Raça e Política: críticas brasileiras ao ativismo negro
DOI:
https://doi.org/10.51359/2357-9986.2024.260341Palavras-chave:
política identitária, racismo, Risério, BoscoResumo
Antônio Risério e Francisco Bosco têm dirigido críticas contundentes às estratégias políticas de ativistas negros. Risério, em particular, acusa-os de autoritarismo e fascismo. Nesse artigo eu apresento e discuto três pontos fundamentais acerca do assim chamado ativismo identitário de esquerda, especialmente do ativismo negro ou antirracista, abordados pelos autores mencionados: o caráter particularista da política identitária; as críticas centradas na acusação de autoritarismo discursivo e as críticas ligadas à retórica vitimista e agressividade de ativistas. Ofereço, em contrapartida, um conjunto de razões para sustentar que o conceito de política identitária adotado envolve uma oposição entre universalismo e identidade que pode ser questionada; que há, em muitos casos, confusão entre universalismo e uma perspectiva branca de sociedade; que as críticas de agressividade, irracionalidade e autoritarismo no ativismo, especialmente defendidas por Risério, envolvem posturas de arrogância intelectual, ignorância e insensibilidade racial, além de estimular imagens desumanizadoras de atores políticos fundamentais.
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