Eufemismo como estratégia

o projeto de engenharia conceitual do dossiê Comfort Women

Resumo

Este artigo examina o dossiê asiático Comfort Women à luz da discussão filosófica contemporânea sobre engenharia conceitual. Investiga-se como as classificações e tipologias do arcabouço teórico de engenharia conceitual podem ser aplicadas a esse caso histórico, que é objeto de interesse em áreas como sociologia, direitos humanos e política internacional. A análise do dossiê discerne três elementos linguísticos: (i) lexical; (ii) pragmático; e (iii) semântico. A expressão comfort women refere-se às mulheres, em sua maioria jovens coreanas, submetidas a escravidão sexual pela hierarquia militar do Japão imperial no contexto da II Guerra Mundial. Originalmente concebido pelo sistema patriarcal opressor de forma cínica, o léxico foi pragmaticamente apropriado como eufemismo pelas vítimas em sua autoidentificação e luta por justiça. Tal reúso teve o fim estratégico de contornar estigmatização moral e outros obstáculos socioculturais derivados de elementos conservadores e patriarcais de matriz confucionista na sociedade coreana. O artigo enfatiza que o projeto de engenharia conceitual no caso consiste em preservar o item lexical e corrigir seu valor semântico (significado/intensão). Adicionalmente, apresenta, de modo sucinto, tanto a discussão normativa sobre qual descrição deveria – ou não – ser adotada para designar as vítimas e por quê (Ética Conceitual), quanto reflexão inspirada na Pragmática e, em particular, no debate sobre insultos e expressões pejorativas.