O que Anunciam os Chifres dos Bois? Artefatos multiespecíficos na expansão da pecuária no Brasil
DOI:
https://doi.org/10.51359/2525-5223.2020.244535Palavras-chave:
bovinos, chifres, artefatos, pecuária, povos indígenasResumo
Este artigo inicia uma reflexão acerca da expansão da pecuária pelo Brasil centro-oriental empregando, para tanto, alguns artefatos produzidos no encontro entre bois e povos indígenas na região. Com o objetivo de provincializar a grande narrativa do ‘ciclo econômico do gado’, o texto argumenta pela necessidade de análises contextualmente específicas da chegada ou introdução dos bois entre distintos grupos ameríndios. Sugere, nesta linha, que a imagem do gado expulsando índios e ocupando os espaços deixados pela extinção ou fuga não corresponde à variedade de experiências de contato com a chamada ‘frente de expansão pastoril’, que podem ter incluído, por exemplo, a incorporação cerimonial desses ruminantes – ou de partes de seus corpos, como seus chifres – na forma de instrumentos musicais. Alguns desses objetos são analisados aqui, com o intuito de sustentar que qualquer investigação sobre os ambientes co-constituídos por humanos e não humanos no Brasil deve incluir as espécies exóticas introduzidas.Referências
AMARAL, Maria V. 2019. Os Ingarikó e a religião Areruya. Tese de Doutorado. Rio de Janeiro: Museu Nacional/UFRJ.
APPADURAI, Arjun (ed.). 1986. The Social Life of Things: Commodities in Cultural Perspective. Cambridge: Cambridge University Press.
AUGUSTAT. Claudia. 2013. “Extinct? Reflections on a concept”. In AUGUSTAT, C. (Ed.): Beyond Brazil: Johann Natterer and the Ethnographic Collections from the Austrian Expedition to Brazil (1817-1835), pp. 105-109. Vienna: Museum für Völkenkunde.
BALÉE, William. 1994. Footprints in the forest: Ka’apor ethnobotany – the historical ecology of plant utilization by an Amazonian people. New York: Columbia University Press.
BALÉE, William. 2013. Cultural forests of the Amazon: a historical ecology of people and their landscapes. Tuscaloosa: The University of Alabama Press.BARCELOS NETO, Aristóteles. 2002. A arte dos sonhos: uma iconografia ameríndia. Lisboa: Museu Nacional de Etnologia, Assírio & Alvim.
BASTOS DA VEIGA, J. et al. (eds.). 2004. Expansão e trajetórias da pecuária na Amazônia; Pará, Brasil. Brasília: Editora da UnB.
BERTELLI, Antonio de Pádua. 1987. Os fatos e os acontecidos com a poderosa e soberana Nação dos Índios Cavaleiros Guaycurús no Pantanal do Mato Grosso, entre os anos de 1526 até o ano de 1986. São Paulo: Uyara.
BIANCARDI, E. & SPINOLA, T. 2017. O som dos esquecidos: instrumentos musicais tradicionais indígenas – Coleção Emilia Biancardi. Salvador: Ideia no Papel.
BOGGIANI, Guido. 1975 [1892]. Os Caduveos. Belo Horizonte/ São Paulo: Editora Itatiaia/ Edusp.
BOIVIN, Nicole. 2017a. “Human and human-mediated species dispersals through time: introduction and overview”. In BOIVIN, N., CRASSARD, R. & PETRAGLIA, M. (eds.): Humans dispersals and species movement: from prehistory to the present, pp. 3-26. Cambridge: Cambridge University Press.
BOIVIN, Nicole. 2017b. “Proto-globalisation and biotic exchange in the Old World”. In BOIVIN, N., CRASSARD, R. & PETRAGLIA, M. (eds.): Humans dispersals and species movement: from prehistory to the present, pp. 349-408. Cambridge: Cambridge University Press.
BRANDÃO, Aivone. 2014. “Visual repatriation and self-representation: the case of the Bororo of Meruri”. Archiv Weltmuseum Wien, 63-64:246-257.
BUTT-COLSON, Audrey. 1973. “Inter-Tribal Trade in the Guiana Highlands”. Antropológica, 34:1-70.
CAMÊU, Helza. 1977. Introdução ao estudo da música indígena brasileira. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura, Departamento de Assuntos Culturais.
CAMPHORA, Ana Lúcia. 2017. Animais e sociedade no Brasil dos séculos XVI a XIX. Rio de Janeiro: ABRAMVET.
CAPISTRANO DE ABREU, João. 1988. Capítulos de história colonial. Belo Horizonte, São Paulo: Itatiaia, Edusp.
CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. 1978. Os mortos e os outros. São Paulo: Hucitec.
CAUVIN, Jacques. 2017. Nascimento das divindades, nascimento da agricultura: a revolução dos símbolos no Neolítico. Lisboa: Instituto Piaget.
CROSBY, Alfred. 1993. Imperialismo ecológico: a expansão biológica da Europa, 900-1900. São Paulo: Companhia das Letras.
DUARTE, E. & SILVA, M. G. (eds.). 2014. Instrumentos musicais indígenas: a arte e a Coleção Etnográfica Curt Nimuendaju do Museu Paraense Emílio Goeldi. Belém: Fundação Carlos Gomes, Museu Paraense Emílio Goeldi, Imprensa Oficial do Estado.
DURÃES, Francisco. 2016. A ‘pata do boi’ e os impactos ambientais na região do Araguaia Paraense. Jundiaí: Paco Editorial.ESCOBAR, Ticio. 2012. A belleza de los otros: arte indígena del Paraguay. Asunción: Servilibro.
FEEST, Christian. 2013. “Bororo: ‘crown jewel of Anthropology’”. In AUSGUSTAT, C. (ed.): Beyond Brazil: Johann Natterer and the Ethnographic Collections from the Austrian Expedition to Brazil (1817-1835), pp. 81-89. Vienna: Museum für Völkenkunde.
FEEST, Christian. 2014. “The ethnographic collection of Johann Natterer and the other Austrian naturalists in Brazil”. Archiv Weltmuseum Wien, 63-64:60-95.
GALINDO, Marcos. 2017. O governo das almas: a expansão colonial no país dos Tapuias (1651-1798). São Paulo: Hucitec.
GELL, Alfred. 1998. Art and agency: an anthropological approach. Oxford: Clarendon Press.
GOULART, José Alípio. 1965. O Brasil do boi e do couro. Rio de Janeiro: Edições GRD.
HARAWAY, Donna. 2008. When species meet. Minneapolis: University of Minnesota Press.
HALL, M. 2017. “Invasives, aliens, and labels long forgotten: toward a semiotics of human-mediated species movement”. In BOIVIN, N., CRASSARD, R. & PETRAGLIA, M. (eds.): Humans dispersals and species movement: from prehistory to the present, pp. 430-453. Cambridge: Cambridge University Press.
HENARE, A., HOLBRAAD, M. & WASTELL, S. (eds.). 2007. Thinking through things: theorizing artefacts ethnographically. London: Routledge.
HILL, J. & CHAUMEIL, J.-P. 2011. “Overture”. In HILL, J. & CHAUMEIL, J.-P. (eds.): Burst of breath: indigenous ritual wind instruments in Lowland South America, pp. 1-46. Lincoln: University of Nebraska Press.
IZIKOWITZ, Karl-Gustav. 1935. Musical and other sound instruments of the South American Indians: a comparative ethnographical study. Göteborg: Göteborgs Kungl. Vetenskaps- och Vitterhets-Samhälles Handlingar, XII.
KAWA, Nicholas. 2016. Amazonia in the Anthropocene: peoples, soils, plants, forests. Austin: University of Texas Press.
KOWALSKI, Andreas. 2008. Tu és quem sabe: Aukê e o mito canela de ajuda aos índios. Brasília: Paralelo 15.
LAGROU, E. & VAN VELTHEM, L. 2018. “As artes indígenas: olhares cruzados”. BIB, 87(3):133-156.
LEA, Vanessa. 2012. Riquezas intangíveis de pessoas partíveis: os Mẽbêngôkre (Kayapó) do Brasil Central. São Paulo: Edusp.
LOBATO, E. & SANTANA, G. 2014. “A classificação musicológica dos instrumentos musicais”. In DUARTE, E. & SILVA, M. G. (eds.): Instrumentos musicais indígenas: a arte e a Coleção Etnográfica Curt Nimuendaju do Museu Paraense Emílio Goeldi, pp. 37-50. Belém: Fundação Carlos Gomes, Museu Paraense Emílio Goeldi, Imprensa Oficial do Estado.
LOWIE, Robert. 1946. “The Northwestern and Central Ge”. In STEWARD, J. (ed.): Handbook of South American Indians – volume I: The marginal tribes, pp. 477-517. Washington: Smithsonian Institution.
MacDONALD, Theodore. 1997. De cazadores a ganaderos. Quito: Abya-Yala.
MACEDO, Helder A. 2011. Populações indígenas no sertão do Rio Grande do Norte. Natal: Editora da UFRN.
MEDEIROS, Ricardo P. 2000. O descobrimento dos outros: povos indígenas do sertão nordestino no período colonial. Tese de Doutorado. Recife: UFPE.
MELATTI, Júlio César. 1967. Índios e criadores: a situação dos Krahó na área pastoral do Tocantins. Rio de Janeiro: I.C.S, UFRJ.
MENEZES, Cláudia. 1982. “Os Xavante e o movimento de fronteira no leste matogrossense”. Revista de Antropologia, 25:63-87.
MÉTRAUX, Alfred. 1946. “The Purí-Coroado linguistic family”. In STEWARD, J. (ed.): Handbook of South American Indians – volume I: The marginal tribes, pp. 523-530. Washington: Smithsonian Institution.
MICHELINI, Janaína. 2016. A pecuária bovina de corte no Brasil: significados, contradições e desafios em busca da sustentabilidade. Tese de Doutorado. São José dos Campos: INPE.
MILLER, Joana. 2018. As coisas: os enfeites corporais e a noção de pessoa entre os Mamaindê (Nambiquara). Rio de Janeiro: Mauad X/FAPERJ.
MONTICELLI, Caio. 2020. Patá mata: o que dizem os Taurepáng sobre o fim do mundo. Dissertação de Mestrado. São Carlos: UFSCar.
MORAES FILHO, Mello. 1882. Revista da Exposição Anthropologica Brazileira. Rio de Janeiro: Typographia de Pinheiro & C.
MOURA, P. & ZANNONI, C. 2010. “A música dos povos indígenas do Maranhão”. Cadernos de Pesquisa, 17(3):28-37.
NATTERER, Johann. 2014. “Bororo wordlists and ethnographic notes” (edited by Christian Feest). Archiv Weltmuseum Wien, 63-64:198-219.
PARELLADA, Cláudia. 2008. “Estética indígena Jê no Paraná: tradição e mudança no acervo do Museu Paranaense”. Revista Científica FAP, 3:213-229.
PINA DE BARROS, Edir. 2003. Os filhos do sol. São Paulo: Edusp.
PINTO, Estevão. 1956. Etnologia brasileira (Fulniô – os últimos Tapuias). São Paulo: Companhia Editora Nacional.
PRADO JR., Caio. 2011. Formação do Brasil contemporâneo. São Paulo: Companhia das Letras.
PUNTONI, Pedro. 2002. A guerra dos bárbaros: povos indígenas e a colonização do sertão nordeste do Brasil, 1650-1720. São Paulo: FAPESP/Hucitec/Edusp.
RAFFLES, Hugh. 2002. In Amazonia – A natural history. Princeton: Princeton University Press.RIBEIRO, Berta. 1988. Dicionário do artesanato indígena. Belo Horizonte/ São Paulo: Itatiaia/ Edusp.
RONDON, C. & LEÃO, M. 2018. “A relação do povo indígena Bororo com os animais e a influência em suas práticas culturais e sociais”. Tellus, 18(36):123-152.
SANTOS, Carlos Alberto. 2016. “Esboço histórico do uso de animais pelos povos indígenas no Nordeste brasileiro”. In SILVA, E., SANTOS, C. & OLIVEIRA, E. (eds.): História ambiental e história indígena no semiárido brasileiro, pp. 35-60. Feira de Santana: UEFS Editora.
SCHMUTZER, Kurt. 2014. “Johann Natterer (1787-1843): a biographical sketch”. Archiv Weltmuseum Wien, 63-64:5-23.
SILVA, Edson. 2017. “Índios no Nordeste: por uma história socioambiental regional”. Cadernos do Ceas, 240:117-136.
SILVA, E., SANTOS, C. & OLIVEIRA, E. (eds.). 2016. História ambiental e história indígena no semiárido brasileiro. Feira de Santana: UEFS Editora.
SOFFIATI, Arthur. 2019. Introdução de espécies exóticas no norte do Rio de Janeiro: apontamentos de eco-história. Rio de Janeiro: Autografia.
SOUZA, Rosaldo de A. 2017. “Sustentabilidade na reconstrução identitária do povo indígena Kinikinau”. In JOSÉ DA SILVA, G., BOLZAN, A. & SOUZA, R. (eds.): Kinikinau: arte, história, memória & resistência, pp. 135-159. Curitiba: Editora CRV.
SPIX, J. & MARTIUS, C. (1976). Viagem pelo Brasil – Tomo I. São Paulo/ Brasília/ Rio de Janeiro: Melhoramentos, INL, IHGB.
TIEMANN-ARSENIC, Ulrike. 2011. “Recursos naturais e perspectivas de futuro em comunidades ribeirinhas e assentados: uma pesquisa de campo”. In BOLLE, W., CASTRO, E. & VEJMELKA, M.(eds.): Amazônia: regiãouniversal e teatro do mundo, pp. 123-139. Rio de Janeiro: Editora Globo.
TONI, F. et al. (eds.). 2007. Expansão e trajetórias da pecuária na Amazônia: Acre, Brasil. Brasília: Ed. da UnB.
TRIGGER, D. et al. 2008. “Ecological restoration, cultural preferences and the negotiation of ‘nativeness’ in Australia”. Geoforum, 39(3):1273-1283.
TRIGGER, David. 2008. “Indigeneity, ferality, and what ‘belongs’ in the Australian bush: Aboriginal responses to ‘introduced’ animals and plants in a settler-descendant society”. Journal of the Royal Anthropological Institute (N.S.), 14(3):628-643.
TURNER, Terence. 1992. “Os Mebengokre Kayapó: história e mudança social. De comunidades autônomas para a coexistência interétnica”. In CARNEIRO DA CUNHA, M. (ed.): História dos índios no Brasil, pp. 310-338. São Paulo: FAPESP, SMC, Companhia das Letras.
VANDER VELDEN, Felipe. 2019. Artefatos multiespécies: materialidade e conhecimento nas relações entre humanos e não humanos. Trabalho apresentado no Simpósio “Relações humano-animal: presente, passado e futuros possíveis”, 43º. Encontro Anual da ANPOCS, Caxambu-MG.
VIERTLER, Renate. 1990. “A vaca louca: tendências do processo de mudança sócio-cultural entre os Bororo-MT”. Revista de Antropologia, 33:19-32.
VIERTLER, R. & OCHOA, G. 2014. “Ethnohistorical, ethnographic, and linguistic information on the Bororo of Mato Grosso: commentaries for a study of the Natterer Collection”. Archiv Weltmuseum Wien, 63-64:221-245.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2002. “Perspectivismo e multinaturalismo na América indígena”. In VIVEIROS DE CASTRO, E. (ed.): A inconstância da alma selvagem e outros ensaios de antropologia, pp. 345-400. São Paulo: Cosac Naify.
WHITEHEAD, P. & BOESEMAN, M. 1989. Um retrato do Brasil holandês do século XVII: animais, plantas e gente pelos artistas de Johan Maurits de Nassau. Rio de Janeiro: Livraria Kosmos Editora.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Direitos Autorais para textos publicados na Revista ANTHROPOLÓGICAS são do autor, com direitos de primeira publicação para a revista.
Authors retain the copyright and full publishing rights without restrictions.