Composição e decomposição de vivos e mortos em rotinas médico-legais
DOI:
https://doi.org/10.51359/2317-5427.2025.262067Palavras-chave:
teoria ator-rede, antropologia das práticas forenses, estudos multiespéciesResumo
Este trabalho é resultado de uma etnografia realizada entre os anos de 2021 e 2022, no Centro de Medicina Legal (CEMEL), associado à Universidade de São Paulo, campus Ribeirão Preto-SP. O objetivo desse artigo é indicar o potencial etnográfico que a ideia da “decomposição cadavérica” desperta, ao indicar a miríade de entidades não-humanas contempladas no desenrolar das rotinas médico-legais enredadas em uma “política-mais-que-humana”. Nossa discussão está ancorada, sobretudo, nos debates da sociologia associativa de Bruno Latour e nos “estudos multiespécies”, que nos oferecem uma sensibilidade singular ao papel dos não-humanos nas tramas sociais. Nesse sentido, espera-se oferecer com esse texto uma chave de leitura das rotinas médico-legais sob a ideia de uma “política-mais-que-humana” em sua relação com a gestão dos mortos.
Referências
BORDA, E. W. B.; BORDA, P. Mais antigos do que a sociedade? SARS-CoV-2 pela perspectiva ator-rede. In: CASTRO, B. Covid-19 e sociedade: ensaios sobre a experiência social da pandemia. Campinas: Unicamp IFCH, 2020. p. 331-341.
CALLON, Michel. Elementos para uma sociologia da tradução: a domesticação das vieiras e dos pescadores da baía de Saint-Brieuc. In: Alzamora, G., ZILLER, J. e COUTINHO, F. Dossiê Bruno Latour, Editora UFMG, 2020.
DOMANSKA, Ewa. The eco-ecumene and multispecies history. In: BIRCH, Suzanne (ed.). Multispecies Archaeology. London: Routledge, 2018.
FERREIRA, Maria; CUNHA, Eugénia. A decomposição cadavérica e as dificuldades de gestão dos espaços funerários. In: Antropologia Portuguesa, n. 30-31, p. 77-97. 2014.
FOUCAULT, Michel. O Nascimento da Clínica. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1987.
FRANCO, Fábio Luís. Governar os Mortos: necropolíticas, desaparecimento e subjetividade. Rio de Janeiro: Editora Ubu, 2021.
LATOUR, Bruno. On actor-network theory. A few clarifications plus more than a few clarifications. Soziale Welt, v. 47, p. 369-381, 1996.
LATOUR, Bruno. Ciência em Ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. São Paulo: Editora UNESP, 2000.
LATOUR, Bruno. Reagregando o social: uma introdução à Teoria do Ator-Rede. Bauru: EDUSC, 2012a.
LATOUR, Bruno. Enquête sur les modes d’existence: une anthropologie des modernes. Paris, Lá Découverte, 2012b.
MARTIN, Carmen; SILVEIRA, Teresa; GUIMARÃES, Marco Aurélio; MELKI, João. Centro de Medicina Legal da FMRP-USP: Relato de Sete Anos de Prática Humanitária com Cadáveres Humanos Não-Identificados. In: Medicina (Ribeirão Preto), v. 41, n.1, p. 3-6, jan./mar. 2008.
MEDEIROS, Flavia. Matar o morto: uma etnografia do Instituto Médico-Legal do Rio de Janeiro. Niterói: EDUFF, 2016.
MERLO, Gabrielly. Políticas do Composto. In: Caderno Eletrônico de Ciências Sociais, v. 8, n. 2, p. 130-152, 2020.
NADAI, Larissa. Entre pedaços, corpos, técnicas e vestígios: o Instituto Médico Legal e suas tramas. Tese de Doutorado - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Campinas, p. 323. 2018.
INGOLD, Tim. Estar vivo: ensaios sobre movimento, conhecimento e descrição. Petrópolis: Vozes, 2015.
PINHEIRO, João. Decay Process of a Cadaver. In: SCHMITT, Aurore; CUNHA, Eugénia; PINHEIRO, João (eds). Forensic Anthropology and Medicine: complementary sciences from recovery to cause of death. Totowa: Nova Jérsei. 2006.
PORTUGAL. Decreto-Lei n.º 411/98, de 30 de dezembro de 1998. Regula o regime e funcionamento dos cemitérios. Diário da República, Lisboa, 30 dez. 1998. Disponível em: https://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?nid=246&tabela=leis
SOARES, Andjara e GUIMARÃES, Marco Aurélio. Dois anos de antropologia forense no Centro de Medicina Legal (CEMEL) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP. In: Medicina (Ribeirão Preto), v. 41, n.1, p.7-11, 2008.
SOUZA, Iara de Almeida. Moscas e Vermes na Ciência. In: Ilha, v. 23, n. 2, p. 27-46, 2021.
STENGERS, Isabelle. Including Nonhumans in Political Theory: opening Pandora’s Box? In: Political Matter: technoscience, democracy and public life. London: University of Minnesota Press, 2010.
SUSSEKIND, Felipe. Sobre a vida multiespécie. In: Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, v. 69, p. 159-178, abr. 2018.
TARDE, G. Monadologia e sociologia e outros ensaios. São Paulo, Cosac & Naify, 2007 [1895].
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Pedro Borda, Stelio Marras

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License. Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado