Quem cuida de quem cuida? Casos sobre remuneração do trabalho reprodutivo das mães e a crise de cuidado pós Covid-19

Autores

DOI:

https://doi.org/10.51359/2317-5427.2024.261832

Palavras-chave:

trabalho de cuidado, Teoria da Reprodução Social, desigualdades de gênero, pandemia da Covid-19, maternidades

Resumo

Este artigo busca refletir sobre a repercussão de quatro casos em que a criação de filhos pode ser analisada à luz das Teorias de Reprodução Social (TRS), tensionando a compreensão do cuidado como um trabalho a ser remunerado. A primeira, de 2022, nos Estados Unidos da América, do marido que relata que a esposa demanda uma compensação financeira para engravidar, considerando as perdas que teria após a maternidade. A segunda, de 2017, da mulher taiwanesa que processou seu filho, reivindicando indenização pelos investimentos na educação dele. O terceiro, de 2022, de uma mãe italiana que abriu um processo de despejo contra os dois filhos adultos que possuíam emprego e não queriam ajudar nas tarefas domésticas. E o quarto, de 2023, de uma mãe espanhola que conseguiu indenização do ex-marido por 25 anos dedicados ao trabalho doméstico. O artigo reflete sobre o trabalho reprodutivo das mães diante do contexto do capitalismo financeirizado neoliberal que agudizou a crise de cuidado pós-pandemia da Covid-19, provocando questionamentos sobre quem cuida de quem cuida .

Biografia do Autor

Renata Garcia Senlle, Universidade de Coimbra

Universidade de Coimbra. Doutoranda em Estudos Feministas da Faculdade de Letras e do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (Portugal). Mestre em Ciências da Comunicação pela ECA-USP, jornalista e especialista em comunicação para mobilização social. Mãe do Bernardo.

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Publicado

28-06-2024