A estrutura racialmente enviesada da percepção espacial da branquitude
DOI:
https://doi.org/10.51359/2357-9986.2024.263271Palabras clave:
vieses implícitos, de-suturação, hábitos, percepção racial, percepção espacialResumen
Durante as últimas décadas, pesquisas empíricas em psicologia social têm mostrado uma influência significativa de vieses implícitos sobre o modo como pessoas negras são percebidas e categorizadas. Ainda não é claro, no entanto, que a mesma metodologia possa ser empregada para aferir a presença de vieses implícitos na percepção espacial. O objetivo deste artigo será argumentar que a percepção do espaço é também racialmente enviesada, embora não no mesmo sentido pressuposto por grande parte da psicologia empírica. De acordo com a presente proposta, vieses implícitos serão entendidos como hábitos perceptuais corporificados. Tais hábitos são moldados por categorias raciais e podem tomar a forma do que chamaremos de “expansividade branca”, em que o espaço é percebido em termos de expansão e permissibilidade. Essa permissibilidade, no entanto, é uma marca de privilégio e não de competência, constituindo-se em uma percepção racialmente enviesada do espaço. Confrontar a racialidade implícita desses espaços demanda o que o filósofo George Yancy chama de “de-suturação”, uma abertura afetiva e epistêmica que expõe a ilusão de neutralidade do espaço e a reconceitualiza como opressora para os não-brancos que ocupam esses mesmos espaços.
Citas
AHMED, S. “A phenomenology of whiteness”. Feminist Theory v.8, n.2, 2007, p.149–167.
BARBOSA e SILVA, L. “Racismo Institucional e as Oportunidades Acadêmicas nas IFES.” Revista Brasileira de Ensino Superior, v.3 n.3, 2017, p. 80-99.
BEAUVOIR, S. O Segundo Sexo. Tradução: Sérgio Milliet. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009 (1949).
BOURDIEU, P. The Logic of Practice. Redwood City: Stanford University Press, 1980.
BROWNSTEIN, M.; MADVA, A. & GAWRONSKI, B. “What do implicit measures measure?” Wiley Interdisciplinary Reviews: Cognitive Science v.10, n.5, 2019, p. 1–13.
FAZIO, R.H.; SANBONMATSU, D.M.; POWELL, M,C. & KARDES, F.R. “On the Automatic Activation of Attitudes.” Journal of Personality and Social Psychology v.50, n.2, 1986, p. 229–238.
GAWRONSKI, B. & BODENHAUSEN, G. “The associative-propositional evaluation model: Theory, evidence, and open questions.” In: OLSON, J. M. & ZANNA, M. P. (orgs.), Advances in experimental social psychology. Cambridge: Academic Press, 2011, p. 59-127.
GREENWALD, A.G.; MCGHEE, D.E.; SCHWARTZ, J.L.K. “Measuring individual differences in implicit cognition: The implicit association test.” Journal of Personality and Social Psychology v.74, n.6, 1998, p. 464–1480.
HUGENBERG, K. & BODENHAUSEN, G. “Facing Prejudice: Implicit prejudice and the perception of facial threat.” Psychological Science v.14, n.6, 2003, p. 640–643.
HUGENBERG, K. & BODENHAUSEN, G. “Ambiguity in social categorization: The role of prejudice and facial affect in race categorization.” Psychological Science v.15, n.5, 2004, p 342–345.
JAMES, W. Principles of Psychology Vol. 1. New York: Dover Publications, 1950 (1890).
LEBOEUF, C. “The Embodied Biased Mind”. In: BEEGHLY, E. & MADVA, A. (orgs.). An Introduction to Implicit Bias: Knowledge, Justice, and the Social Mind (pp. 41–56). New York: Routledge, 2020, p. 41-56.
MACHERY, E. “Anomalies in implicit attitudes research.” Wiley Interdisciplinary Reviews: Cognitive Science v.13, n.1, 2022, p. 1–15.
MEDINA, J. The Epistemology of Resistance: gender and racial oppression, epistemic injustice, and resistant imaginations. Oxford: Oxford University Press, 2013.
MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da Percepção. Tradução: Carlos Alberto Ribeiro de Moura. São Paulo: Martins Fontes, 2022 (1945).
MILLS, C. “Alternative Epistemologies.” In: MILLS, C. Blackness Visible: Essays on Philosophy and Race. Ithaca: Cornell University Press, 1998, p. 21-40.
MILLS, C. O Contrato Racial. Tradução: Teófilo Reis e Breno Santos. Rio de Janeiro: Zahar, 2022 (1997).
PAYNE, B.K; CHENG, C.M.; GOVORUN, O; STEWART, B.D. “An inkblot for attitudes: Affect misattribution as implicit measurement.” Journal of Personality and Social Psychology v.89, n.3, 2005, p. 277–293.
PAYNE, B.K. & GAWRONSKI, B. “A History of Implicit Social Cognition: Where Is It Coming From? Where Is It Now? Where Is It Going?” In: GAWRONSKI, B. & PAYNE, B.K. (orgs.). Handbook of Implicit Social Cognition. New York: Guilford Press, 2010, p. 19-37.
PRICE, J; WOLFERS, J. “Racial Discrimination Among NBA Referees.” The Quarterly Journal of Economics v.125, n.4, 2010, p. 1859-1887.
SÁ MOREIRA, F. “Estudos Filosóficos Sobre o Negro no Brasil: Um levantamento de teses e dissertações em temáticas negras nos programas de pós-graduação da área de filosofia (1987-2018).” Problemata v.10, n.2, 2019, p. 313-345.
SÁ MOREIRA, F. “Negros em Programas de Pós-Graduação em Filosofia no Brasil. Educação e Filosofia v. 37, n. 79, 2023, p. 429–454.
SANTOS, E.S; GOMES, N.L.; SILVA, G.M. & BARROS, R.C.S. “Racismo Institucional e Contratação de Docentes nas Universidades Federais Brasileiras.” Educação e Sociedade v. 42, 2021, e253647.
SULLIVAN, S. “Race, Space, and Place.” In: SULLIVAN, S. Revealing whiteness: the unconscious habits of racial privilege. Bloomington: Indiana University Press, 2006, p. 143-166.
WILSON, J.P.; HUGENBERG, K.; RULE, N.O. “Racial bias in judgments of physical size and formidability: From size to threat.” Journal of Personality and Social Psychology v.113, n.1, 2017, p.59–80.
YANCY, G. “Introduction: un-sutured.” In: YANCY, G. (org.), White self- criticality beyond anti-racism: how does it feel to be a white problem? Lanham: Lexington Books, 2015, p. xi-xxvii.
YOUNG, I.M. “Throwing like a girl: a phenomenology of feminine body comportment, motility, and spatiality.” In: YOUNG, I.M. On Female Body Experience. Oxford: Oxford University Press, 2005, p. 27-45.
Descargas
Publicado
Número
Sección
Licencia
Derechos de autor 2024 Felipe Nogueira de Carvalho

Esta obra está bajo una licencia internacional Creative Commons Atribución 4.0.
A Revista Perspectiva Filosófica orienta seus procedimentos de gestão de artigos conforme as diretrizes básicas formuladas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). http://www.cnpq.br/web/guest/diretrizesAutores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
Os autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, sendo o trabalho simultaneamente licenciado sob https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.pt_BR que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
Os autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista, com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista (Consultar http://opcit.eprints.org/oacitation-biblio.html).

Esta revista está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.