O rap de intervenção social em Maputo, Moçambique

Autores

  • Luca Bussotti Centro de Estudos Internacionais – Instituto Universitário de Lisboa (CEI-IUL)
  • Julio Chinguai Universidade Eduardo Mondlane

DOI:

https://doi.org/10.51359/2317-5427.2020.248001

Palavras-chave:

engajamento, história, indústria cultural, controlo polítical

Resumo

Assim como em muitos outros países, em Moçambique também o rap foi introduzido como fruto de importação dos Estados Unidos, por volta dos anos 1980, para depois tornar-se género musical com conteúdos originais e com impacto considerável junto, sobretudo, às camadas juvenis urbanizadas. A partir de 2002-2003, o rap moçambicano assumiu duas tendências claramente distintas, uma – minoritária em termos de artistas que a praticam, mas de maior significado artístico e social – comprometida e que conseguiu desenvolver uma contundente crítica política; a outra, mais virada para assuntos comerciais e de fácil fruição. Mediante uma reconstrução histórica baseada, essencialmente, em fontes orais e, uma segunda parte, centrada em entrevistas e na análise do discurso de algumas canções de rappers moçambicanos engajados, o artigo aqui apresentado pretende analisar como é que este género musical se difundiu na cidade de Maputo e quais as suas tendências atuais. Como base teórica para sustentar este estudo foi escolhida a teoria da indústria cultural de Adorno, complementada pela reinterpretação de Peterson e Berger, associada às formas de controlo que regimes a democracia limitada, tais como o moçambicano, exercem na liberdade de expressão, inclusivamente na esfera artística.

Biografia do Autor

Luca Bussotti, Centro de Estudos Internacionais – Instituto Universitário de Lisboa (CEI-IUL)

Possui doutorado - Universitá di Pisa (2001). Atualmente é Professor Associado Visitante na Universidade Federal de Pernambuco e Investigador no CEI-ISCTE IUL, Lisboa. Foi Diretor da Pós-Graduação da UDM e Coordenador do Curso de Doutorado em Paz, Democracia, Movimentos Sociais e Desenvolvimento Económico da UDM (Maputo-Moçambique, 2016-2018), Investigador Sénior no CEC (Maputo-Moçambique), Professor Convidado pela Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane (Maputo-Moçambique), Diretor da coleção de livros Lusitánica (Turim, LHarmattan Italia), Country-Expert Moçambiqque no Programa V-DEM (Universidade de Gotemburgo). Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em Sociologia do Desenvolvimento, nos Estudos Africanos e nos Estudos Interculturais.

 

Julio Chinguai, Universidade Eduardo Mondlane

Professor na Escola de Comunicação e Artes da Universidade Eduardo Mondlane, Moçambique.

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Publicado

21-08-2020