É O QUE GUARDO DELE.
DOI :
https://doi.org/10.51359/2526-3781.2018.231308Mots-clés :
Chacina, Memória, Objetos, Violência urbana.Résumé
Em Belém do Pará, no dia 4 de novembro de 2014, o policial militar afastado Antônio Marco da Silva Figueiredo, conhecido por Cabo Pet, líder de um grupo de milícias, foi assassinado perto de sua casa, no bairro do Guamá, alvejado com 30 tiros. Logo após sua morte, circularam mensagens nas redes sociais, de membros de seu grupo, ordenando um urgente toque de recolher. As mensagens falavam sobre vingança à morte do Cabo e assustaram a cidade. Repartições públicas, escolas, comércio, fecharam as portas mais cedo. A violência começou na noite do dia 4 e se estendeu entre até a manhã do dia 5. Pessoas encapuzadas em motos e carros de cor preta atiravam indiscriminadamente matando 10 jovens, moradores dos bairros da periferia. Rapidamente a imprensa local enquadram as mortes como acerto de contas ou ao tráfico de drogas, transformando as vítimas em bandidos.
A repercussão da tragédia, aliada à pressão dos movimentos sociais articulados com as famílias das vítimas, provocou a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar o caso, a CPI das Milícias, cujo relatório final, atesta, em nome do Estado, pela primeira vez, a existência de grupos de milícias no Pará e sua atuação contundente nos bairros mais pobres da capital. A CPI reconhece ainda que, ao contrário do que havia sido propalado pela imprensa, nenhum dos jovens assassinados tinha antecedentes criminais, tampouco envolvimento com a morte do Cabo Pet.
As famílias das vítimas selecionam, descartam, guardam e produzem objetos que são patrimônios familiares e também peças que atestam a inocência, a boa índole e o sucesso da família em formar vidas passiveis de luto. A pesquisa para o documentário se interessou pelas representações e sentidos a eles atribuídos, bem como pelas motivações, sentimentos e intuitos por trás do ato de transformá-los em objetos expositivos, dispostos em quartos e outros cômodos da casa, ou do ato de salvaguardá-los em armários e gavetas, como acervos de acesso restrito aos parentes. Por conseguinte, pelo movimento contínuo de seleção, manutenção, manuseio e ressignificações desses objetos, numa perspectiva de musealização particular que tangencia enlutamento, privacidade e intimidade.
A Chacina de Belém é um emblema do movimento deliberado de extermínio da juventude da periferia e da atuação de grupos de milícias na capital paraense. O documentário registra as narrativas de quatro das dez famílias vítimas da tragédia. A partir da pergunta “o que você guarda dele?”, atentamos para as narrativas acerca da Chacina e para os processos de musealização particular ativados pelo evento crítico, encontramos, inadvertidamente, a conexão entre os acervos familiares (patrimônios afetivos) e a realidade social, além de histórias de vida que são, ao mesmo tempo, retratos do fracasso da experiência urbana e do estado de bem-estar social. O documentário é um dos resultados do projeto de pesquisa desenvolvido pelo professor Dr. Hugo Menezes Neto (UFPE), intitulado “Patrimônios afetivos e acervos familiares: olhares antropo-museológicos sobre a relação entre morte, memória e objetos”, apoiado pela PROPESP/UFPA, em parceria com o Núcleo de Experimentação Cinematográfica (NEC) do curso de Cinema/UFPA, coordenado pela Professora Drª Iomana Rocha.
Ficha técnica:
Direção:Hugo Menezes, Iomana Rocha, Hugo Menezes Neto, Moyses Cavalcante, Artur Tadaiesky, Felipe Mendonça, Marcio Crux.
Produção: Iomana Rocha, Hugo Menezes e Andrey Leão
Assistente de direção: Maurício Moraes, Fillipe Rodrigues, Lays Portela, Edson Palheta, Eder Monteiro e Thamires Rafael
Fotografia: Moyses Cavalcante, Artur Tadaiesky, Felipe Mendonça, Marcio Crux, Fillipe Rodrigues, Lays Portela, Edson Palheta, Eder Monteiro e Thamires Rafael
Som: Guga S. Rocha, Felipe Mendonça, Thamires Rafael
Edição: Moyses Cavalcanti, Felipe Mendonça, Fillipe Rodrigues, Márcio Crux e Lays Portela
Pesquisa: Hugo Menezes e Andrey Leão

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© AntHropológicas Visual - ISSN: 2526-3781 2018

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