Para que não se possa e para que se possa fazer filosofia

notas sobre racialização, colonização e descolonização institucional

Autores/as

DOI:

https://doi.org/10.51359/2357-9986.2024.263272

Palabras clave:

política epistêmica, formação, filosofia, racismo, colonialidade

Resumen

Uma vez que as instituições de ensino e pesquisa de filosofia se ocupam de tradições de pensamento e formam pessoas beneficiadas e atingidas pelo contrato racial, parece adequado pensar que quando políticas coloniais ou de modernização dependente estruturam a disciplina de filosofia em universidades o conhecimento legitimado e valorizado por relações assimétricas reafirma e rearranja desigualdades. Neste trabalho se investiga o estabelecimento de modos de valorizar e desvalorizar formas de pensar constituindo impossibilidades e possibilidades de fazer filosofia nas instituições do saber. Resulta da análise desenvolvida a afirmação que das disposições para que se possa fazer filosofia em territórios europeus e em historicidade compassada à modernidade se produzem expectativas de sucesso e divisões do trabalho intelectual e das disposições para que não se possa fazer filosofia fora do norte ocidental ou em historicidade descompassada de sua modernidade se prometem fracassos e supressão da criação teórica. Em termos concretos isso significa que as práticas de formação sob a racialização e a colonização preservam uma geopolítica econômica conhecida: a teoria, como pensamento de alto valor agregado, deve ser importada da metrópole. Em consonância com essa ordem, se nada mudar, para as futuras carreiras de professor de filosofia política nas universidades serão contratados especialistas em autores como Rousseau e rejeitados possíveis pensadores como Fanon.

Biografía del autor/a

Revista Perspectiva Filosófica, Université Paris Cité

Doutorando em Filosofia Política pela Université Paris Cité (ED 624, LCSP)

Citas

ARANTES, Paulo. Um Departamento Francês de Ultramar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994.

ARANTES, Paulo. Conversa com um filósofo zero à esquerda, in: Zero à esquerda. São Paulo: Conrad, 2004.

BA, Mame-Penda; GOUDIABY, Jean Alain. Les sciences humaines et sociales au Sénégal: Une évaluation critique. Dakar: CODESRIA, 2016.

BESSONE, Magali. Franz Fanon en équilibre sur la color line. In: FANON, Frantz. Ouevres. Paris: La Découverte, 2011. p. 23-43.

BOULAGA, Fabien Éboussi. La Crise du Muntu. Paris: Présence Africaine, 1977.

CABRERA, Julio. « Comment peut-on être un philosophe français au Brésil ? », Cahiers Critiques de Philosophie, août-septembre 2016 (no 16), p. 59-85.

CAPELLE, Jean. L'Éducation en Afrique noire à la veille des Indépendances, 1946-1958. Paris: Karthala, 1990.

CARNEIRO, Sueli. Lázaro Ramos entrevista Sueli Carneiro (Programa Espelho). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=KKWhDkulnMA. Acesso em: 30 jul. 2023.

CHAUI, Marilena de Souza. Iniciação à filosofia. São Paulo: Ática, 2010.

CHICO SCIENCE E NAÇÃO ZUMBI. A Cidade. In: CHICO SCIENCE E NAÇÃO ZUMBI. Da Lama ao Caos. Rio de Janeiro: Chaos, 1994.

DIAGNE, Souleymane Bachir. Le fagot de ma mémoire. Paris: Philippe Rey, 2021.

DIOP, Cheikh Anta. Nations nègres et culture. Paris: Présence Africaine, 1979.

DUSSEL, Enrique. « Una nueva edad en la historia de la filosofía: el diálogo mundial entre tradiciones filosóficas », Educación Superior jan/abr. 2009 (no 43-44), p. 44-58.

FANON, Frantz. Peau Noire, Masques Blanches. In: Ouevres. Paris: La Découverte, 2011.

GONZALEZ, Lélia. Cultura, etnicidade e trabalho: Efeitos linguísticos e políticos da exploração da mulher. In: GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano: ensaios, intervenções e diálogos. Rio de Janeiro: Zahar, 2021.

KANE, Cheikh Hamidou. L’Aventure ambiguë. Paris: 10/18, 2016.

KISUKIDI, Nadia Yala. « Décoloniser la philosophie ou de la philosophie comme objet anthropologique », Présence Africaine, vol. 192, 2016, p.83-98.

LUSTE BOULBINA, Seloua. « Decoloniser les institutions ». Mouvements 2012 vol. 72 (no 4), p. 131-141.

MAUGÜE, Jean. Les dents agacée. Paris: Buchet/Chastel, 1982.

MBEMBE, Achille. « Decolonizing the university: New directions », Arts & Humanities in Higher Education (no 1), 2016, p. 29–45.

MILLS, Charles W. The racial contract. Ithaca: Cornell University Press, 1997.

NASCIMENTO, José do. La Pensée Politique de Cheikh Anta Diop. Paris: L’Harmattan, 2020.

QUIJANO, Aníbal. « Colonialidad del poder, eurocentrismo y América Latina » Cuestiones y horizontes: de la dependência histórico-estructural a la colonialidade/descolonialidad del poder, Buenos Aires, CLACSO, 2014, p. 777-832.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discours sur l’origine et les fondements de l’inégalité parmi les hommes. Paris: Flammarion, 2008.

SAFATLE, Vladimir Pinheiro. « Identitarismo branco », El País. 05/09/2020. Disponível em: https://brasil.elpais.com/opiniao/2020-09-04/identitarismo-branco.html#?sma=newsletter_brasil20200905.

SEABRA, Murilo; DANTAS, Arthur de Moura. Radicalizando Fernando Sá Moreira: não existe descolonização parcial. Disponível em: https://anpof.org.br/comunicacoes-leitura.php/coluna-anpof/radicalizando-fernando-sa-moreira-nao-existe-descolonizacao-parcial?cat=coluna-anpof&code=radicalizando-fernando-sa-moreira-nao-existe-descolonizacao-parcial. Acesso em 29 jul. 2023.

XXXXX, « A modernização do pensar como violência: o legado das missões francesas da USP e o caso Jean Maugüé », Problemata, v. 6, p. 202-221, 2015.

Publicado

2024-11-21

Número

Sección

Numero especial: Filosofia da Raça