Composição e decomposição de vivos e mortos em rotinas médico-legais

Autores

DOI:

https://doi.org/10.51359/2317-5427.2025.262067

Palavras-chave:

teoria ator-rede, antropologia das práticas forenses, estudos multiespécies

Resumo

Este trabalho é resultado de uma etnografia realizada entre os anos de 2021 e 2022, no Centro de Medicina Legal (CEMEL), associado à Universidade de São Paulo, campus Ribeirão Preto-SP. O objetivo desse artigo é indicar o potencial etnográfico que a ideia da “decomposição cadavérica” desperta, ao indicar a miríade de entidades não-humanas contempladas no desenrolar das rotinas médico-legais enredadas em uma “política-mais-que-humana”. Nossa discussão está ancorada, sobretudo, nos debates da sociologia associativa de Bruno Latour e nos “estudos multiespécies”, que nos oferecem uma sensibilidade singular ao papel dos não-humanos nas tramas sociais. Nesse sentido, espera-se oferecer com esse texto uma chave de leitura das rotinas médico-legais sob a ideia de uma “política-mais-que-humana” em sua relação com a gestão dos mortos.

Biografia do Autor

Pedro Borda, Universidade Estadual de Campinas

Universidade Estadual de Campinas. Mestrando em Antropologia Social, IFCH/UNICAMP.

Stelio Marras, Universidade de São Paulo

Universidade de São Paulo. Professor de antropologia do Instituto de Estudos Brasileiros, IEB/USP. Pesquisador Associado do Projeto Temático Fapesp Processo 2020/07886-8.

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01-04-2025

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Artigos