Humanos e caranguejos nos manguezais do Delta do Parnaíba: histórias da paisagem

Autor/innen

DOI:

https://doi.org/10.51359/2525-5223.2021.248380

Schlagworte:

Manguezais, Caranguejo-uçá, Ucides cordatus, Delta do Parnaíba, Etnografia multiespécie, Antropologia da paisagem

Abstract

A foz do Rio Parnaíba, situada no nordeste brasileiro entre os estado do Piauí e do Maranhão, origina o único Delta das Américas em mar aberto. Esta região apresenta uma rica sociobiodiversidade e exuberantes florestas de manguezais sujeitas a forças de simplificação e contaminação características do antropoceno. O presente artigo narra transformações ocorridas no Delta trazendo a paisagem como protagonista da narrativa a partir das malhas de relações entre caranguejos, manguezais e catadores de caranguejo (caranguejeiros).  Por meio de uma abordagem etnográfica que considera as relações entre humanos e outras formas de vida, o artigo evidencia a constituição de paisagens multiespécie frente a processos históricos, e também narrativos, que insistem em eclipsar as diversidades biológicas e culturais. Como contraponto, o artigo enfatiza a dinâmica viva e múltipla da constituição das paisagens do Delta.

Autor/innen-Biografien

Lucas Coelho Pereira, Universidade de Brasília

Antropólogo e cientista social. Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), mestre e doutorando em Antropologia pelo Programa Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade de Brasília (PPGAS/DAN/UnB). Bolsista de doutorado do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 

Pedro Castelo Branco Silveira, Fundação Joaquim Nabuco

Doutor em Ciências Sociais e Mestre em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). É pesquisador na Fundação Joaquim Nabuco, em Recife-PE.

Literaturhinweise

AB’SÁBER, Aziz. 2001. Litoral do Brasil. São Paulo: SP Produção e Comunicação.

ALEGRETTI, Mary. 2002. A construção social de políticas ambientais: Chico Mendes e o movimento dos seringueiros. Tese de Doutorado. Brasília: Universidade de Brasília.

ARAÚJO, L. et al. 2018. “Structure of a disturbed mangrove in the Rio Parnaíba Delta, Piauí, Northeast Brazil.” Feddes Repertorium, 129:75-91.

ASSAD, L. et al. 2012. Industrialização do caranguejo-uçá do delta do Parnaíba. Brasília: Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba/ Instituto Ambiental Brasil Sustentável.

BISPO, Antônio. 2015. Colonização e quilombos: modos e significados. Brasília: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa.

BRAGA, Daniel. 2016. Corp-oralidades: experiência corporal e memória de trabalhadores dos rios e dos mangues no povoado do Morros da Mariana/PI (1970-1980).Dissertação de Mestrado. Teresina: Universidade Federal do Piauí.

CARDOSO, Tiago. 2018. Paisagens em transe: ecologia da vida e cosmopolítica Pataxó no Monte Pascoal. Brasília: IEB; Mil Folhas.

CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. 2009. Cultura com aspas e outros ensaios. São Paulo: Cosac &Naify.

CAVALCANTI, Agostinho. 2004. “Análise integrada das unidades paisagísticas na planície deltaica do Rio Parnaíba-Piauí/Maranhão.” Mercator- Revista de Geografia da UFC, 3(6):105-118.

COELHO PEREIRA, Lucas. 2020. “E o Delta do Parnaíba? O perigo do petróleo cru não acabou”. Ocorre Diário. (https://ocorrediario.com/e-o-delta-do-parnaiba-o-perigo-do-petroleo-cru-nao-acabou/; acesso em 20/01/2020).

DANOWSKI, D. & VIVEIROS DE CASTRO, E. 2014. Há mundo por vir? Ensaio sobre os medos e os fins. Florianópolis: Cultura e barbárie/ Instituto Socioambiental.

DAY JR., J. W. et al. 2013. Estuarine Ecology. New Jersey: Wiley-Blackwell.

DE FRANCESCO, A. et al. 2017. “História de Ocupação do Beiradão no Médio Rio Xingu”. In MAGALHÃES, S. & CARNEIRO DA CUNHA, M. (eds.): A Expulsão de Ribeirinhos em Belo Monte: relatório da SBPC, pp.41-65. São Paulo: SBPC.

DE LA CADENA, Marisol. 2015. Earth Beings. ecologies of practice across Andean worlds. Durham: Duke University Press.

FARIAS, A. et al. 2015. Cadeia produtiva da pesca no interior do Delta do Parnaíba e área marinha adjacente. Fortaleza: Editora RDS.

FLORES, A. et al. 2004. “Organoclorados: um problema de saúde pública”. Ambiente e Sociedade, 7(2):111-124.

HARAWAY, Donna. 2003. The companion species manifesto: dogs, people and significant otherness. Chicago:Prickly Paradigm Press.

HARAWAY, Donna. 2016. “Antropoceno, Capitaloceno, Plantationoceno, Chthuluceno: fazendo parentes”. Clima Com Cultura Científica- pesquisa, jornalismo e arte, 3(5):139-146.

ICMBio, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. 2016. Plano de gestão para extração do caranguejo-uçá em Reserva Extrativista no Delta do Parnaíba. Parnaíba: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.

INGOLD, Tim. 2002. The perception of the environment: essays on livelihood, dwelling and skill. London: Routledge.

INGOLD, Tim. 2015. Estar Vivo: ensaios sobre movimento, conhecimento e descrição.Petrópolis: Editora Vozes.

KIRKSEY, S. & HELMREICH, S. 2010. “The emergence of multispecies ethnography”. Cult. Anthropol. 25(4):545–576.

LACERDA, Luiz Drude (ed.). 2002. Mangrove Ecosystems: function and management. Berlin: Springer-Verlag Berlin Heidelberg.

LEGAT, J. & LEGAT, A. 2009. “Metodologia para o transporte de caranguejo vivo com baixos índices de desperdícios”. Boletim Técnico Científico do CEPENE, Tamandaré, PE, 17(1):115-121.

LEGAT, J. et al. 2006. “Considerations about Ucides cordatus cordatus fishing in the Parnaiba River Delta region, Brazil”. Journal of Coastal Research, SI(39):1281-1283.

LEGAT, J. & PUCHNICK, A. 2003. Sustentabilidade da Pesca do Caranguejo-uçá, Ucides Cordatus,nos estados do Piauí e do Maranhão: uma visão da cadeia produtiva do Caranguejo a partir de fóruns participativos de discussão. Parnaíba: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.

LIMA, Eudes 2012. “Ictiofauna do Delta do Rio Parnaíba, litoral piauiense”. In GUZZI, A. (ed.): Biodiversidade do Delta do Parnaíba, litoral piauiense, pp.115-138. Teresina: Ed. UFPI.

LUSTOSA, Ana Helena. 2005. Práticas produtivas e (in)sustentabilidade: os catadores de caranguejo do Delta do Parnaíba. Dissertação de Mestrado. Teresina: UFPI.

MATTOS, Flávia. 2006. Reservas Morais : estudo do modo de vida de uma comunidade na Reserva Extrativista do Delta da Parnaíba. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

MILANO, Claudio. 2015. Eran bichos de siete cabezas: Una isla del Delta del Parnaíba (Brasil) en la mira de la promoción turística transnacional. Tese de Doutorado. Barcelona: Universitat Autònoma de Barcelona.

NAPOLEÃO DO REGO, Junia. 2010. Dos sertões aos mares: história dos comércios e dos comerciantes de Parnaíba (1700-1950). Tese de doutorado. Rio de Janeiro: Universidade Federal Fluminense.

SANTANA, Raimundo (ed.). 1995. Piauí: Formação. Desenvolvimento. Perspectivas. Teresina: Halley.

SANTOS, Potyguara. 2015. “Territorialidades dos programas de desenvolvimento em zonas costeiras do Nordeste brasileiro: projetos de infraestrutura de grande escala em turismo (PGE-Tur), populações tradicionais marítimas e suas ações contraprogramáticas.” Wamon -Revista dos alunos do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFAM, 1(1):13-28.

SCHAEFFER-NOVELLI, Yara. 2018. “A diversidade do ecossistema manguezal.” In Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ed.): Atlas dos Manguezais do Brasil, pp. 21-54. Brasília: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.

SCHELSKE, C. & ODUM, E P. 1962. “Mechanisms maintaining high pro-ductivity in Georgia estuaries”. Proc Gulf Caribb Fish Inst, 14:75-80.

SILVEIRA, P. et al. (2011). “Reservas extrativistas e pesca artesanal: etnografia do campo socioambiental em Pernambuco”. Relatório de Pesquisa (Facepe e Fundação Joaquim Nabuco). (www.fundaj.gov.br/index.php/pesquisas-concluidas/2010-atualmente/227-reservas-extrativistas-e-pesca-artesanal-etnografia-do-campo-socioambiental-em-pernambuco-pedro-castelo-branco0-2011; acesso em 1/9/2020).

SILVEIRA, P. & BUTI, R. 2020. “A vida e a morte dos guaiamuns: antropologia nos limites dos manguezais”. Anuário Antropológico, 45(1):117-148.

SOUTO, Francisco. 2004. A ciência que veio da lama: uma abordagem etnoecológica das relações ser humano/manguezal na comunidade pesqueira de Acupe, Santo Amaro-BA. Tese de Doutorado. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos.

STRATHERN, Marilyn. 2004. Partial connections. Oxford: Altamira Press.

TSING, Anna. 2015a. “Margens indomáveis: cogumelos como espécies companheiras.” Ilha,17(1):177-201.

TSING, Anna. 2015b. The Mushroom at the End of the World. On the possibility of life in capitalista ruins. Princeton: Princeton University Press.

TSING, Anna. 2019. Viver nas Ruínas: paisagens multiespécies no antropoceno. Brasília: IEB Mil Folhas.

ZEE do Baixo Parnaíba. 2002. Zoneamento Ecológico-Econômico do Baixo Rio Parnaíba: Subsídeos técnicos. MMA/SDS, Relatório Final, Brasília.

Veröffentlicht

2021-06-29

Ausgabe

Rubrik

Artigos