A efetivação do direito à memória e à titulação das comunidades quilombolas: entre idas e vindas.

Autores

  • Anna Christina Freire BARBOSA Professora Adjunta na Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e na Faculdade de Petrolina (FACAPE).
  • Vitória Souza da SILVA

Palavras-chave:

direito à memória, direito à titulação das terras das comunidades quilombolas, disputa, efetivação.

Resumo

Resumo: Este ensaio tem como objetivo tratar do direito à memória e a titulação das terras das comunidades quilombolas, ambos assegurados na Constituição de 1988. Nesse sentido, discute como essa dívida histórica se acumulou desde a abolição, a qual não veio atrelada a qualquer medida destinada a amparar e reparar os escravizados e seus descendentes. Ao contrário disso, o que houve foi um pacto de silêncio responsável por ocultar o processo de marginalização daquela parcela da população. A mudança foi inaugurada justamente pela Constituição de 1988, costurada após uma ditadura civil-militar, pautada para lembrar que a negativa de direitos básicos não era novidade e precisava ser tematizada. Sendo assim, diante dessa demanda por muito tempo suprimida, apesar das disposições constitucionais, o trabalho analisa como a resistência continua e dificulta a luta pelo acesso a direitos básicos para as comunidades quilombolas.

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2021-03-08

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Artigos