Os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos: inversões e contestações entre os grupos Yuhupdëh no Noroeste Amazônico.

Autores

DOI:

https://doi.org/10.51359/2525-5223.2022.253480

Palavras-chave:

organização social, Noroeste Amazônico, hierarquia, igualitarismo, índios do rio, índios do mato

Resumo

O artigo pretende revisar a dualidade índio do mato e índio do rio atribuída ao sistema social da região do Alto Rio Negro, a partir da posição dos Yuhupdëh, comumente referidos como Makú e índios do mato. Para tanto, será problematizada a distinção de duas figuras sociais que emergem dessa dualidade na qual, de um lado, encontra-se o hierárquico, o sedentário, o rígido, o fechado, o exogâmico, o horticultor, o ‘civilizado’; e de outro, o igualitário, o nômade, o fluido, o aberto, o endogâmico, o caçador, o ‘primitivo’. O experimento desse artigo é tratar a questão da hierarquia e da igualdade que subjaz à distinção índio do mato e índio do rio a partir de dois deslocamentos. O primeiro deslocamento consiste em examinar o problema da hierarquia e da igualdade a partir da perspectiva específica de alguns grupos yuhupdëh. O segundo deslocamento consiste em analisar e revisitar criticamente o modelo da teoria da dominação pressuposta na relação assimétrica entre os grupos yuhupdëh.

Biografia do Autor

Pedro Lolli, Universidade Federal de São Carlos

Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). Programa de Pós-Graduação em Antropologia

Referências

ANDRELLO, Geraldo. 2019. “De irmãos e cunhados. Formas da diferença no Uaupés (noroeste amazônico). In CALAVIA, O. (ed.): A través del reflejo. Ensayos etnográficos en las Tierras Bajas de América del Sur. pp.: 245-286. Madrid: Nola Editores.

ANDRELLO, Geraldo. 2016. “Nomes, Posições e (Contra) Hierarquia. Coletivos em Transformação no alto rio Negro”. Ilha - Revista de Antropologia, 18(2):57-97.

ANDRELLO, Geraldo. 2015. “Cultura ou Parentesco. Reflexões sobre a História Recente do alto rio Negro”. R@U (Revista de Antropologia Social dos Alunos do PPGAS-UFSCAR), 6(1): 175-189.

ANDRELLO, Geraldo. 2010. “Escravos, descidos e civilizados: Índios e brancos na história do rio Negro”. Revista Estudos Amazônicos, 5(1):107-144.

ANDRELLO, Geraldo. 2006. Cidade do Índio: Transformações e Cotidiano em Iauaretê. São Paulo/ Rio de Janeiro: Editora UNESP, ISA, NUTI.

ANDRELLO, G., GUERREIRO JR. A. & HUGH-JONES, S. 2015. “Space-time transformations in the Upper Xingu and Upper Rio Negro.” Sociologia & Antropologia, 5(3):699-724.

ÅRHEM, Kaj. 1981. Makuna Social Organization. Stockholm: Almqvist&Wiksell.

ATHIAS, Renato. 2008. Hupdah-Maku/Tukano: les Rélations Inègales entre Deux Societés du Uaupés Amazonien (Brésil). Tese de Doutorado. Nanterre: Université de Paris X.

BARRETO, João Paulo. 2018. Waimahsã: Peixes e Humanos. Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas.

BECERRA, Gabriel et al. 1996/1997. “Los Maku del Noroeste Amazônico”. Revista Colombiana de Antropología, 33(1):85-132.

BIDOU, Patrice. 1976. Les Fils de l’Anaconda Céleste (les Tatuyo): Étude de la Structure Sociopolitique. Tese de Doutorado Paris: Universidade de Paris.

BONILLA, Oiara. 2005. “O bom patrão e o inimigo voraz: Predação e comércio na cosmologia Paumari”. Mana, 11(1):41-66.

BONILLA, Oiara. 2007. Des Proies si désirables: Soumission et prédation pour les Paumari d’Amazonie Brésilienne. Tese de Doutorado. Paris: Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales.

BONILLA, Oiara. 2013. “Be my boss! Comments on South African and Amerindian forms of subjection”. Journal of the Royal Anthropological Institute, 19(2):246-47.

BONILLA, Oiara. 2016. Parasitism and Subjection: Modes of Paumari Predation”. In BRIGHTMAN, M., FAUSTO, C. & GROTTI, V. (eds.): Ownership and nurture: Studies in native Amazonian property relations, pp.: 110-132. New York, Oxford: Berghahn Books.

BRIGHTMAN, M., FAUSTO, C. & GROTTI, V. (eds.): Ownership and Nurture: Studies in Native Amazonian Property Relations. New York, Oxford: Berghahn Books.

CABALZAR, Aloísio. 2008. Filhos da Cobra de Pedra: Organização Social e Trajetórias Tuyuka no rio Tiquié (Nororeste Amazônico). São Paulo/Rio de Janeiro: Editora UNESP, ISA, NUTI.

CAYÓN, Luis. 2020. “Disputas fraternas e chefia Bicéfala: Hierarquia e heterarquia no Alto Rio Negro”. Revista de Antropologia, 63(2):1-27

CHERNELA, Janet. 1993. The Wanano Indians of the Brazilian Amazon: A Sense of Space. Austin: University of Texas Press.

CHERNELA, Janet. 1983. Hierarchy and Economy Among the Uanano (Kotiria): Speaking People of the Middle Uaupés basin. Tese de Doutorado. New York: Columbia University.

COSTA, Luis. 2016. “Fabricating necessity: Feeding and commensality in Western Amazonia”. In BRIGHTMAN, M., FAUSTO, C. & GROTTI, V. (eds.): Ownership and nurture: Studies in native Amazonian property relations, pp.: 81-109. New York, Oxford: Berghahn Books.

COSTA, Luis. 2012. “Making animals into food among the Kanamari of Western Amazonia”. In BRIGHTMAN, M., GROTTI, V. & ULTURGASHEVA, O. (eds.): Animism in rainforest and Tundra: Personhood, animals, plants and things in contemporary Amazonia and Siberia, pp.: 96-112. Oxford: Berghahn Books.

COSTA, Luis. 2010. “The Kanamari body-owner: Predation and feeding in Western Amazonia”. Journal de la Société des Américanistes, 96(1):169-92.

CRUMLEY, Carole L. 1995. “Heterarchy and the analysis of complex societies”. In CRUMLEY, C., LEVY, J. & ROBERT, M. (eds.): Heterarchy and the analysis of complex societies, pp.: 1-5. Archaeological papers of the American Anthropological Association 6.

CRUMLEY, Carole L. 1987. “A Dialectical critique of hierarchy”. In GAILEY, C. & PATTERSON, T. (eds.): Power relations and state formation, pp.: 155-169. Washington D.C.: Archaeology Section/American Anthropological Association.

DRAGO, André. 2012. Formas políticas ameríndias: os Jê. Dissertação de Mestrado. São Paulo: Universidade de São Paulo.

EPPS, P. & BOLAÑOS, K. 2017. “Reconsidering the ‘Makú’ family of northwest Amazonia.” International Journal of American Linguistics, 83(3):467-507.

FAUSTO, C. 2008. “Donos demais: propriedade e maestria na Amazônia”. Mana, 14(2):329-66.

GALVÃO, Eduardo. 1979. “Áreas culturais indígenas do Brasil: 1900-1959”. In GALVÃO, E. (ed.): Encontro de sociedades: índios e brancos no Brasil, pp.: 193-228. Rio de Janeiro: Paz & Terra.

GIACONE, Padre Antônio. 1949. Os Tucanos e outras Tribus do Rio Uaupés Afluente do Negro Amazonas. São Paulo: Imprensa Oficial.

GOLDMAN, Irving. 1963. The Cubeo: Indians of the Northwest Amazon. Urbana: Univ. of Illinois Press.

GOLDMAN, Irving. 1948. “Tribes of the Uaupés-Caquetá Region.” In STEWARD, J. (ed.): Handbook of South American Indians - volume 3: The tropical forest tribes, pp.; 763-798. Washington: Smithsonian Institution Press.

GOW, Peter. 1991. Of Mixed Blood: Kinship and History in Peruvian Amazonia. Oxford: Clarendon Press.

GROTTI, V. 2013. “The Wealth of the body: Trade relations, objects, and personhood in Northeastern Amazonia”. Journal of Latin American and Caribbean Anthropology, 18(1):14-30

JACKSON, Jean. 1983. The Fish People: Linguistic Exogamy and Tukanoan Identity in Northwest Amazonia. Cambridge: Cambridge University Press.

JUNIO FELIPE, Henrique. 2018. Falas, lugares e transformação: os yuhupdeh do baixo rio Tiquié. Tese de Doutorado. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos.

HUGH-JONES, Christine. 1979. From the Milk River. Cambridge: Cambridge University Press.

HUGH-JONES, S. 2012. “Escrever na pedra, escrever no papel.” In ANDRELLO, G. (ed.): Rotas de Criação e Transformação, pp.: 138-167. São Gabriel da Cachoeira/São Paulo: ISA/FOIRN.

HUGH-JONES, S. 1988. “The Gun and the Bow Myths of White Men and Indians.” L’Homme, 28(106-107):138-155.

HUGH-JONES, S. 1981. “Historia del Vaupés.” Maguaré, 1(**):29-51.

HUGH-JONES, S. 1979. The Palm and the Pleiades: Initiation and Cosmology in Northwest Amazonia. Cambridge: Cambridge University Press.

KOCH-GRÜNBERG, Theodor. 2005. Dois anos entre os indígenas: Viagens ao noroeste do Brasil (1903-1905). Manaus: EDUA/FSDB.

LIMA, Tânia S. 2015. Um Peixe olhou para mim: O povo Yudjá e a perspectiva. Rio de Janeiro/ São Paulo: NuTI/ISA/ Editora Unesp.

LOLLI, Pedro. 2016. “A Plasticidade Maku.” Ilha, 18(2):177-198.

LOLLI, Pedro. 2011. “Os Yuhupdeh vistos de outro lugar.” In LIMA, E. & CÓRDOBA, L. (eds.): Os Outros dos outros: Relações de alteridade na etnologia Sul-Americana, pp.: 169-181. Curitiba: Editora Universidade Federal do Paraná.

LOLLI, Pedro. 2010. As Redes de Trocas Rituais dos Yuhupdëh no igarapé Castanha, através dos Benzimentos (mihdɨɨd) e das Flautas Jurupari (Tí’). Tese de Doutorado. São Paulo: USP.

MAIA, Arlindo e ANDRELLO, Geraldo. 2019. “Ye’pâ-Di’iro-Mahsã, gente de carne da terra: os Tukano do rio Vaupés”. Mundo Amazónico, 10(1):53-81.

MARQUES, Bruno. 2015. Os Hupd’äh e seus mundos possíveis: transformações espaço temporais do Alto Rio Negro. Tese de Doutorado. Rio de Janeiro: UFRJ.

MARQUES, Bruno. 2009. Figuras do Movimento: os Hupda na Literatura Etnológica do Alto Rio Negro. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: UFRJ.

MARQUES, B. & RAMOS, D. 2019. “Dissoluções necessárias: a Perspectiva dos Hupd’äh nas relações do ‘sistema regional do alto rio Negro’”. Espaço Ameríndio, 13(2):104-131.

MCEWAN, C., BARRETO, C. & NEVES, E. (eds.). 2001. Unknown Amazon: Culture in Nature in Ancient Brazil. London: British Museum Press.

MEIRA, Márcio. 2018. A Persistência do Aviamento: Colonialismo e História Indígena no Noroeste Amazônico. São Carlos: EdUFSCar.

OSPINA, Ana Maria. 2002. Les Structures Élémentaires du Yuhup Makú: Langue de l’Amazonie Colombienne: Morphologie et Syntaxe. Tese de Doutorado. Paris: Université de Paris VII.

PEDROSO, Diego. 2013. Quem veio primeiro? Imagens da hierarquia no Uaupés (Noroeste Amazônico). Dissertação Mestrado. São Paulo: Universidade de São Paulo.

PERRONE-MOISÉS, B. 2011. “Bons Chefes, Maus Chefes, Chefões: Elementos de Filosofia Política Ameríndia”. Revista de Antropologia, 54(2):857-883.

PERRONE-MOISÉS, B. 2006. Notas sobre uma Certa Confederação Guianense. Comunicação “Colóquio Guiana Ameríndia: História e Etnologia”, Belém (in Academia.edu).

PERRONE-MOISÉS, B. & SZTUTMAN, R. 2010. “Notícias de uma certa Confederação Tamoio.” Mana, 16(2):401-433.

PERRONE-MOISÉS, B., SZTUTMAN, R. & CARDOSO, S. 2012. “Apresentação Dossiê Pensar com Pierre Clastres”. Revista de Antropologia, 54(2): 555-556.

POLITIS, Gustavo. 2007. Nukak: Ethnoarchaeology of an Amazonian People. Califórnia: University College London Institute of Archaeology Publications.

PORRO, A. 1996. O Povo das Águas. Ensaios de Etno-história Amazônica. Petrópolis: Vozes.

PORRO, A. 1993. As Crônicas do Rio Amazonas: Tradução, Introdução e Notas Etnohistóricas sobre as Antigas Populações Indígenas da Amazônia. Manaus: Edua.

PORRO, A. 1992. “História Indígena do Alto e Médio Amazonas: Séculos XVI a XVIII.” In CUNHA, M. (ed.): História dos Índios no Brasil, pp.: 175-196. São Paulo: Companhia das Letras.

POZZOBON, Jorge. 2011. Sociedade e improviso: Estudo sobre a (des)estrutura social dos índios Maku. Rio de Janeiro: Museu do Índio.

POZZOBON, Jorge. 1991. Parente et Démographie chez les Indiens Maku. Tese de Doutorado. Paris: Université de Paris VII.

POZZOBON, Jorge. 1983. Isolamento e Endogamia: Observações sobre a Organização Social dos Índios Maku. Dissertação de Mestrado. Porto Alegre: UFRGS.

RAMOS, Alcida (ed.). 1980. Hierarquia e simbiose: Relações intertribais no Brasil. São Paulo: Hucitec.

RAMOS, Danilo. 2018. Círculos de coca e fumaça: Encontros noturnos e caminhos vividos pelos Hupd’äh. São Paulo: Hedra.

REICHEL-DOLMATOFF, Gerardo. 1971. Amazonian Cosmos: The sexual and Religious Symbolism of the Tukano Indians. Chicago: University of Chicago Press.

REID, Howard. 1979. Some Aspects of Movement, Growth, and Change among the Hupdü Makú Indians of Brazil. Tese de Doutorado. Cambridge: Cambridge University.

RENARD-CASEVITZ, F. 1992. “História Kampa, Memória Ashaninka.” In CUNHA, M. (ed.): História dos Índios no Brasil, pp.: 197-212. São Paulo: Companhia das Letras.

REZENDE BARRETO, Rivelino. 2018. Formação e Transformação de Coletivos Indígenas do Noroeste Amazônico. Manaus: EDUA.

RIO, K. M. & SMEDAL, O. H. (eds.). 2009. Hierarchy: Persistence and Transformation in Social Formations. New York/Oxford: Bergham Books.

ROOSEVELT, A. 1994. “Amazonian anthropology: Strategy for a new synthesis.” In ROOSEVELT, A. (ed.): Amazonian Indians from prehistory to the present: Anthropological perspectives, pp.: 1-29. Tucson: University of Arizona Press.

ROOSEVELT, A. 1992. “Arqueologia Amazônica.” In CUNHA, M. (ed.): História dos Índios no Brasil, p.53-86. São Paulo: Companhia das Letras.

ROOSEVELT, A. 1991. Moundbuilders of the Amazon: Geophysical Archaeology on Marajo Island, Brazil. San Diego: Academic Press.

SAHLINS, Marshall. 2008. The Western Illusion of Human Nature. Chicago: Prickly Paradigm Press.

SANTOS-GRANERO, Fernando. 2016. “Masters, slaves and real people: Native understandings of ownership and humanness in tropical American capturing societies.” In BRIGHTMAN, M., FAUSTO, C. & GROTTI, V. (eds.): Ownership and nurture: Studies in Native Amazonian Property Relations, pp.: 36-62. New York, Oxford: Berghahn Books.

SILVA, C & SILVA, E. 2010. A Língua dos Yuhupdeh. São Gabriel da Cachoeira (AM): PRÓ-AMAZONIA & AECIP.

SILVERWOOD-COPE, Peter. 1990. Os Makú: Povo caçador do Noroeste da Amazônia. Brasília: UnB.

SORENSEN, A. P. 1967. “Multilingualism in the Northwest Amazon.” American Anthropologist, 69(6):670-682.

STEWARD, J. H. (ed.). 1946. Handbook of South American Indians – volume 2: The Andean civilizations. Washington: Smithsonian Institution Press.

STEWARD, J. H. & Faron, L. 1959. Native Peoples of South America. New York: McGraw-Hill.

SZTUTMAN, Renato. 2012. O Profeta e o Principal. São Paulo: Edusp.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2002. “Atualização e contra-efetuação: o Processo do parentesco”. In VIVEIROS DE CASTRO, E.: A Inconstância da Alma Selvagem, pp.: 401-456. São Paulo: Cosac & Naify.

WRIGHT, Robin. 1998. Cosmos, self and history in Baniwa religion: For those unborn. Austin, Texas: University of Texas Press.

Downloads

Publicado

2023-07-10

Edição

Seção

Dossiê