“Um dia sem nós”: A primeira greve dos migrantes na cidade de Milão, Itália

Auteurs-es

  • Vânia Fialho Universidade de Pernambuco;Universidade Federal de Pernambuco

Mots-clés :

Migração, Xenofobia, Greve, Itália

Résumé

No dia 1º de março de 2010, houve uma grande mobilização em toda a Itália. Tratou-se da “greve dos migrantes”, cujo objetivo era chamar a atenção para a política xenofóbica que vem sendo apoiada na Itália e reivindicar que alguns direitos, até então negados aos estrangeiros que ali chegavam, eram reconhecidos. Este foi um dos momentos mais interessantes para se perceber as categorias que estão em jogo nessa busca de reconhecimento por estrangeiros na Itália. Foi um dia inteiro de protestos.

Este ensaio fotográfico registra diferentes momentos desse evento na cidade italiana de Milão, desde a concentração dos participantes até o momento em que buscam as ruas. Procura destacar o intenso fluxo migratório e as estratégias de captação dos diversos grupos de imigrantes daquela cidade.

A Itália vem apresentando políticas que garantem uma posição de intolerância e se mostra refratária a diversos elementos e estrangeiros, que se intensificam em intenso com, e entre, os imigrantes no cotidiano da cidade. Em termos de políticas públicas, há uma tendência de proteção de uma sociedade fundamentalmente italiana e, ora uma negação, ora uma reapropriação de categorias que parecem ameaçá-la. Estrangeiro e extracomunitário são configurações que identificam de maneira generalizada o imigrante. No entanto, outras surgem em situações sociais nas quais o imigrante aparece como "diferente", "estrangeiro", "exótico", "outro"; raça e etnicidade, por exemplo, são criadas nos discursos e explicitadas na estimulação desde o primeiro de março.A crítica à criminalização dos imigrantes consistiu numa das principais bandeiras. Simultaneamente à acomodação, à integração e à participação em curso nos locais de trabalho e de convívio social, estresse e conflitos são intensificados. A proposta, então, é oferecer imagens desse evento, que possibilitem a elaboração de uma cartografia da ação política dos grupos de imigrantes organizados e que possibilitem uma leitura diferente das dinâmicas sociais.

A paisagem da cidade foi coberta pelo amarelo, cor assumida pela concentração, que contrastava com o cinza dos prédios e dos monumentos milaneses, e com o azul vibrante do céu ao entardecer. Os participantes se organizaram em um grupo que coordenava o movimento, esperando à frente central sindicais, partidos políticos que opunham ao governo de Sílvio Berlusconi, e italianos simpatizantes que demonstravam sua solidariedade à causa dos imigrantes. Organizados em alas, estavam peruanos, equatorianos, marroquinos, argelinos, paquistaneses, dentre outros, cuja representação se encontrava mais pulverizada.

Apesar de não se perceber a paralisação do comércio e dos serviços que são executados por imigrantes durante todo o dia, o período da noite foi marcado por uma passeata, iniciada na Piazza del Duomo, coração da cidade, que percorreu as principais ruas do centro, chegando a um palco montado em frente ao Castelo Sforzesco, outro ícone de Milão. Depoimentos, música e discursos acalorados marcaram o evento. Os cartazes, as falas e a espacialização da passeata me incitaram a identificar as categorias acionadas na movimentação dos imigrantes. À noite, juntavam-se ao amarelo - das faixas, bolas e cartazes - as tochas de fogo carregadas pelos participantes. A palavra de ordem da primeira greve de migrantes afirmava que “A Itália não existe sem nós”- “Non c'è più Italia senza di noi”.

 

Ficha técnica:

Autores: Vânia Fialho (UPE-PPGA/UFPE)

Fotografias: Vânia Fialho (UPE-PPGA/UFPE)

Direção e Texto: Vânia Fialho (UPE-PPGA/UFPE)

Edição de Imagem: Açony Santos & Tiane Souza

 

"Um dia sem nós": A primeira greve dos migrantes na cidade de Milão, Itália

Publié-e

2024-01-09

Numéro

Rubrique

Ensaios Fotográfico