Deambulações cotidianas: a emergência de um método na observação dos sem-teto
Palavras-chave:
cotidiano, método de pesquisa, metodologia qualitativa, percursos, sobrevivência, sem-tetoResumo
São surpreendentes as deambulações dos sem-teto pela cidade. Eles vasculham caixotes de lixo, pedincham esmolas e restos de comida, exploram recantos para passar a noite, vadiando na produção de um conhecimento muito próprio da cidade. O que se debate é a possibilidade de as ciências sociais poderem usar um método de descoberta também assente em deambulações cotidianas. É esse método que proponho tendo os sem-teto em mira. Para o efeito, coloquei à prova ideias feitas, sem vacilar em as desfazer. As pernas atrás dos sentidos, dando passo a uma metodologia que alguém já dominou de passeiologia. Interrogo-me a partir de observações do que se está a passar, eventos que se denunciam à observação e que anunciam a conjugação de um olhar distraído com um olhar contraído, a distração desafiando a atenção, só possível na concentração do rigor da observação. Qual a vantagem deste método? A de nos permitir ver a sociedade a nível dos indivíduos vendo, ao mesmo tempo, como ela se traduz na vida deles. O desafio aliciante do método é o de nos instigar a mirar e remirar achados exóticos (comportamentais) para lhes achar os avessos endóticos (sociais).
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