Tempos no corpo: contribuições do método lefebvriano para a pesquisa urbana (latino-americana)

Autores

  • Fraya Frehse Universidade de São Paulo

Palavras-chave:

método regressivo-progressivo (Henri Lefebvre), estudos urbanos (América Latina), espaços públicos (ruas e praças), regras de comportamento corporal (pedestres)

Resumo

Quais as contribuições que, para a conceituação da diferença no mundo urbano atual, podem oferecer pesquisas sobre cidades latino-americanas orientadas pelo método regressivo-progressivo lefebvriano? Enfocar, sob tal prisma metodológico, em particular a historicidade das regras de comportamento corporal na Praça da Sé da São Paulo tal qual investigada documental e etnograficamente entre 1997 e 2012, traz para o primeiro plano analítico um espaço definido: o corpo de quem é pedestre naquele logradouro. Esse carrega indícios de quatro contribuições conceituais do método para a pesquisa urbana latino-americana e os estudos urbanos internacionais em geral, quando o assunto é diferença. O método incentiva à compreensão da complexa coexistência de tempos históricos nos corpos tanto dos seres humanos quanto das edificações e equipamentos urbanos; favorece o reconhecimento da dimensão histórica das contradições sociais implícitas no uso de ruas e praças públicas; evidencia diferenças históricas em/entre cidades que são apreensíveis no nível da prática espacial dos pedestres nos espaços públicos urbanos; ressalta a relevância conceitual crítica do tempo histórico na reflexão contemporânea sobre a produção do espaço urbano.

Biografia do Autor

Fraya Frehse, Universidade de São Paulo

Fraya Frehse é professora do Departamento de Sociologia da USP e pesquisadora colaboradora do Núcleo de Apoio à Pesquisa “São Paulo: Cidade, Espaço, Memória” (USP). Trabalha na interface de Antropologia e Sociologia com a História acerca dos seguintes temas: vida cotidiana e história pela mediação do espaço (urbano); espaço como objeto de conhecimento sociológico; mobilidade urbana; cidade e modernidade no Brasil; imagem e cultura visual no Brasil; história da cidade de São Paulo. É autora de O Tempo das Ruas na São Paulo de Fins do Império (Edusp, 2005) e de Ô da Rua! O Transeunte e o Advento da Modernidade em São Paulo (Edusp, 2011), coautora de Militão Augusto de Azevedo (CosacNaify, 2012) e co-organizadora de Roger Bastide. Impressões do Brasil (Imprensa Oficial, 2011).

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