LINHAS DE FUGA, AGENCIAMENTOS E CORPOREIDADES: REFLEXÕES SOBRE DIMENSÕES INFINITESIMAIS DA LUTA ANTIMANICOMIAL DE BELO HORIZONTE / LINES OF SCAPE, ASSEMBLAGES AND CORPOREITIES: REFLECTIONS ON INFINITESIMAL DIMENSIONS OF THE ANTIMANICOMIAL STRUGGLE OF BELO HORIZONTE
Palabras clave:
Micropolítica, Resistência Política, Corporeidade, Luta antimanicomialResumen
O presente trabalho pretende apresentar uma etnografia (da) política produzida pela Associação dos Usuários de Saúde Mental de Minas Gerais (ASSUSAM-MG), instituição que faz parte da rede de luta antimanicomial de Belo Horizonte. A partir de trabalho de campo realizado junto a este grupo desde o ano de 2015, contando com a aliança do pensamento de Foucault, Axel Honneth e Gilles Deleuze, verificou-se que a ausência de reconhecimento material, simbólico e afetivo é uma experiência recorrente na vida destes sujeitos, justificando e catalisando sua ação coletiva. Esta situação se perpetua, muitas das vezes, como consequência de um estigma da loucura que estrutura pré-conceitos, assimetrias e opressões sociais experienciadas por sujeitos em situação de sofrimento mental em suas interações cotidianas. Não obstante, o trabalho empírico demonstrou que este reconhecimento negado, identificado tanto no plano discursivo como performativo dos corpos da ASSUSAM-MG, é também princípio produtivo de linhas de fuga e estratégias de resistência frente às impossibilidades e obstruções sociais. Tais acontecimentos e potencialidades são também acionados, intelectivamente, como forma de deslocamento, produção de tensão e descolonização do pensamento acadêmico por questionar modelos e categorias das ciências políticas que desconsideram a importância das agências afetivas e corporais em processos políticos de resistência às margens do Estado, como na teoria deliberativa de Habermas. Desse modo, demonstramos que um movimento social é um processo que produz e é produzido por um agenciamento coletivo multidimensional, que articula corpos, afetos, ética, comunicação e estética, inerentes ao processo de resistir e existir.
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