OS pretos velhos de Codó: Uma narrativa visual.
DOI:
https://doi.org/10.51359/2526-3781.2018.236879Palavras-chave:
Populações vulneráveis, Enfermagem, Saúde coletiva, ComunidadeResumo
Preto velho é uma categoria nativa, com a qual se denomina pessoas negras das épocas passadas no municipio de Codó, estado do Maranhão, Brasil. A noção dos pretos velhos funciona também como uma descrição étnica, como o selo do modo de vida tradicional, em grande medida autossuficiente e baseada em um bom entendimento do meio natural. Entretanto, não somente as formas de subsistência, mas também a filosofia de vida e a lógica que a guiava eram os atributos dos pretos velhos. Se entrelaçavam aqui a crença sobre a importância para as pessoas humanas da força e dos encantados (seres ou entes invisíveis da floresta), com os saberes sobre a natureza. A vida dos indivíduos e das comunidades eram construídas em função do poder de negociação com estas entidades “sobrenaturais”, estabelecendo-se relações de parentesco entre eles e os pretos velhos.
Da mesma forma, a noção dos pretos velhos funciona, hoje em dia, como um marco temporal simbólico, pois faz referência ao passado e à ruptura. Os conflitos agrários, que se deram no município de Codó a partir dos anos 70 do século XX, acabaram praticamente com as comunidades negras tradicionais na região. A selva, que cobria antes todo o município, converteu-se em um gigantesco espaço de exploração pecuária. Os negros e as negras da zona rural, em sua maioria expulsos de suas terras, foram viver na cidade, desaparecendo com isto, paulatinamente, o modo de vida próprio dos pretos velhos. Um número extremamente reduzido das comunidades segue lutando por sua continuidade em um mutável, ainda que nunca realmente favorável para as pessoas negras, ambiente político do país. Pode-se observa ainda a persistência dos mesmos problemas já existentes nas épocas dos pretos velhos, situando-se em primeira linha a falta de legalização do acesso às terras ocupadas pelas comunidades negras.
Também, atualmente, a denominação dos pretos velhos chegou a ser traduzida nas categorias locais à dos remanescentes de quilombos. A identidade política à que foi transmitida a descendência étnica próprias dos negros do município de Codó dialoga aqui com seu legado histórico. Revaloriza os elementos identitários dos pretos velhos à luz de seu potencial como vetores para uma melhor inclusão social. Positiviza, de certo modo, o passado e, com isto, os saberes e os fazeres dos pretos velhos. Estes ganham uma nova leitura, atualizados de acordo com o discurso do movimento quilombola presente - movimento etnopolítico dos negros que lutam por seus direitos territoriais. À continuação, o debate reivindicativo contemporâneo das pessoas negras do município de Codó sobre seu acesso aos direitos como cidadãos atravessa a revisão das memórias sobre os pretos velhos.
O presente ensaio surge de uma maneira paralela à recompilação dos dados de campo no período da pesquisa doutoral em antropología, culminando com a defesa da tese intitulada: “A cor da (in)visibilidade. As comunidades negras do Brasil e as políticas de reconhecimento”. Desenvolvido e apresentado na Universidade de Barcelona, Espanha, o estudo discute o caráter das novas políticas para as comunidades remanescentes de quilombos e seu reflexo nas realidades locais do município de Codó. Debate-se a seletividade na hora da admissão dos grupos nas políticas para remanescente de quilombos e sua natureza bastante exclusiva. Observa-se, ao mesmo tempo, as continuidades e as descontinuidades na construção identitária dos atuais quilombolas do município de Codó. Neste sentido, a categoria dos pretos velhos surge como uma noção imprescindível para poder manejar os discursos locais sobre a negritude, tão importante para entender o presente político e social da região.
Ficha técnica:
Autora:Anna Kurowicka
Fotografias: Anna Kurowicka
Direção, Edição de Imagem e Texto: Anna Kurowicka

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