MONSTROS FORA DO ARMÁRIO: A CATEGORIZAÇÃO DO INIMIGO POLÍTICO NO BRASIL CONTEMPORÂNEO
Schlagworte:
inimigo interno, criminalização, categoria monstro, inimigo político no Brasil.Abstract
Desde meados do intempestivo século XX, solo de onde emergiram as grandes guerras mundiais e o fenômeno inédito do totalitarismo, a temática que concerne à produção do inimigo interno tornou-se notória pelas formulações do jurista alemão Carl Schmitt (2008; 2009; 2014), assessor jurídico do III Reich. Doravante, muito se produziu acerca deste assunto, passando pela seminal tese do biopoder e da biopolítica de Michel Foucault (1987; 1997; 2005; 2014; 2015), por Judith Butler (2011; 2015) e a discussão sobre reconhecimento e o conceito de humanidade, chegando até os reposicionamentos propostos por Giorgio Agamben (2004; 2007) à tese schmittiana do Estado de exceção.
Nesse sentido, o presente artigo se propõe a apresentar brevemente conexões entre o escopo da teoria política, notadamente no que diz respeito à categorização do inimigo interno, com a produção e os deslocamentos que o conceito de monstro tem sofrido da passagem da Idade Média à Modernidade, se debruçando com maior atenção sobre tal conceito e tecendo, finalmente, algumas aproximações com o Brasil contemporâneo, através de casos exemplares veiculados pela mídia. Para tanto, os autores que subsidiaram as reflexões aqui apresentadas foram Claude Kappler (1994), Jeffrey Cohen (2000) e José Gil (2006) no que tange ao conceito de monstro, além das importantes contribuições da filósofa argentina Andrea Torrano (2013; 2014) na conceituação da tanatopolítica.
Por fim, este trabalho se divide em três seções subsequentes à introdução: 1) definição e deslocamento do conceito de monstro, da Idade Média até o início da modernidade; 2) deslocamento do conceito de monstro para a esfera política; 3) criação do inimigo político, exemplos do Brasil contemporâneo; seguido pelas referências bibliográficas.
Literaturhinweise
AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer: O Poder Soberano e a Vida Nua. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007.
_________________. Estado de Exceção. São Paulo: Boitempo, 2004.
BUTLER, Judith. Quadros de guerra: quando a vida é passível de luto? Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.
_____________. Vida Precária. Contemporânea – Revista de Sociologia da UFSCar. São Carlos, v.1, n.1, p. 13-33, 2011.
COHEN, Jeffrey Jerome. A Cultura dos Monstros: Sete Teses, in SILVA, Tomaz Tadeu da (org.), Pedagogia dos Monstros, Belo Horizonte, Autêntica, 2000.
FOUCAULT, Michel. A prosa do mundo in As palavras e as coisas, São Paulo, MartinsFontes, 1987.
__________________. A sociedade punitiva; O poder psiquiátrico; Os anormais in Resumo dos cursos do Collège de France, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1997.
_________________. “É preciso defender a sociedade”, Segurança, território e
População; Nascimento da biopolítica in Resumo dos cursos do Collège de France, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1997.
_________________. Em defesa da Sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
_________________. Vigiar e Punir. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2014.
_________________. Microfísica do Poder. São Paulo: Paz e Terra, 2015.
GIL, José. Metafenomenologia da monstruosidade: o devir-monstro, in Monstros, Lisboa, Relógio D´água, 2006.
HOBBES, Thomas. Leviatã: ou Matéria, Forma e Poder de um Estado Eclesiástico e Civil. São Paulo: Martin Claret, 2008.
KAPPLER, Claude. A noção de monstruosidade, in Monstros, Demônios e
Encantamentos no Fim da Idade Média, São Paulo, Martins Fontes, 1994.
LIONÇO, Tatiana. Liberdade religiosa ou discurso de ódio in https://constitucionalismo.com.br/demonizacao-liberdade-religiosa-ou-discurso-deodio/.
MARTINS, José de Souza. Linchamento, o lado sombrio da mente conservadora. Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 8(2): 11-26, outubro de 1996.
PARÉ, Ambroise. De las causas de los monstruos, in Monstruos y prodígios, Madrid, Siruela, 2000.
SCHMITT, Carl. Dictatorship: From the origin of the modern concept of sovereignty
to proletarian class struggle. Cambridge: Polity Press, 2014.
____________. Teologia Política. Madrid: Trotta, 2009.
____________. O Conceito do Político. Belo Horizonte: Del Rey, 2008.
TORRANO, Andrea. Por una comunidad de monstruos. Caja muda, 2013.
_________________. El monstruo en la política. Defender la sociedad del
hombre-lobo. Contemporânea – Revista de Sociologia da UFSCar. São Carlos, v. 3, n. 2, jul-dez. 2013, pp. 429-445.
_________________. Animalización y monstrificación en la biopolítica. Una
consideración teratopolítica del nazismo. Revista Latinoamericana de estúdios críticos animales, n.1, v. 2, outubro 2014.
Downloads
Veröffentlicht
Ausgabe
Rubrik
Lizenz
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).