A luta pelo uso da maconha medicinal no Brasil: os limites das alianças e a atuação do biopoder

Autores

DOI:

https://doi.org/10.51359/2317-5427.2024.243620

Palavras-chave:

Teoria Ator-Rede, maconha – uso terapêutico, canabidiol, Ciência Cidadã, micropolítica

Resumo

Em 2014, a luta de famílias pela regulamentação no Brasil do canabidiol (CBD), um dos canabinoides da cannabis sativa, trouxe força ao debate público sobre o uso medicinal na planta. O CBD, assim, passou a ser legal no país. Com o uso de teorias e métodos associados ao mapeamento de controvérsias, esse trabalho tem dois objetivos principais: 1) mostrar quais associações institucionais e de indivíduos possibilitaram essa regulamentação; e 2) como conceitos como o biopoder (Foucault) e agenciamento (Deleuze e Guattari) podem contribuir para entender o movimento dessa rede. Enquanto o mapeamento demonstra que a conexão entre demandas de famílias com o ativismo histórico da cannabis foi essencial para que uma necessidade individual se transformasse em luta coletiva, conceitos como o biopoder e agenciamento mostram as limitações e possibilidades dessa aliança. Agenciamentos e linhas de fuga apontam como a rede se movimenta para além da demanda discursiva específica dos atores para debates mais amplos sobre o entendimento da ciência, da medicina e do papel de agências reguladoras. Há uma tendência de atores institucionais, contudo, de atuar no lado da vida (uso medicinal em crianças), deixando a guerra às drogas (o deixar morrer) de fora do debate público.

Biografia do Autor

Monique Batista de Oliveira, Universidade de São Paulo

Universidade de São Paulo. Doutoranda em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo e mestra em Divulgação Científica e Cultural pela Unicamp (2016), realiza pesquisas na área de ciência cidadã, participação social em saúde, sociologia da saúde, estudos sociais de ciência e tecnologia (ESCT), metodologias em ciências sociais, divulgação científica e gênero. 

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Entrevistas

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30-12-2024

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Artigos