Frei Joaquim do Amor Divino Caneca:

um pensador entre independências e constituições

Autores

DOI:

https://doi.org/10.51359/2448-2307.2025.264481

Palavras-chave:

Independência, Brasil Império, Liberalismo, Confederação do Equador, Frei Caneca

Resumo

Este artigo tem como objeto de estudo o pensamento constitucional de Frei Joaquim do Amor Divino Caneca no contexto das agitações políticas em Pernambuco, entre 1822 à 1824. Nesse período, o autor exerceu maior atuação política a partir da publicação, discussão e defesa de suas ideias no cenário político pernambucano. A pesquisa segue uma revisão bibliográfica da literatura histórica e constitucional brasileira, pela análise de fontes primárias como documentos oficiais manuscritos e panfletos, interpretados segundo a história dos conceitos e o contextualismo histórico. O artigo aborda o papel do autor na formação de uma cultura constitucional e republicana em Pernambuco; examina as discussões em torno do poder moderador; explora, ainda, o significado de conceitos como república, confederação e constituição segundo Caneca; também aborda os precedentes da revolução de 24, o embate entre as Cortes de Lisboa e a Corte do Rio de Janeiro e as continuidades e rupturas após a outorga da Constituição brasileira. Observa-se que o pensador, ao longo de sua trajetória política, defendeu o conteúdo da Constituição antes de sua forma. Caneca argumentava que o contrato social deveria ser voluntário, legitimado pela vontade soberana do povo e que as províncias eram livres para aderir ou não à nova Constituição. Contrariando a elite coimbrã, ele criticava a atribuição de funções legislativas ao Imperador, rejeitando a ideia de um poder executivo forte. Caneca foi fundamental para o desenvolvimento das bases teóricas da Confederação do Equador e a redefinição dos conceitos de República e Federação no Brasil.

Biografia do Autor

Marcelo Casseb Continentino, Universidade de Pernambuco e Universidade Federal Rural do Semi-Árido

Doutor em Direito pela Universidade de Brasília (UnB)/Università degli Studi di Firenze. Professor da Faculdade de Direito da Universidade de Pernambuco (FCAP/UPE) e do Programa de Pós-Graduação em Direito (Mestrado) da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA). Sócio efetivo do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP) e do Instituto Brasileiro de História do Direito (IBHD).

Gabriel Muniz Pereira Simões, Univsersidade de Pernambuco

Graduando em Direito pela Universidade de Pernambuco. Pesquisador vinculado Programa Institucional de Iniciação Científica (PIBIC) da UPE. Ex-monitor das disciplinas de Introdução ao Estudo do Direito e História do Direito

Referências

ANDRADA E SILVA, José Bonifácio de. Obra Política de José Bonifácio. Organizado por Octaciano Nogueira. Brasília: Senado Federal, 1973. 2 v.

BOSI, Alfredo. A escravidão entre dois liberalismos. Estudos Avançados, v. 2, n. 3, p. 4–39, 1988.

BERNARDES, D. A. de M. Pacto social e constitucionalismo em frei Caneca. Estudos Avançados, [S. l.], v. 11, n. 29, p. 155-168, 1997. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/eav/article/view/8977. Acesso em: 5 set. 2022.

O patriotismo constitucional: Pernambuco, 1820-1822. São Paulo: Hucitec, 2006.

BOSI, Alfredo. A escravidão entre dois liberalismos. Estudos Avançados, v. 2, n. 3, p. 4-39, 1988.

BRASIL. Decreto N02 de Março de 1821. Coleção de Leis do Império do Brasil – 1824. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/historicos/dim/dim-2-3-1821.htm. Acesso em: 6 set. 2022.

Annaes da Assemblea Nacional Constituinte de 1823. Tomo Quinto. Rio de Janeiro: Typographia do Imperial Instituto Artístico, 1880.

BRASIL. Constituição de 1824. Coleção de Leis do Império do Brasil – 1824. v. 1. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao24.htm. Acesso em: 17 maio. 2022.

CANECA, Frei Joaquim do Amor Divino. Typhis Pernambucano (1824). In: Frei Joaquim do Amor Divino Caneca. Organizado por Evaldo Cabral de Mello. São Paulo: Editora 34, 2001.

Ensaios políticos. Rio de Janeiro: Editora Documentário, 1976.

CARVALHO, Marcus J. M. de. Liberdade: Rotinas e rupturas do escravismo no Recife 1822-1850. Recife: Cepe, 2022.

CONGRESSO DOS ESTADOS UNIDOS. Código dos Estados Unidos: Artigos da Confederação -1952. 1952. Periódico. Disponível em: www.loc.gov/item/uscode1952-001000005/. Acesso em: 13 jul. 2024.

CONTINENTINO, Marcelo Casseb. A Revolução Republicana de 1817: em busca de uma cultura constitucional brasileira. Revista Jurídica da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (REJUR): v. 1, p. 57-67, 2017.

Marcelo Casseb. Tempos de constituição: perspectivas e paradoxos da Lei Orgânica da Revolução Republicana de 1817. Revista do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro (IHGB): ano 178, v. 475, p. 15-42, set/dez, 2017.

HAITI. (1805). Constitution Imperiale d’Haiti. El pensamiento constitucio-nal hispanoamericano hasta 1830. v. 42, t. III. ed. Caracas: Academia Nacional de la Historia, 1961. p. 159-170. Disponível em: https://decolonialucr.files.wordpress.com/2014/09/consti-tucion-imperial-de-haiti-1805-bilbioteca-ayacucho.pdf. Acesso em: 10 jul. 2021.

ISRAEL, Jonathan. J. G. A. Pocock and the ‘Language of Enlightenment’ in ‘His Barbarism and Religion. Journal of the History of Ideas, v. 77, n. 1, p. 107–27, 2016.

KOSELLECK, Reinhart. Future Past (on the semantics of historical times). Transl. Keith Tribe. New York: Columbia University, 2004.

LYNCH, Christian Edward Cyril. O discurso político monarquiano e a recepção do conceito de poder moderador no Brasil (1822-1824). Dados, v. 48, n. 3, p. 611-653, 2005.

O momento monarquiano: o Poder Moderador e o pensamento político imperial. 2007. Tese (Doutorado em Ciência Política) – Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro – IUPERJ. Rio de Janeiro, 2007.

LYNCH, Christian Edward Cyril. O Poder Moderador na Constituição de 1824 e no anteprojeto Borges de Medeiros de 1933. Revista de Informação Legislativa. Brasília, v. 47, p. 93-111, 2010.

MELLO, Evaldo Cabral de. A outra Independência: O federalismo pernambucano de 1817 a 1824. 1. ed. São Paulo: Editora 34, 2004.

Frei Caneca ou a outra independência. In: Frei Joaquim do Amor Divino Caneca. Organizado por Evaldo Cabral de Mello. São Paulo: Editora 34, 2001.

NEVES, Lúcia M. Bastos Pereira das. Corcundas constitucionais: cultura política (1820-1823). Rio de Janeiro: Revan, 2003.

PINHEIRO, Leonardo Moraes de Araújo. Constitucionalismo de Batina: a ideia de Constituição do clero revolucionário pernambucano entre 1817 e 1824. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2022.

POCOCK, J. G. A. Historiography and Enlightenment: a view of their history. Modern Intellectual History, v. 5, n. 1, p. 83-96, 2008.

Barbarism and religion. The Enlightenments of Edward Gibbon (1737-1764). Cambridge: Cambridge University Press, 2004. v. 1.

QUEIROZ, Marcos Vinícius Lustosa. Constitucionalismo brasileiro e o atlântico negro: a experiência constitucional de 1823 diante da Revolução Haitiana. 200 f. Tese (Doutorado em História) – Universidade Federal de Brasília, Brasília, 2017.

VEIGA, Gláucio. Teoria do poder constituinte em Frei Caneca. Recife: Editora da UFPE, 1975

VEIGA, Gláucio. História das ideias da Faculdade de Direito do Recife. Recife: Universitária, 1980. v. 1.

Downloads

Publicado

2025-07-02