Os casarões do centro histórico de João Pessoa

tempo, memória e antropologia visual

Autores/as

Palabras clave:

patrimônio cultural, revitalização, centro histórico, urbanização, sociabilidade

Resumen

Este ensaio fotoetnográfico analisa os casarões do centro histórico de João Pessoa, capital paraibana. Leva em conta a prática de colorir os casarões antigos e a produção de imagens fotográficas no sentido de criar subsídios para discutir o tempo e memória do centro histórico da cidade. A justificativa principal para a realização desse estudo se deu ao perceber a repercussão positiva sobre os casarões coloridos como forma de revitalização tanto dos casarões quanto dos espaços locais sendo representada Villa Sanhauá. Ao serem revitalizados pela gestão pública e entregue a população da cidade, assim, ao passo em que as pessoas visitavam fotografavam e postavam em telejornais e redes sociais, nelas despertando pertencimento e identidades. Do mesmo modo, a localidade passou a ser socialmente transitada, bem como do uso de casarões para fins culturais e comerciais oportunizando a maior sociabilidade do centro histórico.

O percurso metodológico seguiu de revisão bibliográfica, observação participante, produção de imagens fotográficas acompanhadas de descrições o que equivale à prática da fotoetnografia (Achutti, 1997). Amparado na Antropologia Visual identifica configurações no exercício científico de um modo de ver (Berger, 1972). Considerou o “processo histórico entre fotografia e antropologia na prática etnográfica e de investigação antropológica” (Caiuby Novais, 2012: 12) como também contempla a noção de tempo e de memória (Barbosa, 2016) “no exercício da imaginação antropológica e sociológica” (Martins, 2008: 11) visto que “ao fazer usos da fotografia em antropologia as imagens podem ser produzidas para ver, observar, registrar, descrever, fazer pensar, investigar, pesquisar” tal realidade social e cultural (Samain, 2005: 118).

Quanto ao trabalho antropológico com imagens fotográficas, Caiuby Novais (2012: 12), a fotografia acompanha os antropólogos em suas pesquisas de campo desde que foi inventada, em meados do século XIX, “Boas já trabalhara com ela em 1883/1886 e 1902 onde pesquisou na Columbia Britânica e na ilha de Vancouver no Canadá, no norte da costa do Pacífico”. Já Samain (1995: 37) destaca os usos de fotografias por Malinowski “resultantes de observação participante e de descrições etnográficas” considerando um olhar antropológico mais abrangente.

Outra referência é a obra Balinese Character: a photographic analysis de Margaret Mead e Gregory Bateson (1942), uma pesquisa considerada pioneira onde relaciona o verbal e o visual na pesquisa de campo e que defende uma então Antropologia Visual, nela, objetivaram nos mostrar que as fotografias são demonstrações de como os vários hábitos dos balineses formam seu caráter. Portanto, ao considerar a história da fotografia na prática da antropologia resultou na disciplina Antropologia Visual e suas formas de abordagens teóricas e metodológicas criando possibilidades investigativas sobre expressões socioculturais por meio de fotografia, etnografia e observação participante.

Pensando na presente proposta de estudo sobre os casarões do centro histórico de João Pessoa, ao serem fotografados e repensados no campo da antropologia não difere da prática antropológica constituída ao longo do tempo, pois consiste em despertar inúmeras possibilidades investigativas no sentido de permitir problematizar o que foi fotografado e de considerar a prática de colorir os casarões enquanto revitalização permitindo a construção de novas sociabilidades na localidade e enquanto dispositivos de tempo e memória em sociedade (Moreira Leite, 1997).

A escolha do lugar foi sobretudo por ser um centro histórico cultural ribeirinho que deu origem a cidade metropolitana da capital. A captação dessas imagens se deu na tarde do dia 30 de janeiro de 2020 fazendo uso de câmera fotográfica de um aparelho celular LG K10, percorrendo as avenidas mais transitadas pelo comércio, transporte coletivo e turistas prezando pela observação dos espaços, atenção a luz solar, foco e posição da câmera para que registrasse os potenciais arquitetônicos e qualidade das cores (Berger, 1972).

Já a triagem de cada imagem se deu em programa Word, também foram realizadas correções e ajustes no contraste e brilho nas fotografias pelo programa de edição de imagem Adobe Photoshop seguida de análise qualitativa do registro imagético que melhor resultou sua “representatividade visual”, ao passo que possibilitou identificar e avaliar o cenário fotografado criando subsídios de acionamento de tempo, espaço e memória.

Enfim, ao fotografar o centro histórico cultural conclui-se que a prática de colorir os casarões antigos está atrelada também ao exercício econômico, neles colocando em primeiro plano as cores no seu processo de revitalização e valorização desses espaços e da arquitetura criando estéticas, se tornando mais sociais e culturais reinserindo-os no processo de vivê-los no dia a dia permeados de memórias ao longo do tempo no sentido de tornar este passado vivo dentro da cidade. Por fim, este estudo vem permitindo ampliar as análises e reflexões acerca do trabalho antropológico e contribui para identificar as dinâmicas que envolve os centros históricos das cidades.

Biografía del autor/a

Givanilton de Araújo, Universidade Federal da Paraíba

Mestre em Antropologia Social pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

Citas

ACHUTTI, Luiz Eduardo Robinson. 1997. Fotoetnografia: um Estudo de Antropologia Visual sobre o Cotidiano, Lixo e Trabalho. Porto Alegre: Palmarinca.

BERGER, John. 1972. A vista chega antes das palavras. In.: Modos de ver. Arte e comunicação. Lisboa: Edições 70.

BARBOSA, Andrea. 2016. Fotografia, narrativa e experiência. In. BARBOSA, Andrea et al. A experiência da Imagem na etnografia. São Paulo: Terceiro Nome.

MEAD, Margaret and BATESON, Gregory. 1942. Balinese Character. A Photographic Analysis, Special Publications of New York Academy of Sciences, vol. 2.

MOREIRA LEITE, Miriam Lifchitz. 1997. Imagem e Memória. Resgate, Campinas, Centro de memória Un, v. 8, p. 9-16.

MARTINS, José de Souza. 2008. "Introdução"; "A fotografia e a vida cotidiana: ocultações e revelações", cap. 1. In. MARTINS, José de Souza. Sociologia da fotografia e da imagem. São Paulo: Contexto.

NOVAES, Sylvia Caiuby. 2012. A construção de imagens na pesquisa de campo em Antropologia. Iluminuras (Porto Alegre), v. p. 11-29.

NAKAÓKA, Alex. NOVAES, Sylivia Caiuby (org.). 2016. Entre arte e ciência: a fotografia na antropologia. São Paulo: EDUSP, 2015. Cadernos de campo, São Paulo, n. 25, p. 462-468.

SAMAIN, Etienne. 2005. Antropologia visual e fotografia no Brasil: vinte anos e muito mais. Cadernos de Antropologia e Imagem, Rio de Janeiro, 21(2) pp. 115-132.

SAMAIN, Etienne. 1995. Ver e dizer na tradição etnográfica: Bronislaw Malinonowski e a fotografia. Horizontes Antropológicos, Ano 1, Número 2, p. 19-48.

Publicado

2025-07-02

Número

Sección

Ensaio Visual