
SEVENHUIJSEN, Selma. Citizenship and The Ethics of Care. Feminist Considerations on Justice, Morality and Politics. New York: Routledge, 1998.
SPADE, Joan Z. e VALENTINE, Catherine G. The kaleidoscope of gender: prisms, patterns, and possibilities. Pine Forge Press, 2008.
THORTON, Merle. “Sex Equality is Not Enough for Feminism”, In: PATEMAN, Carole e GROSZ, Elizabeth (org.), Feminist Challenges: Social and Political Theory, Boston/Sydney: Northeastern University Press/Allen & Unwin, 1986. p. 77- 98.
TONG, Rosemarie. Feminist Thought: A More Comprehensive Introduction. Westview Press, 2009.
YOUNG, Iris Marion. Justice and the Politics of Difference. Princeton: Princeton University Press, 1990.
ZERILLI, Linda. Feminist Critiques of Liberalism. In: WALL, Steve (ed.) The Cambridge Companion to Liberalism. Cambridge University Press, 2015. Disponível em: . Acesso: 06 de abril de 2015.
ZIRBEL, Ilze. O Lugar da Mulher na Antropologia Pragmática de Kant. Kant e-Prints. Campinas, Série 2, vol. 6, nº 1, p. 50 - 68, jan.- jun., 2011.
ZITA, Jacquelyn N. (ed.), “Special Issue: Third Wave Feminisms”, Hypatia, Vol. 12, No. 3, Indiana University Press, Summer, 1997.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
A Revista Perspectiva Filosófica orienta seus procedimentos de gestão de artigos conforme as diretrizes básicas formuladas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). http://www.cnpq.br/web/guest/diretrizesAutores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
Os autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, sendo o trabalho simultaneamente licenciado sob https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.pt_BR que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
Os autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista, com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista (Consultar http://opcit.eprints.org/oacitation-biblio.html).

Esta revista está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.