Casa de la abuela (o 20 metros de papeles sociales)

Resumen

Este ensaio visual é composto por fotoperformances que refletem as relações entre gênero, papeis sociais e arquitetura por meio de ações realizadas durante uma residência artística no interior de Minas Gerais em 2023. Na parte mais distante do espaço da residência, há uma pequena casa, a qual guarda uma arquitetura de ressonância colonial. A escala é reduzida, dando a sensação de se estar em uma casinha de brinquedo de crianças. “Parece uma casa de vó” e “parece uma casa de mãe” eram algumas das frases que repetiam os artistas quando conheciam o espaço. O feminino costurado ao doméstico me espanta: à casa se devota o corpo, os tempos e a força de trabalho gratuita feminina doméstica. Você sabe o nome que tem a força de trabalho gratuita, mas vou evitar escrever porque estes séculos, repetindo que ela era sinônimo de dom e de amor, nos impedem.

Na pequenina sala da ‘casa de vó’, me dedico um dia todo a preencher 20 metros de uma bobina de papel daqueles em que se registram valores de compras nas lojas. Registram o dinheiro que se trocar por um bem ou serviço. Neste suporte, me dedico a uma escrita rápida: quero enchê-lo com uma lista de produtos e serviços cujo valor nossa sociedade não contabiliza. Para isso, este formato de bobina de nota fiscal é interessante. Também uso uma metáfora óbvia e até mesmo ingênua: listo os papéis sociais nos 20 metros de papel. Jogo com o sentido de papel, no sentido de papel social “role”, to play, to perform, do inglês sobreposto ao sentido de “papel” de paper. Escrevo sobre o papel uma lista de papeis sociais performáticos (Taylor, 2013) desempenhados gratuitamente (Federici, 2021), forçosa e sutilmente (Butler, 2003) por seres humanos a quem se atribui o epíteto de mulheres.