A INTERSECCIONALIDADE E A PROTEÇÃO JURÍDICA DAS MULHERES NEGRAS
Uma análise sobre a aplicação jurídica e social da interseccionalidade no Brasil
Schlagworte:
Desigualdade, racionalização, decolonização, opressão, Justiça SocialAbstract
Este artigo analisará as limitações das políticas públicas brasileiras ao não incorporarem uma abordagem interseccional bem como decolonial, essenciais para atender às necessidades específicas de mulheres negras e periféricas. Com foco em programas como o Bolsa Família, a pesquisa investigará como a ausência dessa perspectiva limita a eficácia das políticas em enfrentar as desigualdades estruturais de raça, gênero e classe. A partir de uma análise crítica, fundamentada em teorias de interseccionalidade e decolonialidade, o estudo identifica que essas políticas, embora relevantes para a redução da pobreza extrema, perpetuam barreiras estruturais ao ignorarem dinâmicas de opressão que afetam desproporcionalmente as mulheres racializadas. Os resultados indicarão que as políticas atuais reforçam a marginalização de grupos historicamente excluídos, uma vez que desconsideram o trabalho reprodutivo não remunerado e o confinamento de mulheres negras em ocupações precárias e informais. Este trabalho sugerirá, como recomendação, a implementação de capacitação profissional voltada para a integração de dados desagregados e a análise de impactos interseccionais no desenvolvimento de políticas públicas. Além disso, apontará para a urgência de uma revisão estrutural nas políticas para que contemplem uma visão decolonial, promovendo uma atuação efetiva e inclusiva. Com isso, conclui-se que a aplicação de uma abordagem interseccional e decolonial é fundamental para criar políticas públicas mais justas e capazes de combater as desigualdades de forma ampla, realidades sociais e históricas do Brasil.
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