As Violências das Práticas Empresariais: mineração, deslocamentos compulsórios e resistências no vale do Zambeze, Moçambique

Auteurs-es

  • Albino José Eusébio IPPUR/UFRJ

DOI :

https://doi.org/10.51359/2525-5223.2020.244418

Mots-clés :

Mineração, Megaprojetos, Deslocamentos compulsórios, Ações coletivas, Resistências, Moatize

Résumé

A instalação do megaprojeto de exploração de carvão mineral pela multinacional brasileira Vale, na Bacia Carbonífera de Moatize, região do vale do Zambeze, região central de Moçambique, transformou o distrito de Moatize num campo de deslocamentos compulsórios, violências e conflitos sociais. No presente artigo, analisa-se as diversas formas de resistência desenvolvidas pelas populações compulsoriamente deslocadas, seus repertórios, demandas e implicações sociais. Advoga-se que as ações coletivas de reivindicação social protagonizadas por essas populações, que são na sua maioria populações rurais (camponeses, oleiros), não só denunciam as práticas violentas, autoritárias e coloniais das empresas mineradoras e apresentam narrativas outras para uma reflexão crítica sobre a atual lógica de desenvolvimento em Moçambique, baseada na intensificação da exploração e exportação de commodities, como também tem a potencialidade de interferir positivamente na forma como vem se dando a expansão desenvolvimentista na região.

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Albino José Eusébio, IPPUR/UFRJ

Doutor em Sociologia e Antropologia pela UFPA. Pesquisador de Pós-doutorado no IPPUR/UFRJ. 

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Publié-e

2020-09-27

Numéro

Rubrique

Dossiê