Os Eré e ‘o Tal do Pirarucu’: equívocos epistemológicos e ontológicos a respeito de suas agências predatórias entre os Kujubim (Rondônia)

Auteurs-es

DOI :

https://doi.org/10.51359/2525-5223.2020.245319

Mots-clés :

etnologia indígena, relações humano-animais, classificação, Kujubim, Rondônia

Résumé

Os Kujubim e outros povos indígenas que habitam a Terra Indígena do Rio Guaporé em Rondônia sofreram as consequências de uma terrível enchente. Embora ela tenha causado impactos de diferentes ordens, ela trouxe consigo estranhas presenças, dizem os Kujubim, que jamais haviam sido vistas, percebidas ou sentidas ao longo de sua história no rio Guaporé. A estes seres, os Kujubim se referem como ‘o tal pirarucu’ e atribuem sua aparição aos eré, os não índios, que possuem o poder de criar animais em açudes a partir de uma distinção marcada na origem do mundo. Por ocuparem posições congruentes nos discursos e nas práticas Kujubim, os eré e o ‘tal do pirarucu’ acabam compartilhando um estatuto ambíguo e equivalente: ambos possuem uma agência predatória e avassaladora. Com isso, defendo a ideia de que os seres nunca são para os Kujubim, mas sempre estão algo ou alguém no sentido de um estado

Biographie de l'auteur-e

Gabriel Sanchez, Universidade Federal de São Carlos

Mestre em Antropologia Social pelo Programa de Pós-graduação em Antropologia Social (UFSCar)

Références

ALEIXO, Alexandre. 2007. “Conceitos de espécie e o eterno conflito entre continuidade e operacionalidade: uma proposta de normatização de critérios para o reconhecimento de espécies pelo Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos”. Revista Brasileira de Ornitologia, 15(2):297-310. (www.revbrasilornitol.com.br/download/pdf-483; acesso em 20/10/2018).

BERLIN, Brent. 1992. Ethnobiological classification: principles of categorization of plants and animals in traditional societies. Princeton: Princeton University Press.

BERLIN, B., BOOSTER, J. & O’NEIL, J. 1981. “The perceptual bases of ethnobiological classification: Evidence from Aguaruna Jivaro Ornithology”. Journal of Ethnobiological, 1(1):95-108. (https://ethnobiology.org/journal/%5Bfield_volume-raw%5D-38; acesso em 23/05/2017).

CABRAL DE OLIVEIRA, Joana. 2006. Classificação em cena. Algumas formas de classificação das plantas cultivadas pelos Wajãpi do Amapari (AP). Dissertação de Mestrado. São Paulo: USP.

CABRAL DE OLIVEIRA, Joana. 2016. “Feitos de semente e pedra: afecção e categorização em uma etnografia na Amazônia”. Etnográfica, 20(1):143-161.

DANOWSKI, D. & VIVEIROS DE CASTRO, E. 2014. Há mundo por vir? Ensaios sobre os medos e os fins. Florianópolis: Desterro, Cultura e Barbárie e Instituto Socioambiental.

DELEUZE, G. & GUATTARI, F. 1997. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo: Ed. 34.

DESCOLA, Phillipe. 1986. La selva culta: Simbolismo y praxis en la ecología de los Achuar. Quito: Ed. Abya Yala.

DESCOLA, Phillipe. 1992. “Societies of Nature and Nature of Society”. In KUPER, A. (ed.): Conceptualizing Society, pp. 107-126. London/New York: Routledge.

DURAN, Iris R. 2000. Descrição Fonética e Lexical do Dialeto (Kujubim) da língua Moré. Dissertação de Mestrado. Porto Velho: UFRO.

FAUSTO, Carlos. 2008. “Donos demais: Maestria e Domínio na Amazônia”. Mana, 14(2):329-366.

FERREIRA, J., PERALTA, N. & SANTOS, R. 2015. “‘Nossa reserva’: redes e interações entre peixes e pescadores no médio rio Solimões”. Amazônia. Revista de Antropologia, 7(1):158-185.

GALVÃO DE LIMA, L. & BATISTA, V. 2012. “Estudos etnoictiológicos sobre o pirarucu Arapaima gigas na Amazônia Central”. Acta Amazonica, 42(3):337-344.

JARA, Fabiola. 1996. El caminho del kumu: Ecología y ritual entre los akuriyó de Surinam. ABYA-ALA: Quito – Ecuardor.

JENSEN, Arthur. 1988. Sistemas indígenas de classificação de aves: aspectos comparativos, ecológicos e evolutivos. Tese de Doutorado. Campinas: Unicamp.KIRKSEY, E. & HELMHEICH, S. “The emergence of multispecies ethnography”. Cultural Anthropology, 25(4):545-576.

LÉVI-STRAUSS, Claude. 2005. O Pensamento Selvagem. Rio de Janeiro: Papirus.

LIEN, M. & LAW, J. 2011. “‘Emergent Aliens’: On Salmon, Nature, and Their Enactment”. Ethnos, 76(1):65-87.

LIMA, Taniza S. 1996. “O dois e seu múltiplo: reflexões sobre o perspectivismo em uma cosmologia Tupi”. Mana, 2(2):21-47.

MALDI MEIRELLES, Denise. 1991. “O Complexo Cultural do Marico: Sociedades Indígenas dos Rios Branco, Colorado e Mequens, afluentes do médio Guaporé”. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, serie Antropologia, 7(2):209-269.

MINDLIN, B. & NARRADORES INDÍGENAS. 1999. Terra Grávida. Rio de Janeiro: Editora Rosa dos Tempos.

MURRIETA, Rui S. 2001. “A mística do pirarucu: pesca, ethos e paisagem em comunidades rurais do baixo amazonas”. Horizontes Antropológicos, 7(16):113-130.

RIVIÈRE, Peter. 1995. “AAE na Amazônia”. Revista de Antropologia, 38(1):191-203.

RODRIGUES DA FRANCA, R. & MENDONÇA, F. 2015. “A cheia histórica do rio Madeira no ano de 2014: riscos e impactos à saúde em Porto Velho (RO)”. Hygeia, 11 (21):62-79. (www.seer.ufu.br/index.php/hygeia/article/view/30374; acesso em 30/03/2020).

SANCHEZ, Gabriel. 2019a. “Plantações de queixada, peixes-mandioca e corujinhas boiadeiras: as relações entre humanos, animais e maestria na Terra indígena do rio Guaporé (Rondônia)”. Mediações (UEL), 24(3):14-28. (www.uel.br/revistas/uel/index.php/mediacoes/article/view/37606; acesso em 18/12/2019).

SANCHEZ, Gabriel. 2019b. Os Kujubim e os bichos: uma etnografia multiespecífica sobre as relações entre humanos e não humanos no Vale do Guaporé, Rondônia. Dissertação de Mestrado. São Carlos: UFSCar.

SOARES-PINTO, Nicole. 2009. Do poder do sangue e da chicha: os Wajuru do Guaporé (Rondônia). Dissertação de Mestrado. Curitiba: UFPR.

SOARES-PINTO, Nicole. 2014. Entre as teias do Marico: parentes e pajés djeoromitxi. Tese de Doutorado. Brasília: UNB.

SULKIN, Carlos L. 2005. “Inhuman beigs: morality and perspectivism among Muinane people (Colombian Amazon)”. Ethnos, 70(1):7-30.

VANDER VELDEN, Felipe. 2010. “Os Tupi em Rondônia: diversidade, estado do conhecimento e proposta de investigação”. Revista Brasileira de Linguística Antropológica, 2(1):115-143.

VANDER VELDEN, Felipe. 2012. Inquietas Companhias: sobre os animais de criação entre os Karitiana. São Paulo: Alameda.

VANDER VELDEN, Felipe. 2015. “Apresentação ao Dossiê. Animalidades Plurais”. R@u. Revista de Antropologia da UFSCar, 7(1):7-16.

VANDER VELDEN, Felipe. 2018. “Vocês, brancos, são peixes: sobre equívocos na pesca e na piscicultura entre os Karitiana, Rondônia”. R@U. Revista de Antropologia da UFSCar, 10(2):164-194.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 1996. “Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo ameríndio”. Mana, 2(2):115-144.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2004. “Perspectival Anthropology and the Method of Controled Equivocation”. Tipití, 2(1):3-22.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2013. “The notion of species in history and anthropology”. Biozoo, 10(10):1-7.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2015. Metafísicas canibais: Elementos para uma antropologia pós-estrutural. São Paulo: Cosac Naify.

WAGNER, Roy. 2010. “Existem grupos sociais nas terras altas da Nova Guiné?”. Cadernos de campo, 19(19):237-257.

Téléchargements

Publié-e

2020-09-27

Numéro

Rubrique

Dossiê