Parentesco entre espécies no Nordeste indígena: árvores cosmogenealógicas e metáforas vegetais

Autori

  • Leandro Durazzo Membro dos grupos de pesquisa Etapa (UFRN), Opará (UNEB) e Macondo (UFRPE/UAST).

DOI:

https://doi.org/10.51359/2525-5223.2021.245144

Parole chiave:

Parentesco, Povos Indígenas do Nordeste, Ambiente, Territorialidade, Antropoceno

Abstract

Este texto reflete sobre parentesco a partir de elementos indígenas do Nordeste brasileiro, suas relações pragmáticas e metafóricas com outros estratos do ambiente habitado, onde convivem humanos, mais-que-humanos (os entes encantados) e onde ações cosmopolíticas se realizam. Pela ampliação da categoria antropológica, em que instâncias não-humanas estabelecem relações de significação nos sistemas de parentesco, exploramos dois casos indígenas: os processos de fazer parentes e dar continuidade ao grupo étnico Tremembé (CE), na relação com o ritual do torém e com o mocororó, bebida preparada do caju; e a metaforização étnica e cosmopolítica de cacique Xikão do povo Xukuru do Ororubá (PE), assassinado em 1998 e plantado para que desse nascessem novos guerreiros. No limite, estes casos contribuem para entendermos modos de existência sócio-cosmológicas e interespecíficas, experiências de territorialidades, dando-nos elementos indígenas para pensarmos modos de vida alternativos em um período de crise ambiental profunda.

Biografia autore

Leandro Durazzo, Membro dos grupos de pesquisa Etapa (UFRN), Opará (UNEB) e Macondo (UFRPE/UAST).

Doutor em Antropologia Social (UFRN).

Riferimenti bibliografici

ALMEIDA, A. et al (ed.). 2012. Nova Cartografia Social dos Povos Tradicionais do Brasil: Xukuru do Ororubá - PE. Manaus: UEA Edições.

ANDRADE, Ugo. 2008. Memória e diferença: os Tumbalalá e as redes de trocas no submédio São Francisco. São Paulo: Humanitas.

AUSTIN, John. 1965. How to do things with words. New York: New York Press.

BARTH, Fredrik. 2000. “Os grupos étnicos e suas fronteiras”. In BARTH, Fredrik: O Guru, o Iniciador e Outras Variações Antropológicas, pp. 25-68. Rio de Janeiro: Contracapa Livraria.

BASTIDE, Roger. 2018. “O princípio de individuação (contribuição a uma filosofia africana)”. Cadernos de Campo, 27(1):220-232.

BATISTA, Mércia. 2005a. Descobrindo e recebendo heranças: as lideranças truká. Tese de Doutorado. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro.

BATISTA, Mércia. 2005b. “O toré e a ciência Truká”. In GRÜNEWALD, R. (ed.): Toré: regime encantado do índio do Nordeste. Recife: Editora Massangana.

BAUMAN, Richard. 2004. A world of other’s words: cross-cultural perspectives on intertextuality. Malden: Blackwell Publishing.

BESTARD, Joan. 1998. Parentesco y modernidad. Barcelona: Paidós.

BLACK, Alexis D. 2018. “Wor(l)d-Building: Simulation and Metaphor at the Mars Desert Research Station”. Journal of Linguistic Anthropology, 28(2):137-155.

BUBER, Martin. 2001. Eu e Tu. São Paulo: Centauro.

CARDOSO, Thiago. 2018. Paisagens em transe: ecologia da vida e cosmopolítica Pataxó no Monte Pascoal. Brasília: IEB Mil Folhas.

CARVALHO, Maria Rosário. 2011. “De índios ‘misturados’ a índios ‘regimados’”. In CARVALHO, M. R., REESINK, E. & CAVIGNAC, J. (eds.): Negros no mundo dos índios: imagens, reflexos, alteridades, pp. 337-358. Natal: EDUFRN.

CARVALHO, M. & REESINK, E. 2018. “Uma etnologia no Nordeste brasileiro: balanço parcial sobre territorialidades e identificações”. BIB - Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais, 87(3):71-104.

CESARINO, Pedro. 2008. “A divergência original: tradução xamanística e tradução etnográfica”. Trabalho apresentado na 26ª Reunião Brasileira de Antropologia, Porto Seguro-BA.

CRUZ, Felipe. 2017. Quando a terra sair: os índios Tuxá de Rodelas e a barragem de Itaparica: memórias do desterro, memórias da resistência. Dissertação de Mestrado. Brasília: UnB.

CUNHA, Manuela. 1998. “Pontos de vista sobre a floresta amazônica: xamanismo e tradução”. Mana, 4(1):7-22.

DANOWSKI, D. & VIVEIROS DE CASTRO, E. 2014. Há mundo por vir? Ensaio sobre os medos e os fins. Desterro [Florianópolis]: Cultura e Barbárie/ Instituto Socioambiental.

DE LA CADENA, M. & PEÑA, J. L. 2014. “Cosmopolítica nos Andes e na Amazônia: como políticas indígenas afetam a política?” Interethnic@ – Revista de Estudos em Relações Interétnicas, 18(1):s/p.

DURAND, Gilbert. 2001. As estruturas antropológicas do imaginário: introdução à arquetipologia geral. São Paulo: Martins Fontes.

DURAZZO, Leandro. 2019. Cosmopolíticas Tuxá: conhecimentos, ritual e educação a partir da autodemarcação de Dzorobabé. Tese de Doutorado. Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

DURAZZO, L. & VIEIRA, J. G. 2016. “Conhecimentos da mata sagrada, ciência do índio do Nordeste”. Trabalho apresentado no 40º Encontro Anual da ANPOCS, Caxambu-MG.

ESPRIT. 2020. In LAROUSSE, Dictionaire de Français en ligne, s/d. (www.larousse.fr/dictionnaires/francais/esprit; acesso em 10/04/2020).

EVANS-PRITCHARD, E. & FORTES, M. (ed.). 1980 [1940]. Sistemas Políticos Africanos. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

GRÜNEWALD, Rodrigo. 1993. ‘Regime de índio’ e faccionalismo: os Atikum da Serra do Umã. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: UFRJ.

GRÜNEWALD, Rodrigo. (ed.). 2005. Toré: regime encantado do índio do Nordeste. Recife: Editora Massangana.

HARAWAY, Donna. 2016. “Antropoceno, Capitaloceno, Plantationoceno, Chthuluceno: fazendo parentes”. ClimaCom Cultura Científica, 3(5):139-146.

INGOLD, Tim. 2018. “One world anthropology”. HAU: Journal of Ethnographic Theory, 8(1-2):158–171.

LATOUR, Bruno. 2020. Diante de Gaia: Oito conferências sobre a natureza no Antropoceno. São Paulo/ Rio de Janeiro: UBU/Ateliê de Humanidades Editorial.

LEACH, Edmund. 1966. “Ritualization in man in relation to conceptual and social development”. Philosophical Transactions of the Royal Society, 251:247-526.

LEENHARDT, Maurice. 1947. Do Kamo. La personne et le mythe dans le monde mélanésien. Paris: Gallimard.

LÉO NETO, N. & GRÜNEWALD, R. 2012. “‘Lá no meu reinado eu só como é mel’: dinâmica cosmológica entre os índios Atikum, PE”. Tellus, 12(22):49-80.

LÉVI-STRAUSS, Claude. 1976. As estruturas elementares do parentesco. Petrópolis/ São Paulo: Vozes/ EDUSP.

MESSEDER, Marcos. 2012. “Etnicidade e ritual tremembé: construção da memória e lógica cultura”. Revista de Ciências Sociais, 43(2):32-42.

NASCIMENTO, Marco. 1994. O tronco da jurema. Ritual e etnicidade entre os povos indígenas do Nordeste: o caso Kiriri. Dissertação de Mestrado. Salvador: Universidade Federal da Bahia.

NEVES, Rita de Cássia. 2005. Dramas e performances: o processo de reelaboração étnica Xukuru nos rituais, festas e conflitos. Tese de Doutorado. Florianópolis: UFSC.

PACHECO DE OLIVEIRA, João (ed.). 1999. A viagem da volta: etnicidade, política e reelaboração cultural no Nordeste indígena. Rio de Janeiro: Contra Capa.

PALITOT, Estevão. 2003. Tamain chamou nosso Cacique: a morte do cacique Xicão e a (re)construção da identidade entre os Xukuru do Ororubá. Trabalho de Conclusão de Curso. João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba.

POMPA, Cristina. 2003. Religião como tradução: missionários, Tupi e Tapuia no Brasil colonial. Bauru: Edusc.

RODRIGUES DE SOUZA, Edimilson. 2016. “Donos da luta: sacralização de lideranças camponesas e indígenas assassinadas em áreas de conflito fundiário”. In FONSECA, C. et al (ed.): Antropologia e direitos humanos, pp. 197-244. Rio de Janeiro: Mórula.

SAHLINS, Marshall. 2012. What kinship is-and is not. Chicago: The University of Chicago Press.

SAMPAIO-SILVA, Orlando. 1997. Tuxá: índios do Nordeste. São Paulo: Annablume.

SANTOS, Hosana O. 2009. Dinâmicas sociais e estratégias territoriais: a organização social Xukuru no processo de Retomada. Dissertação de Mestrado. Recife: Universidade Federal de Pernambuco.

SEVERI, Carlo. 2014. “Transmutating beings: a proposal for an anthropology of thought”. Hau: Journal of Ethnographic Theory, 4(2):41-71.

SPAGNA, Francesco. 2006. “Animali spirituali. Tradizioni native del Canada Subartico”. In FERRI L. & GIANNELLI, L. (eds.): Atti del Convegno Visioni e interpretazioni del Nord. Artico e Subartico, pp. 41-51. Siena: Quaderni del C.I.S.A.I.

SCHNEIDER, David. 1972. “What is kinship all about?”. In REINING, Priscilla (ed.): Kinship Studies in the Morgan Centennial Year, pp. 32-63. Washington: Anthropological Society of Washington, .

SOUZA, Vânia. 1992. As Fronteiras do Ser Xukuru: estratégias e conflitos de um grupo indígena no Nordeste. Dissertação de Mestrado. Recife: UFPE.

STENGERS, Isabelle. 2015. No tempo das catástrofes: resistir à barbárie que se aproxima. São Paulo: Cosac Naify.

STRATHERN, Marilyn. 1988. The Gender of the Gift. Problems with Women and Problems with Society in Melanesia. Los Angeles/ London: University of California Press.

STRATHERN, Marilyn. 1992. After nature: English kinship in the late twentieth century. New York: Cambridge University Press.

TAMBIAH, Stanley. 2017 [1973]. “Form and meaning of magical acts: a point of view”. Hau: Journal of Ethnographic Theory, 7(3):451-473.

TAYLOR, Anne-Christine. 2000. “Le Sexe de la Proie. Répresentation Jivaro du Lien de Parenté”. L’Homme, 154-155:309-334.

TSING, Anna. 2019. Viver nas ruínas: paisagens multiespécies no Antropoceno. Brasília: IEB Mil Folhas.

VALLE, Carlos. 1993. Terra, tradição e etnicidade: um estudo dos Tremembé do Ceará. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro.

VALLE, Carlos. 2004. “Experiência e semântica entre os Tremembé do Ceará”. In PACHECO DE OLIVEIRA, J. (ed.): A viagem da volta: etnicidade, política e reelaboração cultural no Nordeste indígena, pp. 281-341. Rio de Janeiro: Contra Capa.

VERAS, A. & ATHIAS, R. 2020. Zika, “Chikungunya, Ventos e Encantados entre os Pankararu de Pernambuco”. In SCOTT, P., LIRA, L. & MATOS, S. (eds.): Práticas sociais no Epicentro da Epidemia do Zika, pp. 229-251. Recife: UFPE.

VIEIRA, J., AMOROSO, M. & VIEGAS, S. 2015. “Apresentação: Dossiê Transformações das Territorialidades Ameríndias nas Terras Baixas (Brasil)”. Revista de Antropologia, 58(1):9-29.

WAGNER, Roy. 2018. The Logic of Invention. Chicago: Hau Books.

Pubblicato

2021-06-29

Fascicolo

Sezione

Artigos