“Kapinawá é meu, já tomei, tá tomado”
Schlagworte:
Identidade kapinawá, Território, Cosmologia.Abstract
Este ensaio reúne fotografias tiradas ao longo dos últimos quatro anos, período de minha atuação como antropóloga e educadora junto ao povo indígena Kapinawá e contexto no qual desenvolvi pesquisa de mestrado em antropologia.
Decidi desenvolver este estudo junto aos Kapinawá por um processo de mobilização política, ocorrido em 2011, no qual indígenas desse povo promoveram a ocupação da sede de uma fazenda que invadira seu território em finais dos anos 1970. Essa ação reivindicava a regularização fundiária de parte do território que até hoje não tem medidas administrativas tomadas nesse sentido e que juridicamente se sobrepõe a uma unidade de conservação, o Parque Nacional do Catimbau. Daí veio o título: “Kapinawá é meu, já tomei, tá tomado”, trecho de música entoada pelos cantadores de samba de coco locais, que expressa o processo de resistência do grupo frente às investidas contra seu território.
O povo Kapinawá tem uma população de cerca de 3.700 pessoas (FUNASA, 2009), sendo o território habitado localizado entre três municípios pernambucanos, na transição do agreste para o sertão do estado, são eles: Buíque, Tupanatinga e Ibimirim. Atualmente conta com cerca de trinta aldeias, a maioria delas situadas ao longo dos dois principais riachos que cortam o território: o Riacho do Macaco e o Riacho do Catimbau.
Uma das formas de categorização das regiões, que é feita localmente, nomeia o território separando-o em três áreas de acordo com o momento de “levantamento da aldeia”, ou seja, de organização social de grupos familiares pelo reconhecimento da identidade étnica. Nesse sentido, há a “área demarcada”, que tem o processo de organização e luta pela terra datado de fins da década de 1970, a “área nova”, que iniciou seu processo de organização no fim da década de 1990 e, por fim, alguns agrupamentos familiares que começaram a se organizar em fins da primeira década dos anos 2000, as chamadas “aldeias de Ibimirim”.
Todo território é marcado pela presença de sítios arqueológicos, com cemitérios que datam de até 6 mil anos atrás e pinturas rupestres, chamadas localmente de letreiros, além disso é repleto de formações geográficas bem singulares, com a presença de muitas furnas (cavernas), onde são encontrados esses cemitérios. Com grandes serras, que se destacam por seus formatos exuberantes, é igualmente conhecido pela extensa área de caatinga preservada, o que levou a ser área prioritária de preservação ambiental no estado de Pernambuco e à criação do Parque Nacional do Catimbau. Esses fatores proporcionam um aspecto que faz com que esse local seja conhecido como um espaço místico na região, e considerado um ambiente encantado e de segredos pelos Kapinawá.
Ao longo desses anos, conversando com as pessoas mais velhas da comunidade, ouvi como em suas histórias de vida esses sentidos dados ao ambiente encantado e de segredo constituem a ideia do ser “caboclo” e do que são “as coisas de caboclo”.
Tais histórias estão presentes no cotidiano das famílias, atribuídas aos modos de lidar com o meio em que vivem, aos hábitos alimentares e ao conhecimento que têm do território. Além disso, fazem referência às novenas e aos benditos aí cantados, aos sambas de coco e sambas que dão o ritmo da batida dos pés e também ao toré e aos toantes entoados junto ao chacoalhar do maracá. Uma teia que envolve relações rituais, econômicas e políticas.
Todos estes aspectos são peças chaves na compreensão da identidade kapinawá. Este ensaio, portanto, busca retratar um pouco deste universo cosmológico, composto de fotografias de pessoas, lugares e objetos.
Ficha técnica:
Autora: Lara Erendira Almeida de Andrade (Nepe/UFPE | GETI/UFPB)
Fotografias: Lara Erendira Almeida de Andrade
Direção, Edição de Imagem e Texto: Lara Erendira Almeida de Andrade

Downloads
Veröffentlicht
Ausgabe
Rubrik
Lizenz

Dieses Werk steht unter der Lizenz Creative Commons Namensnennung - Nicht-kommerziell 4.0 International.
Direitos Autorais para trabalhos audiovisuais publicados na AntHropológicas Visual sã licenciados para uma licenca Creative Commons 4.0 BY-NC.