Espaços simbólico-culturais no contexto das religiões afro-brasileiras: o caso do terreiro de umbanda Templo Espiritualista Pai Oxoce
DOI :
https://doi.org/10.51359/2238-6211.2024.264214Mots-clés :
RecifeRésumé
As religiões de matriz africana são em síntese a expressão de um processo de recriação e memória, em que o espaço ganha especial atenção nas dimensões simbólicas, onde as relações sociais e o contexto identitário são grandes movedores de uma simbiose entre a geografia e o sagrado. Nessa perspectiva, o objetivo deste trabalho é discutir a dimensão espacial e simbólico-cultural do Terreiro de Umbanda Templo Espiritualista Pai Oxoce, localizado no bairro do Ipsep - Recife. Para tanto, desenvolveu-se uma pesquisa de abordagem qualitativa, tendo como procedimentos metodológicos principais a observação participante, efetuada ao longo do ano de 2023; e realização de entrevistas temáticas, com base a história oral, com lideranças e membros do Terreiro. O estudo revelou que a ideia de que os espaços simbólicos de representação são, antes de tudo, o alicerce para uma definição clara a respeito do sagrado para a geografia. Há de se considerar, também, a projeção geossimbólica sobre a qual os adeptos da religião de Umbanda projetam o construto de sua crença. Cabe ainda o reconhecimento de uma dada territorialidade no espaço do Terreiro, que deve ser reitera como direito e legitimação da existência de uma comunidade e de seus costumes. Nesse sentido, destaca-se a urgência da necessidade de aprofundamentos de pesquisas sobre o assunto, tanto no que se refere ao amadurecimento do tema religião em geografia, quanto na ênfase nesse universo afro-brasileiro, o qual remonta uma historicidade ricamente povoada de relações, às vezes afetivas e familiares, outras preconceituosas e de invisibilização socioespacial.
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