O ESTADO LAICO SEGUNDO O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL: ASPECTOS DA LEGALIDADE OBLÍQUA E CONTRAMAJORITÁRIA NO BRASIL
DOI:
https://doi.org/10.51359/2448-2307.2021.252585Palavras-chave:
STF, Estado laico, rule of law, legalidade, contramajoritariedade, religião, LGBTQIA .Resumo
O presente ensaio pretende debater a leitura das dimensões do Estado laico no Brasil que o Supremo Tribunal Federal tem feito em sua jurisprudência. A hipótese central é a de que ao menos nesse particular, a Suprema Corte brasileira tem construído uma legalidade oblíqua e contramajoritária como uma espécie de rule of law de defesa dos direitos de segmentos vulneráveis da população, por vezes atingidos quando levadas adiante concepções religiosas hegemônicas. As decisões analisadas, envolvendo principalmente embates entre ciência e religião e a oposição de segmentos religiosos a direitos da população LGBTQIA+ permitem a verificação da hipótese no desenvolvimento das teses nelas prevalentes e se a dita legalidade oblíqua e contramajoritária realmente está presente na concepção jurisprudencial dominante na Corte sobre o Estado laico.
Referências
ACKERMAN, Bruce. A Nova Separação dos Poderes. Trad. Isabelle Maria Campos Vasconcelos, Eliana Valadares Santos. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.
ADEODATO, João Maurício. Ética e Retórica: para uma Teoria da Dogmática Jurídica. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.
ARISTÓTELES. A Política. Trad. Roberto Leal Ferreira. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
BLANCARTE, Roberto. O porquê de um Estado laico. In: LOREA, Roberto Arriada (org.). Em Defesa das Liberdades Laicas. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008. p. 19-32.
BARNETT, Randy E. Restoring the Lost Constitution: the Presumption of Liberty. Princeton: University Press, 2004.
BAYON, Juan Carlos. Democracia y derechos: problemas de fundamentación del constitucionalismo. In: CARBONELL, Miguel; JARAMILLO, Leonardo García (org.). El canon neoconstitucional. Madrid: Trotta, 2010. p. 285-355.
BÍBLIA SAGRADA. Trad. João Ferreira de Almeida. São Paulo: Vida, 1996.
BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. 10. ed. São Paulo: Malheiros, 2003.
BRITTO, Carlos Ayres. Teoria da Constituição. Rio de Janeiro: Forense, 2003.
CUNHA, Luiz Antonio. O ensino religioso na rede estadual do Rio de Janeiro: política e legislação. In: LOREA, Roberto Arriada (org.). Em Defesa das Liberdades Laicas. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008. p. 173-188.
DIAS, Maria Berenice. A Justiça e a Laicidade. In: LOREA, Roberto Arriada (org.). Em Defesa das Liberdades Laicas. Porto Alegre: Livraria do Advogado, pp. 139-144, 2008.
DICEY, Albert Venn. Introduction to the Study of the Law of the Constitution. Indianapolis: Liberty Fund, 1982.
DWORKIN, Ronald. O Império do Direito. Trad. Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
ECO, Umberto. O Cemitério de Praga. Trad. Joana Angélica D´Ávila Melo. Rio de Janeiro: Record, 2011.
FERNÁNDEZ-CORONADO, Ana. Matrimonio islámico, orden público y función promocional de los derechos fundamentales. Revista Española de Derecho Constitucional, Madrid, n. 85, p. 125-156, 2009.
FERRAJOLI, Luigi. Pasado y futuro del Estado de derecho. In: CARBONELL, Miguel (org.). Neoconstitucionalismo(s). Madrid: Trotta, 2003. p. 13-30.
GALINDO, Bruno. Criminalização da homofobia, omissões inconstitucionais e diálogos institucionais. Disponível em http://www.justificando.com/2019/02/25/criminalizacao-da-homofobia-omissoes-inconstitucionais-e-dialogos-institucionais/. Acesso em: 23 de nov. 2021.
GALINDO, Bruno. Princípio da legalidade oblíqua e súmula vinculante: a atuação legislativa da jurisdição constitucional nos 20 Anos da Constituição de 1988. In: BRANDÃO, Cláudio; CAVALCANTI, Francisco; ADEODATO, João Maurício (org.). Princípio da Legalidade: da Dogmática Jurídica à Teoria do Direito. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 175-202.
GALINDO, Bruno. Teoria Intercultural da Constituição (a transformação paradigmática da Teoria da Constituição diante da integração interestatal na União Européia e no Mercosul). Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006.
GALINDO, Bruno. A teoria da constituição no common law: reflexões teóricas sobre o peculiar constitucionalismo britânico. Revista de Informação Legislativa, n. 164. Brasília, p. 303-316, 2004.
GARCÍA-PELAYO, Manuel. Derecho Constitucional Comparado. Madrid: Alianza, 1999.
HUACO, Marco. A laicidade como princípio constitucional do Estado laico. LOREA, Roberto Arriada (org.). Em Defesa das Liberdades Laicas. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008. p. 33-80.
HOYO, Manuel Fernández del. Igualdad y due process substantivo en la reciente jurisprudência norteamericana sobre matrimonios del mismo sexo. Revista de Estudios Políticos, n. 138, p. 157-215, 2007.
JOWELL, Jeffrey. The Rule of Law Today. In: JOWELL, Jeffrey; OLIVIER, Dawn (org.). The Changing Constitution. 5. ed. Oxford: University Press, 2004. p. 1-25.
KRAMER, Larry D. The People Themselves: popular constitutionalism and judicial review. New York: Oxford University Press, 2004.
LIMA, Flávia Santiago. Jurisdição constitucional e política (ativismo e autocontenção no STF). Curitiba: Juruá, 2014.
LOREA, Roberto Arriada. O assédio religioso. In: LOREA, Roberto Arriada (org.). Em Defesa das Liberdades Laicas. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008. p. 159-172.
MACHADO, Maria das Dores Campos. A atuação dos evangélicos na política institucional e a ameaça às liberdades laicas no Brasil. In: LOREA, Roberto Arriada (org.). Em Defesa das Liberdades Laicas. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008. p. 145-158.
MARTÍN VIDA, María Ángeles; MÜLLER-GRUNE, Sven “¿Puede una maestra portar durante las clases en una escuela pública un pañuelo en la cabeza por motivos religiosos? (Comentario a la Sentencia del Tribunal Constitucional Federal Alemán de 24 de septiembre de 2003, caso Ludin). Revista Española de Derecho Constitucional, Madrid, n. 70, p. 313-337.
MENDES, Gilmar. Estado de Direito e Jurisdição Constitucional 2002-2010. São Paulo: Saraiva, 2011.
NEVES, Marcelo. Entre Têmis e Leviatã: uma relação difícil. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
NEVES, Marcelo. A Interpretação Jurídica no Estado Democrático de Direito. In: DIREITO CONSTITUCIONAL: Estudos em Homenagem a Paulo Bonavides. São Paulo: Malheiros, 2001. p. 356-376.
NUÑEZ LADEVÉZE, Luis. Identidad democrática y libertad religiosa. Revista de Estudios Políticos, Madrid, n. 137, p. 37-66, 2007.
OLIVEIRA JR., Pe. Guaraciba Lopes de. Células-tronco embrionárias humanas: salvar uma vida justifica destruir outra? Disponível em: https://www.cnbb.org.br/celulas-tronco-embrionarias-humanas-salvar-uma-vida-justifica-destruir-outra/. Acesso em: 12 nov. 2021.
ORO, Ari Pedro. A laicidade na América Latina: uma apreciação antropológica. In: LOREA, Roberto Arriada (org.). Em Defesa das Liberdades Laicas. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008. p. 81-96.
ORTEGA, Abraham Barrero. Libertad religiosa y deber de garantizar la vida del hijo (a proposito de la STC 154/2002, de 18 de julio). Revista Española de Derecho Constitucional, Madrid, n. 75, p. 325-356, 2005.
RAWLS, John. El Liberalismo Político. Trad. Antoni Domènech. Barcelona: Crítica, 2004.
RIBEIRO, Ricardo Silveira. Política Constitucional no Supremo Tribunal Federal: uma Análise Quantitativa do Processo Decisório nas Ações Diretas de Inconstitucionalidade (1999-2004), 2007. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2007.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. O Contrato Social e Outros Escritos. Trad. Rolando Roque da Silva. São Paulo: Cultrix, 1995.
SABAU, José Ramón Polo. En torno a la naturaliza jurídica de la libertad ideológica y religiosa en la Constitución española. Revista de Estudios Políticos, Madrid, n. 129, p. 137-162, 2005.
SALDANHA, Nelson. Formação da Teoria Constitucional. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2000.
SANTORO, Emilio. Rule of law e “liberdade dos ingleses”. A interpretação de Albert Venn Dicey. Trad. Carlos Alberto Dastoli. In: COSTA, Pietro; ZOLO, Danilo (org.). O Estado de Direito: História, Teoria, Crítica. São Paulo: Martins Fontes, 2006. p. 201-263.
SIEYÈS, Emmanuel Joseph. A Constituinte Burguesa – Qu´est-ce que le Tiers État? Trad. Norma Azeredo. 3. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 1997.
TRIBE, Laurence H. American Constitutional Law. 13. ed. New York: Foundation Press, 2000. v. 1.
VALLE, Vanice Regina Lírio do (org.). Ativismo Jurisdicional e o Supremo Tribunal Federal (Laboratório de Análise Jurisprudencial do STF). Curitiba: Juruá, 2009.
VÁSQUEZ, Rodolfo. Justicia constitucional y democracia: la independência judicial y el argumento contramayoritario. In: CARBONELL, Miguel; GARCÍA JARAMILLO, Leonardo (org.). El canon neoconstitucional. Madrid: Trotta, 2010. p. 381-402.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2021 Bruno Galindo

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Os autores que publicam na Revista Acadêmica da Faculdade de Direito do Recife (doravante "RevAcadFDR") concordam com os seguintes termos de licenciamento:
(1) Autores mantém os direitos autorais e concedem à RevAcadFDR o direito da primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
(2) Autores têm autorização para assumir publicações adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial na RevAcadFDR.
(3) Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) depois do artigo ser publicado na RevAcadFDR, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).
Informações adicionais:
Os artigos publicados na Revista Acadêmica da Faculdade de Direito do Recife estão sujeitos a licença CC-BY qual, em resumo:
Permite a cópia e Redistribuição em qualquer formato, desde que atribuída sua autoria e publicação inicial na RevAcadFDR.
Adotamos esse tipo de licenciamento pois é finalidade maior da Revista Academica da Faculdade de Direito a difusão de conhecimento e não sua monopolização.