Maracatu-nação e (ex)posição no espaço público: uma interpretação geográfica sobre patrimônio imaterial e identidade religiosa a partir da coroação de rei e rainha da nação Encanto da Alegria (Recife-PE, 2022)
DOI :
https://doi.org/10.51359/2238-6211.2024.264216Mots-clés :
Maracatu-Nação, patrimônio imaterial, (ex)posição no espaço público, trabalho de campoRésumé
Este trabalho integra uma tese (em construção) e investiga a espacialidade do Maracatu-Nação, patrimônio imaterial brasileiro, no momento de retomada dos espaços públicos pós-pandemia de coronavírus. A questão central da pesquisa é: qual(ais) a(s) significação(ções) da coroação do maracatu-nação Encanto da Alegria realizada em 2022, considerando a sua espacialidade? O objetivo central é interpretar, geograficamente, a estratégia de coroação pública do Encanto da Alegria, fornecendo ferramentas metodológicas para sua leitura espacial, bem como de outras prática(s) cultural(ais) e/ou religiosa(s), a partir das categorias de ponto de vista, posição espacial, exposição espacial e composição espacial propostas por Gomes (2013). Os dados provém de trabalho de campo, entrevistas com detentores do patrimônio e do diálogo com bibliografia específica. A ocupação do espaço público é uma das estratégias dos maracatus, durante as coroações, em busca de legitimidade, distinção e projeção através da afirmação de suas identidades culturais e étnico-religiosas. Constatou-se a continuidade das dimensões política e religiosa da cerimônia pública de coroação de rei e rainha (Guillen, 2007), além do papel aglutinador/comunitário neste evento promovido pela nação Encanto da Alegria, permitindo afirmar que a perspectiva espacial pode ser não somente uma das ferramentas de compreensão, mas também de ativação dos patrimônios imateriais.
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