Carta à cultura

Authors

DOI:

https://doi.org/10.51359/2763-7425.2022.255767

Keywords:

dança, quadrilha junina, São João, cultura

Abstract

Olá! Me chamo Dayane, sou natural de Caruaru, Pernambuco, um pedacinho de terra no agreste pernambucano conhecido como “A Capital do Forró” e que tem seu ápice cultural durante o mês de junho. Como cidadã caruaruense, o São João sempre foi uma data importante. Fazia questão de participar das quadrilhas juninas do meu colégio. Alugar vestido, sapato, tiara, faixa e preparar todos os detalhes para o momento da minha apresentação fazia parte dos gastos anuais da minha mãe. Desde do ensino médio, não dancei mais em quadrilhas e aquela paixão foi esfriando e se fixou como um marco de uma infância e adolescência. Após esse período, a dança continuou muito ligada a mim. Meu interesse nunca foi me profissionalizar nessa área. Mas, sempre foi deixar meu físico me guiar em uma zona que eu descobria a cada dia. E em 2022, eu buscava por um desafio físico e social. Em abril deste mesmo ano resolvi começar os ensaios e não esperava que uma mera vontade fosse se transformar em um dever. Os meus fins de semana foram tomados, meu dinheiro destinado à comprar maquiagens, figurino e pagar passagem entre uma cidade e outra. Foram incontáveis as vezes que eu tremia de tristeza e raiva, pensando no sufoco que eu estava me metendo. Porém, eu não conseguia sair. Nas apresentações há uma completa entrega, um envolvimento e um propósito que só quem compartilha do amor por uma quadrilha junina pode enxergar. A luta para manter essa tradição era diária, e coletiva. Conto hoje minhas agonias, mas ela não foi a única. Com mais de 50 pessoas envolvidas (entre dançarinos e apoio técnico), os problemas econômicos e pessoais também apareceram para elas. Uma vontade superior de fazer a cultura acontecer e ser expandida para outros locais podia ser enxergada no olhar de cada um. Incluindo no meu. Mais do que nunca, hoje sei o peso que é manter uma tradição cultural, sem apoio do governo e dependendo de um fio forte, porém estreito, chamado amor. E agora faço parte dessa Flor. Ela brotou e se enraizou no meu peito, mostrando que fazer arte é principalmente se deixar levar.

Author Biographies

Daniele Cristina Santos Leite, Universidade Federal de Pernambuco

Graduanda no curso de Comunicação Social do Centro Acadêmico do Agreste

Dayane Jeniffer Silva Carvalho, Universidade Federal de Pernambuco

Graduanda no curso de Comunicação Social do Centro Acadêmico do Agreste

Published

2022-10-27