AS CIÊNCIAS DAS CRENÇAS E AS CRENÇAS NAS CIÊNCIAS: simetrização e posicionamento etnográfico em uma pesquisa sobre seres ‘não-humanos’ no(s) candomblé(s)

Autores

  • Thomás Antônio Burneiko Meira Universidade Estadual de Maringá (UEM); Universidade Federal Fluminense (UFF).

Resumo

Nas últimas décadas, com os experimentos “simetrizantes”, diversos estudos antropológicos têm se voltado aos sistemas de conhecimento nativos, sobretudo, para alçá-los ao mesmo status de legitimidade das ciências formais e, assim, desestabilizar as relações de força entre ambos. Alinhado a essa tendência, este artigo remete a uma pesquisa acerca das chamadas agências não-humanas em um terreiro de candomblé na metrópole paulistana, realizada sob a referência de um iniciado. A partir desse norte, pretendo, primeiramente, revisar as abordagens clássicas sobre essa religião, que, em seu conjunto, parecem reduzir os cosmos vivenciados pelos candomblecistas aos pressupostos das “crenças”, “representações” e “ideologias” humanas, para, depois, contrapô-las a inspirações teóricas mais recentes, que ao considerar os agenciamentos aqui em pauta, em si próprios, como plenamente legítimos, assumem potencial desestabilizador. Finalmente, com base nesse percurso, intento levantar algumas questões acerca da validade e relevância dos etnógrafos-nativos, ou dos nativos-etnógrafos, para os movimentos de simetrização.

Biografia do Autor

Thomás Antônio Burneiko Meira, Universidade Estadual de Maringá (UEM); Universidade Federal Fluminense (UFF).

Professor Assistente do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Maringá (DCS/ UEM) e doutorando em Antropologia pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal Fluminense (PPGA/ UFF).

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Publicado

2016-06-20