Nietzsche contra a mitologia da liberdade

Autores

DOI:

https://doi.org/10.51359/2357-9986.2022.256765

Palavras-chave:

psicologia moral, livre-arbítrio, Impulsos, linguagem, Nietzsche

Resumo

A crítica de Nietzsche à ideia de livre-arbítrio e suas implicações morais ocupa um lugar de destaque em sua filosofia, porque Nietzsche a tomou como pedra de toque do regime moral por ele combatido. Partindo deste ponto, encontraremos um embate original e instigante com as duas linhagens dominantes em filosofia moral à sua época – e poderíamos dizer, também à nossa – as linhagens de origem humeana e kantiana, ambas acusadas por Nietzsche de meramente elaborarem um apoio teórico para os preconceitos populares em torno da questão da liberdade. Mas mais do que um exercício refutativo das teses adversárias, o que chama atenção na crítica de Nietzsche às visões tradicionais de liberdade é sua capacidade de trazer para o centro do debate uma série de fatores até então deixados à sombra, fatores que dizem respeito à primazia dos impulsos na nossa organização psicofísica; à relação entre inconsciente e consciência; às distorções causadas pela identificação entre a esfera da subjetividade com a racionalidade; à contaminação moral da linguagem e à própria linguagem enquanto um fator de limitação da liberdade de escolha conquanto condicionante dos discursos, e portanto da autocompreensão, que o sujeito pode elaborar sobre si mesmo. Seguindo o fio da crítica de Nietzsche à moral do livre-arbítrio encontraremos algumas de suas mais inovadoras contribuições ao debate sobre agência e psicologia moral.

Biografia do Autor

Alice Medrado, Universidade Estadual de Montes Claros

Alice Medrado é bacharel, mestre e doutora em Filosofia pela FAFICH/UFMG. Defendeu, em 2021, a tese de título Liberdade e Imoralismo em Nietzsche. É professora adjunta do departamento de Filosofia da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES/MG).

Referências

BAILEY, T., Nietzsche’s modest theory of action. In KATSAFANAS, P., (org.), The Nietzschean Mind. New York: Routledge, 2018.

BERTINO, A. C., “As with Bees”? Notes on Instinct and Language in Nietzsche and Herder. in CONSTÂNCIO, J. e BRANCO, M. J. (orgs.) Nietzsche on Instinct and Language. Berlin: De Gruyter, 2011.

BORGES, J. F. M., O princípio da autonomia da vontade como garantia da moralidade em Kant. Dissertação de mestrado, UFSM, 2007. Disponível online: https://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/9141/jose%20francisco.pdf?sequence=1&isAllowed=y.

CLARK, M., DUDRICK, D., The soul of Nietzsche's Beyond Good and Evil. Cambridge University Press, 2012.

CONSTÂNCIO, J., “On Consciousness: Nietzsche’s Departure from Schopenhauer,” Nietzsche Studien 40: pp. 1–42, 2011.

GARDNER, S., Nietzsche, the self and the disunity of philosophical reason. in GEMES, K., MAY, S. (eds.), Nietzsche on freedom. Oxford University Press, 2009.

JANAWAY, C., Affect, Autonomy and the self in Nietzsche’s Project of Genealogy in GEMES, K., MAY, S. (eds.), Nietzsche on freedom. Oxford University Press, 2009.

KATSAFANAS, P., Nietzsche and Kant on the Will: Two Models of Reflective Agency. Philosophy and Phenomenological Research, 89: pp. 185-216, 2014.

KATSAFANAS, P., The Nietzschean Self – Moral Psychology, Agency, and the Conscious. Oxford University Press, 2016.

KANT, I., Fundamentação da Metafísica dos costumes. Traduçãonova com introdução e notas por Guido Antônio de Almeida. São Paulo: Discurso Editorial: Barcarolla, 2009.

KANT, I., Crítica da Razão Pura. Tradução e notas de Fernando Costa Mattos. 3ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes; Bragança Paulista, SP: Editora Universitária São Francisco, 2013.

LEITER, B., Morality in the pejorative sense: On the logic of Nietzsche's critique of morality. British Journal for the History of Philosophy: Vol. 3, No. 1, pp. 113-145, 1995.

LOPES, R. A., Ceticismo e vida contemplativa em Nietzsche. (tese de doutorado) Belo Horizonte: Banco de teses da Universidade Federal de Minas Gerais, 2008.

NIETZSCHE, F., Sobre Verdade e Mentira no Sentido Extramoral. Tradução de Fernando de Moraes Barros. São Paulo: Hedra, 2007.

NIETZSCHE, F. Humano, demasiado humano – um livro para espíritos livres. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

NIETZSCHE, F., Humano, demasiado humano II. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

NIETZSCHE, F., Aurora. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

NIETZSCHE, F., A Gaia Ciência. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

NIETZSCHE, F., Além do Bem e do Mal – prelúdio a uma filosofia do futuro. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

NIETZSCHE, F., Genealogia da Moral – Uma polêmica. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. SãoPaulo: Companhia das Letras, 1998.

NIETZSCHE, F., Crepúsculo dos Ídolos. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

NIETZSCHE, F., Kritische Studienausgabe. Ed. Giorgio Colli and Mazzino Montinari. Berlin/New York, Walter de Gruyter, 1967-88.

PAVÃO, A., O caráter insondável das ações morais em Kant. Revista Trans/Form/Ação 30 (1), 2007.

PIAZZESI, C., What We Talk About When We Talk About Emotions – Nietzsche’s Critique of Moral Language as the Shaping of a New Ethical Paradigm. In CONSTÂNCIO, J. e BRANCO, M. J. (orgs.), As The Spider Spins – Essays on Nietzsche's Critique and Use of Language. Berlin: De Gruyter, 2012.

POELLNER, P., Nietzsche and Metaphysics. New York: Oxford University Press, 1995.

RICCARDI, M., Nietzsche on the Superficiality of Consciousness. In DRIES, M. (Ed.) Nietzsche on consciousness and the embodied mind. Berlin: De Gruyter, 2018.

RICHARDSON, J., Nietzsche’s System. New York: Oxford University Press, 1996.

RICHARDSON, J., Nietzsche’s New Darwinism. New York: Oxford University Press, 2004.

SANTOS, O. A. R., Egoísmo e altruísmo nos primeiros diálogos de Nietzsche com a tradição utilitarista. Tese de Doutorado apresentada ao programa de pós-graduação em Filosofia da FAFICH/UFMG. Belo Horizonte, 2019.

SCHNEEWIND, J. B., Autonomy, obligation and virtue: An overview of Kant’s moral philosophy. In GUYER, P. (ed.), The Cambridge Companion to Kant. Cambridge: Cambridge University Press, 1999.

WILLIAMS, B., A psicologia moral minimalista de Nietzsche. Cadernos Nietzsche 29, São Paulo: 2011. Pp. 15-33.

WOTLING, P., What language do drives speak?. in CONSTÂNCIO, J. e BRANCO, M. J. (orgs.) Nietzsche on Instinct and Language. Berlin: De Gruyter, 2011.

Downloads

Publicado

2022-12-12

Edição

Seção

Dossiê “Fenomenologia, Ação, Cognição e Afetividade”