Espécie companheira e comida: Hibiscos e humanos na horta comunitária da Lomba do Pinheiro
DOI:
https://doi.org/10.51359/2526-3781.2022.254219Palavras-chave:
espécies companheiras, relações multiespécie, hibiscosResumo
A Horta Comunitária da Lomba do Pinheiro é um projeto coletivo de agricultura urbana agroecológica, situado na zona leste da cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul que, por iniciativa comunitária, teve início no ano de 2011.
Procura-se retratar neste ensaio fotográfico a relação construída na Horta Comunitária da Lomba do Pinheiro entre humanos e hibiscos (Hibiscus Sabdariffa). Os hibiscos são aqui entendidos como espécie companheira (HARAWAY, 2021) dos humanos que frequentam a horta. Uma história coevolutiva vem sendo escrita pela relação entre hibiscos e humanos nesse espaço, em que hibiscos atuam sobre humanos e humanos atuam sobre hibiscos, em um processo de codomesticação.
Há aproximadamente oito anos, com as primeiras sementes provenientes de um produtor rural agroecológico de um bairro situado no sul de Porto Alegre, os primeiros hibiscos foram plantados na horta. Desde então, a cada ano a semeadura começa por volta de agosto e todo o processo é cuidado até a colheita, que acontece em fevereiro, março, abril e maio. Em junho, os últimos hibiscos são colhidos, mas, pelas condições climáticas que o inverno proporciona no Rio Grande do Sul, já não é mais possível secá-los, uma vez que, o hibisco necessita de sol e pouca umidade. Marcando o final da safra de hibisco, costuma-se realizar oficinas, em que é usado in natura, para fazer geleia. Tais oficinas, marcam também o encontro entre algumas mulheres frequentadoras da horta, resultando em um momento de partilhas dos saberes relacionados aos diversos significados do hibisco para elas.
O hibisco é, coletivamente, cuidado por todas as pessoas envolvidas, sendo consideradoum símbolo das atividades da Horta Comunitária da Lomba do Pinheiro. A regulação do tempo na horta passa pela regulação do tempo que o hibisco impõe a seus participantes. É, ainda, através da venda informal do hibisco seco que a horta adquire recursos para seguir com a manutenção do espaço.
Ao mesmo tempo em que existe uma história dos hibiscos sendo construída pela horta, na interação com humanos - já que, de outro modo não seriam tão famosos entre essas pessoas ou não protagonizariam receitas ou dariam tantos frutos. Existe uma história complementar da horta sendo construída pelo que os hibiscos oferecem aos humanos nela presentes. Uma história de humanos e plantas aliando-se em práticas de criar mundos conjuntamente.
O hibisco é descrito como nativo da África, uma planta da família das Malváceas, de ciclo anual, que pode ser cultivada por semeadura ou por estaquia (KINUPP e LORENZI, 2021). Com propriedades medicinais de reposição de eletrólitos ao organismo humano, sendo diurético, atua controlando a pressão arterial, podendo ser usado como auxiliar no tratamento de doenças do fígado, além de possuir antioxidantes (KINUPP e LORENZI, 2021). Na horta, os hibiscos oferecem sua presença e possibilidade de ação para os organismos humanos, que deles se beneficiam. Em contrapartida, os humanos preparam o solo, guardam as sementes, cultivam e cuidam dos hibiscos, em atividades coletivas. O hibisco atua como agregador, reunindo as pessoas em torno da mesa, para a retirada das sementes, momento em que a conversa flui.
As receitas com hibisco são inúmeras, porém a forma como é mais frequentemente preparado na horta é como chá. Os frutos podem estar secos ou frescos e, misturados à água, vão para o fogo, geralmente em uma panela grande. Após alguns minutos de fervura, a bebida está pronta para o consumo. A panela é levada à mesa e serve-se o chá, com uma concha.
Referências
HARAWAY, Donna. O manifesto das espécies companheiras - cachorros, pessoas e alteridades significativas. Trad. MOREIRA, Pê. Bazar do tempo, Rio de Janeiro, 2021.
KINUPP, Valdely Ferreira; LORENZI, Harri. Plantas alimentícias não convencionais no Brasil. guia de identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas. 2ª ed. Jardim Botânico Plantarum, São Paulo, 2021.

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