ATIVIDADES COTIDIANAS, DEPOSIÇÃO DE REFUGO E AÇÃO DO ARADO: PROCESSOS DE FORMAÇÃO DO REGISTRO ARQUEOLÓGICO NO ESPAÇO DE UMA SENZALA DE CAMPOS DOS GOYTACAZES (RJ)

Autores/as

  • Isabela Cristina Suguimatsu Discente, Programa de Pós-Graduacão em Antropologia e Arqueologia, UFMG
  • Luís Cláudio Pereira Symanski Departamento de Antropologia e Arqueologia, UFMG.

DOI:

https://doi.org/10.20891/clio.v30i1p38-76

Palabras clave:

Arqueologia da escravidão, cultura material, processos de formação do registro arqueológico

Resumen

Este artigo tem por propósito apresentar os resultados do estudo dos processos de formação do registro arqueológico em um setor da senzala do Colégio dos Jesuítas de Campos dos Goytacazes (RJ). Esse espaço foi submetido à ação antrópica recente relacionada, sobretudo, à aragem para fins agrícolas. Nesse sentido, o propósito da pesquisa foi avaliar a ação do arado sobre o registro arqueológico considerando o seu impacto sobre a integridade das três principais categorias materiais que compuseram esse registro — ossos, louças e cerâmicas — em três níveis de ocupação e em dois contextos deposicionais distintos, um caracterizado pelo descarte primário e outro pelo descarte secundário. No caso do primeiro contexto, que foi um espaço de convívio cotidiano dos cativos adjacente à uma das unidades de habitação, o material foi fortemente impactado ainda no momento em que o registro arqueológico se formava e, muito posteriormente, pela ação do arado. No segundo contexto, que consistiu em uma concavidade aberta para a deposição de refugo, o material apresentou maior grau de integridade nos níveis mais profundos, porém, no nível mais superficial, o padrão de fragmentação apresentou-se similar ao evidenciado no primeiro contexto. As diferenças nos padrões de integridade do material, nesse sentido, demonstram que o registro arqueológico foi diferentemente impactado pelos processos de formação cultural.


ABSTRACT

This article approaches the cultural formation processes that acted upon the archaeological record in the area of a slave quarter from the Colégio dos Jesuítas, a sugar plantation located in Campos dos Goytacazes (RJ). This space has been recently impacted by plowing for agricultural purposes. In this study, we evaluate the differential impact of plow over three material categories – bones, pottery and ceramics (refined earthenware and majólica). This evaluation considered three occupational levels and two distinct contexts, the first one characterized by primary discard and the second by secondary discard. In the first case, the material suffered a considerable impact still during the formation of the archaeological record, as the result of the constant use of the space for daily activities. The second context, in turn, consisted in a concavity used for refuse disposal. In this case the material presented a higher integrity level in the deeper levels, whereas in the upper levels the fragmentation patterns corresponded to those ones verified on the former context. The differences in the integrity patterns indicate that the archaeological record was differentially impacted by cultural formation processes.

Keywords: Archaeology of slavery; material culture; formation processes.



Citas

ALDEN. D. 1996. The making of an enterprise: the Society of Jesus in Portugal, its empire and beyond. 1540−1750. Stanford: Stanford University Press.

ARAÚJO, A. 2001–2002. “Destruído pelo arado? Arqueologia de superfície e as armadilhas do senso comum”. Revista de Arqueologia, v. 14-15, 07−28.

BINFORD, L. 1981. “Behavioral Archaeology and the Pompeii Premise”. Journal of Anthropoogical Research, v. 3, 195−208.

FARIA, S. C. 1988. A colônia em movimento: fortuna e família no cotidiano colonial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.

FERREIRA, L. M. s./d. O solar do colégio e as políticas culturais: a preservação deste patrimônio e a sua ressignificação. Manuscrito não publicado, 14 p.

GUGLIELMO, M. G. 2011. As múltiplas facetas do vassal “mais rico e poderoso do Brasil”: Joaquim Vicente dos Reis e sua atuação em Campos dos Goytacazes (1781−1813). Dissertação de Mestrado em História. Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro.

HEATH, B.; BENNETT, A. 2000. “The little Spots allow’d them”: The Archaeological Study of African-American Yards”. Historical Archaeology, v. 34 (2), 38−55.

LAMEGO, A. 1934. A Planície do Solar e da Senzala. Rio de Janeiro: Livraria Católica.

LEWARCH, D.; O’BRIEN, M. 1981. “The expanding role of surface assemblages in archaeological research”. Advances in Archaeological Method and Theory, v. 4, 297−342.

LIMA, T. A. [et al.]. 1989. “Aplicação da Formula South a Sítios Históricos do Século XIX”. Dédalo, v. 27, 83−97.

MARCH, A. B. 1988. Verde Planície, Velho Solar. Rio de Janeiro: Ramos.

OSCAR, J. 1985. Escravidão e Engenhos: Campos; São João da Barra; Macaé; São Fidelis. Rio de Janeiro: Achiamé.

RIORDAN, T. B. 1988. “The interpretation of 17th Century Sites though Plow Zone Surface Collections: Examples from St. Mary's City, Maryland”. Historical Archaeology v. 22 (2), 2−16.

SAINT-HILAIRE, A. 1941. Viagem pelo Distrito dos Diamantes e Litoral do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional.

SCHIFFER, M. B. 1972. “Archaeological Context and Systemic Context”. American Antiquity, v. 37 (2), 156−165

SILVA NETO, A. P. 2007. Revisão da classificação da família linguística Purí. 83 f. Dissertação de Mestrado em Linguística, Universidade de Brasília, Brasília.

SLENES, R. W. 1999. Na senzala uma flor: esperanças e recordações na formação da família escrava, Brasil Sudeste, século XIX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.

SOARES, M. S. 2009. A remissão do cativeiro: a dádiva da alforria e o governo dos escravos nos Campos de Goitacazes, c.1750- c.1830. Rio de Janeiro: Apicuri.

SOUTH, S. 1972. “Evolution and Horizon as Revealed in Ceramic Analysis in Historical Archaeology”, The Conference on Historical Site Archaeology Papers, v. 6, 71−116.

_______. 1977. Method and Theory in Historical Archaeology, New York: Academic Press.

ZETIRRY, A. 1894. A lavoura no estado do Rio de Janeiro. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro.

Publicado

2015-07-01

Número

Sección

Artigo