Qual o lugar da branquitude na educação cearense? Percepções discente e docente de ser branca/o nesse lugar
DOI:
https://doi.org/10.51359/2317-5427.2024.260185Palavras-chave:
educação cearense, branquitude, juventude, privilégiosResumo
A desigualdade racial entre estudantes negros e brancos é um dado cristalizado em pesquisas educacionais (Hasenbalg, 1980; Munanga, 2000; Oliveira, 2019). Durante um tempo considerável, o sujeito negro se tornou objeto de pesquisa para observar essas lacunas entre esses dois grupos raciais. Entretanto, o movimento de pensar o outro personagem das relações raciais – o branco – tem se tornado uma tônica presente nos estudos étnico-raciais, a fim de viabilizá-lo e problematizá-lo nesse debate, campo esse denominado de estudos críticos da branquitude (Ramos, 1995; Cardoso, 2008; Bento, 2002). Nesse sentido, a fim de contribuir com a discussão, o presente artigo tem como objetivo pensar como estudantes brancos de duas escolas públicas de ensino médio do estado do Ceará compreendem sua raça nesse espaço. Além disso, metodologicamente, a observação participante (Caldwell; Atwal, 2005) foi necessária, bem como a realização de entrevistas semiestruturadas (Triviños, 1987) com estudantes que se autodeclaram brancos. Como resultado preliminar, observou-se que, tanto na escola A quanto na B, ainda não existem discussões cristalizadas a respeito do privilégio de pessoas brancas na sociedade. Além disso, percebeu-se que, apenas em uma das instituições, há uma percepção de privilégios, sejam eles materiais ou simbólicos, porém perceptíveis na instituição escolar, como resultado de notas em avaliações.
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