Plantando Mandioca e Criando In/Comensurabilidades
DOI:
https://doi.org/10.51359/2525-5223.2020.245317Palabras clave:
semiótica material, saber local, práticas de saber, comensurabilidade, QuilombolaResumen
O presente artigo examina a forma como a mandioca é plantada na comunidade quilombola Espírito Santo do Itá (PA) a fim de identificar momentos de conflito e negociações entre o saber tradicional, materializado na prática de cultivo local, e o saber técnico-científico, presente principalmente em cursos técnicos municipais oferecidos para os produtores da comunidade. As práticas de plantio de mandioca são examinadas seguindo uma abordagem semiótica material, extrapolando, assim, uma discussão puramente epistemológica, tornando o saber uma questão também ontológica. Nos momentos etnográficos explorados, foram identificadas três estratégias utilizadas na comunidade que contribuíram para a coexistência do saber local frente um saber técnico-científico divergente: 1. A realização de comparações no campo material e corporificado; 2. O controle dos critérios relevantes para a comparações; e 3. A criação de incomensurabilidades. Dessa forma, sugerimos que a negociação entre saberes divergentes na comunidade é marcada por articulações de padrões de in/comensurabilidade.
Citas
ASPERS, Patrik. 2015. “Performing ontology.” Social Studies of Science, 45(3):449-453.
BARAD, Karen. 2007. Meeting the University Halfway: Quantum Physics and the Entanglement of Matter and Meaning. Durham: Duke University Press.
BARAD, Karen. 2014. “Invertebrate Visions: diffractions of the brittlestar”. In KIRKSEY, E. (ed.): The Multispecies Salon, pp. 221-241. Durham: Duke University Press.
BARAD, Karen. 2017. “Performatividade pós-humanista: para entender como a matéria chega à matéria.” Vazantes, 1(1):7-34.
CALLON, Michel. 1980. “Struggles and negotiations to define what is problematic and what is not; the socio-logic of translation.” In KNORR, K. et al. (eds): The Social Process of Scientific Investigation. Sociology of the Sciences Yearbook Vol. 4, pp. 197-219. Dordrecht: Reidel Publishing Company.
CALLON, Michel. 1984. “Some Elements of a Sociology of Translation: Domestication of the Scallops and the Fishermen of St Brieuc Bay.” The Sociological Review, 32(1):196–233.
CASCUDO, Luís C. 2011. História da alimentação no Brasil. São Paulo: Global.
COSTA, Marcilene. 2010. Práticas alimentares em uma comunidade quilombola da Amazônia brasilleira. Trabalho apresentado no Seminário “Independências - Dependências – Interdependências” VI Congresso CEISAL, Toulouse, France.
COSTA, Marcilene. 2012. “Mandioca é coida de quilombola? Representações e práticas alimentares em uma comunidade quilombola da Amazônia brasileira.” Amazônica-Revista de Antropologia, 3(2):408-428.
CUSSINS, Charis. 1996. “Ontological choreography: Agency through objectification in infertility clinics.” Social Studies of Science, 26(3):575-610.
DANTAS, J. et al. 1981. Cultivo da Mandioca. Cruz das Almas, BA: Embrapa, CNPMF.
FURLANETO, F., KANTHACK, R. & ESPERANCINI, M. 2007. “Análise econômica da cultura da mandioca no médio Paranapanema, estado de São Paulo.” Informações Econômicas, 37(10):20-26.
GAD, C. & JENSEN, C. 2010. “On the Consequences of Post-ANT.” Science, Technology, & Human Values, 36(5):55-80
GOMES, Flávio S. 2015. Mocambos e Quilombos: Uma História do campesinato negro no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras.
HARAWAY, Donna. 1991. Simians, cyborgs, and women: The reinvention of nature. New York: Routledge.
HARAWAY, Donna. 1995. “Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial.” Cadernos Pagu, 5:7-41.
HARAWAY, Donna. 2003.The companion species manifesto: Dogs, people, and significant otherness. Chicago: Prickly Paradigm Press.
HARAWAY, Donna. 2008. When Species Meet.Minneapolis and London:University of Minneapolis Press.
HOLBRAAD, M. & PEDERSEN, M. 2017. The ontological turn: an anthropological exposition. Cambridge: Cambridge University Press.
HOLBRAAD, M., PEDERSEN, M. & VIVEIROS DE CASTRO, E. 2014. “The Politics of Ontology: Anthropological Positions”. Cultural Anthropology Online. (http://culanth.org/fieldsights/462-the-politics-of-ontology-anthropologicalposition; acesso em 20/04/20)
JENSEN, C. & MORITA, A. (eds.). 2019. Multiple Nature-Cultures, Diverse Anthropologies (Vol. 9). New York: Berghahn Books.
JENSEN, C. & RÖDJE, Kj. (eds.). 2010. Deleuzian intersections: Science, technology, anthropology. New York: Berghahn Books.
KOHN Eduardo. 2007. “How dogs dream: Amazonian natures and the politics of transspecies engagement.” American Ethnologist, 34(1):3-24
LATOUR, Bruno. 1987. Science in action: How to follow scientists and engineers through society. Cambridge: Harvard University Press.
LATOUR, Bruno. 1993. We have never been modern. Cambridge: Harvard University Press.
LATOUR, Bruno. 1996. “On actor-network theory: A few clarifications.” Soziale welt, 47(4):369-381.
LATOUR, Bruno. 2005. Reassembling the Social: An Introduction to Actor-Network-Theory. Oxford: Oxford University Press.
LATOUR, B. & WOOLGAR, S. 1986. Laboratory life: The construction of scientific facts. Princeton: Princeton University Press.
LAW, John. 1986. “On the Methods of Long Distance Control: Vessels, Navigation and the Portuguese Route to India.” In LAW, J. (ed.): Power, Action and Belief: a new Sociology of Knowledge? Sociological Review Monograph, 32, pp. 234-263. London: Routledge and Kegan Paul.
LAW, John. 2019. Material Semiotics. http://www.heterogeneities.net/publications/Law2019MaterialSemiotics.pdf; acesso em 20/04/20.
LAW, J. & LIEN, M. 2013. “Slippery: Field notes in empirical ontology.” Social Studies of Science, 43(3):363-378.
LEBOT Vincent. 2009. Tropical root and tuber crops: cassava, sweet potatoes, yams and aroids. Wallingford, UK: CABI.
MATTOS, P., FARIAS, A. & FERREIRA FILHO, J. R. 2006. Mandioca: o produtor pergunta, a Embrapa responde. Brasília: Embrapa Mandioca e Fruticultura.
MODESTO JÚNIOR, M. & ALVES, R. 2015. “Produção de farinha de mandioca e de farinha de tapioca no estado do pará como oportunidades de negócios para empreendedores e agricultores na amazônia.” In DENARDIN, V. & KOMARCHESKI, R. (eds.): Farinheiras do Brasil: tradição, cultura e perspectivas da produção familiar de farinha de mandioca, pp. 147-173. Matinhos: UFPR Litoral.
MODESTO JÚNIOR, M. S. et al. 2019. Sistema de produção de mandioca da comunidade quilombola de Gurupá, Pará. Belém: Embrapa Amazônia Oriental.
MOL, Annemarie. 2002. The Body Multiple: Ontology in Medical Practice. Durham: Duke University Press.
MOL, Annemarie. 2013. “Mind your plate! The ontonorms of Dutch dieting.” Social Studies of Science, 43(3):379-396.
MORAIS, Glória. 2003. “Para uma possível etnografia da comunidade do Pêga (Portalegre/RN).” Revista de Humanidades, 4(8):164-182.
BEZERRA NETO, J. M. & MACÊDO, S. 2009. “A quitanda de joana e outras histórias: os escravos e as práticas alimentares na Amazônia (séc. XIX)”. Histórica – Revista Eletrônica do Arquivo Público do Estado de São Paulo, 38:1-9.
O’DWYER, E. & CARVALHO, J. P. 2002. “Jamary dos Pretos, município de Turiaçu (MA).” In O’DWYER, E. (ed.): Quilombos: identidade étnica e territorialidade, pp. 173-212. Rio de Janeiro: Editora FGV
OLIVEIRA, Osvaldo M. 2002. “Quilombo do Laudêncio, município de São Mateus (ES).” In O’DWYER, E. (ed.): Quilombos: identidade étnica e territorialidade, pp. 141-172. Rio de Janeiro: Editora FGV.
OMURA, K. et al. 2018. The World Multiple: The Quotidian Politics of Knowing and Generating Entangled Worlds. London/ New York: Routledge.
PEDROSO JUNIOR, N., MURRIETA, R. & ADAMS, C. 2008. “A agricultura de corte e queima: um sistema em transformação.” Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, 3(2):153-174.
SANTOS, Antônio Bispo dos. 2015. Colonização, quilombos: modos e significações. Brasília: Instituto de Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa.
SILVA, C. & SILVA, M. G. 2015. “Casas de farinha: cenários de (con)vivências, saberes e práticas educativas.” In DENARDIN, V. & KOMARCHESKI, R. (eds.): Farinheiras do Brasil: tradição, cultura e perspectivas da produção familiar de farinha de mandioca, pp. 56-81. Matinhos: UFPR Litoral.
STAR, S. & GRIESEMER, J. 1989. “Institutional ecology, ‘translations’ and boundary objects: amateurs and professionals in Berkeley’s Museum of Vertebrate Zoology, 1907–39.” Social Studies of Science, 19(3):387-420.
STENGERS, Isabelle. 2005. “Introductory notes on an ecology of practices”. Cultural Studies Review, 11(1):183-196.
STENGERS, Isabelle. 2011. “Comparison as a matter of concern.” Common Knowledge, 17(1):48-63.
VAN HEUR, B., LEYDESDORFF, L. & WYATT, S. 2013. “Turning to ontology in STS? Turning to STS through ‘ontology’.” Social Studies of Science, 43(3):341-362.
VIANA, A. et al. 2000. “Effects of length in stem cutting and its planting position on cassava yield.” Acta Scientiarum, 22(4):1011-1015.
VIZOLLI, I., SANTOS, R. & MACHADO, R. 2012. “Saberes Quilombolas: um estudo no processo de produção da farinha de mandioca.” Bolema, 26(42B):589-608.
WOOLGAR, S. & LEZAUN, J. 2013. “The Wrong Bin Bag: A Turn to Ontology in Science and Technology Studies?”. Social Studies of Science, 43(3):321-340.
WOOLGAR, S. & LEZAUN, J. 2015. “Missing the (question) mark? What is a turn to ontology?”. Social Studies of Science, 45(3):462-467.
Descargas
Publicado
Número
Sección
Licencia
Direitos Autorais para textos publicados na Revista ANTHROPOLÓGICAS são do autor, com direitos de primeira publicação para a revista.
Authors retain the copyright and full publishing rights without restrictions.